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A Estátua do Príncipe Regente
A Estátua do Príncipe Regente
no Hospital da Marinha
no Hospital da Marinha
uando da elaboração do artigo “Está-
tua do Príncipe Regente D. João” na
Qsecção – “Património Cultural – Pe-
ças Para Recordar”, inserido no n.º 319/Abril Foto de António Sacchetti
de 1999 da Revista da Armada, o seu autor
CALM MN Rui de Abreu pôs a questão de se
desconhecer a data em que aquela escultura ti-
nha sido colocada no Hospital da Marinha.
Tomei então pessoalmente conta do assun-
to, consultando os escritos que haviam sido
já publicados sobre o tema, desde Histórias
de Arte, designadamente de Escultura, pas-
sando pela biografia do autor da obra, escul-
tor João José de Aguiar e não tendo chegado
a qualquer conclusão, já que as datas entre-
tanto estabelecidas não estavam devidamente
fundamentadas, resolvi recorrer ao Arquivo
Central da Marinha.
Assim, solicitei à responsável pelo Arquivo
Histórico, Dr.ª Isabel Beato, para proceder a
uma investigação no sentido de se poder es-
clarecer definitivamente o assunto, tendo-lhe
na ocasião sugerido que a sua pesquisa in-
cluísse os fundos do Hospital de Marinha e
da Fazenda .Confesso que fiz esta tentativa,
sem esperança de obter qualquer resultado,
pois o assunto já tinha sido inúmeras vezes
investigado.
E eis que, passadas que foram cerca de duas
semanas, a Dr.ª Isabel comunicou-me que ti-
nha descoberto uma fonte documental inso-
fismável que apontava a colocação da estátua
do Príncipe Regente no Hospital da Marinha
em 15 de Setembro de 1814.
Consultando a biografia do citado João José
de Aguiar toma-se conhecimento que nasceu
em Belas no ano de 1769. Em 1782 frequentou
a Aula de Desenho da Casa Pia do Castelo em
Lisboa e, beneficiando da protecção do Inten-
dente Geral Pina Manique, é enviado, como
pensionista, para Roma em 1785, onde, insta-
lado no Hospício de Santo António dos Portu-
gueses, trabalha em diversas oficinas, incluin-
do as do grande mestre António Canova.
Em 1794 o Intendente propõe a execução de
um monumento a D. Maria I, o qual depois de
várias peripécias se encontra presentemente,
colocado junto ao Palácio de Queluz. A figura
da Rainha está rodeada por quatro estátuas
representando quatro continentes. Obras no Telheiro da Ajuda, substituindo Ma- May, de seu nome completo Carlos Félix Ge-
Toda a obra escultórica do artista é trans- chado de Castro. raldes May, constata-se ser dirigido ao Minis-
portada em 1802 para Lisboa, ficando instala- O Príncipe Regente assina o decreto para tro d’Estado da Marinha e Guerra, D. Miguel
da na Escola do Castelo e posteriormente en- a construção do Real Hospital da Marinha Pereira Forjaz que era, na época, o Ministro
viada para a Ajuda. Em 1805, já sem o apoio em 1797 e o Hospital começa a funcionar em da Tutela.
de Pina Manique, que entretanto falecera, 1806. Não se sabe quando é feita a encomen- A escultura do Príncipe Regente, tendo sido
João José de Aguiar ingressa no Estaleiro do da da estátua do Príncipe. É necessariamente encomendada a João José de Aguiar foi neces-
novo Palácio da Ajuda por sugestão de Costa uma encomenda de Estado. sariamente executada no estaleiro do Palácio
e Silva, um dos arquitectos do projecto, tendo E agora, observando o documento emana- da Ajuda, onde o artista trabalhava em várias
em consideração a formação italiana do es- do do Arsenal Real da Marinha com a assina- obras para o Palácio. E uma vez acabada a
cultor, que entretanto é nomeado Mestre das tura do seu Inspector interino, CMG Carlos obra, o escultor teria dado conhecimento do
12 ABRIL 2004 U REVISTA DA ARMADA