Page 127 - Revista da Armada
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A “Sagres” e os seus Irmãos
                  A “Sagres” e os seus Irmãos



                                                   3. Mircea



                                                             Antes do início da  sou a Constança. A partir de então as viagens
                                                             guerra o navio apenas  de instrução deixaram de estar circunscritas
                                                             efectuou uma viagem  ao Mar Negro e ao Mediterrâneo Oriental, e o
                                                             de instrução, navegan-  Mircea visitou portos no Norte da Europa, em
                                                             do então nas águas do  África e na América do Norte.
                                                             Mediterrâneo. Duran-  Em 1975 participou nas concentrações de
                                                             te o conflito apenas  veleiros em Londres e Amsterdão e, em 1976,
                                                             os cadetes da Mari-  efectuou a regata, integrada nas comemora-
                                                             nha Romena embar-  ções do Bicentenário dos Estados Unidos, or-
                                                             caram, em pequenas  ganizada pela Sail Training Association.
                                                             viagens de instrução,   Não tendo sido sujeito a grande manuten-
                                                             no Mar Negro.     ção desde 1966, o navio continuou a nave-
                                                               Com uma postura  gar, mas a sua degradação foi-se acentuando.
                                                             inicialmente neutral, a  Em 1990, de acordo com um estudo, eram
                                                             Roménia acabou por  necessários 5 milhões de Euros para efectuar
                                                             se aliar aos alemães,  as reparações que permitiam manter o navio
         O Mircea a navegar à vela.
                                                             em 1941, na guerra  a navegar, em segurança. Face à escassez de
               Mircea (leia-se Mircha) foi proposi-  contra a União Soviética. Por isso, terminado  recursos disponíveis economicamente só se
               tadamente encomendado pelo Reino  o conflito, os Soviéticos ocuparam o país e iça-  tornaria viável se, a exemplo do que foi feito
         O  da Roménia, em 1938. A sua finalida-  ram a sua bandeira a bordo do Mircea. E por  com outros navios-escola dos países de les-
         de era servir como navio-escola, dos alunos  pouco o navio não foi tomado definitivamen-  te, existissem camarotes passíveis de ser alu-
         das marinhas mercante e de guerra, substituin-  te pelos invasores, como presa de guerra. Esta  gados a jovens civis do ocidente. Não sendo
         do o antigo navio com o mesmo nome. Foi  situação só foi evitada, e o navio devolvido ao  este o entendimento das autoridades romenas,
         construído pelos estaleiros da Blöhm & Voss,  governo romeno, num gesto de boa vontade,  o Mircea acabou por ver inviabilizada a sua
         em Hamburgo, de acordo com os planos do  devido ao facto de os comunistas locais terem  reparação e, consequentemente, a sua parti-
         Gorch Fock. Refira-se que o Gorch Fock I e  tomado o poder no país, apoiados pelos Sovi-  cipação no grande evento que foi a Grande
         o Mircea têm menos cerca de 7 metros de  éticos. A República Romena foi proclamada a  Regata Colombo, em 1992.
         comprimento fora-a-fora do que os restantes  30 de Dezembro de 1947.
         quatro navios da classe.             No período compreendido entre 1946 e     Ficha do Horst Mircea
           O assentamento da quilha, do quarto veleiro  1959 os cadetes continuaram a ser os únicos
         da classe Gorch Fock, teve lugar no dia 15 de  utilizadores do navio, para efectuar as suas   Assentamento da quilha   15/4/38
         Abril de 1938. Foi lançado à água, ainda nesse  viagens de instrução. A partir de então a Ma-  Lançamento à água   22/9/38
         ano, no dia 22 de Setembro. Procedeu-se então  rinha Romena reactivou o seu departamento,   Comprimento fora a fora   82,10 m
         à colocação dos mastaréus e restante aparelho,  dedicado à formação dos oficiais da marinha   Comprimento do casco   73,70 m
                                                                                                          12,00 m
                                                                                Boca
         ao acabamento dos seus interiores e foram ins-  mercante, e estes alunos passaram também a   Calado  5,20 m
         talados a bordo os geradores e restantes equi-  fazer no Mircea, as suas viagens de treino. Até   Pontal  7,30 m
         pamentos. A cerimónia de entrega do navio, ao  1965o navio navegou, regularmente, nas águas   Deslocamento máximo   1630 tons

         governo romeno, teve lugar no dia 16 de Janei-  do Mar Negro e do Mediterrâneo Oriental. No   Motor  MAK
         ro de 1939. Pouco depois efectuou a sua pri-  final do ano regressou a Hamburgo, mas não   Potência  1100 hp
         meira viagem, já com a bandeira romena içada,  em viagem de instrução. Nos meses de Janei-  Guarnição  65
         entre Hamburgo e Constança, o grande porto  ro e Fevereiro de 1966 esteve nos estaleiros da   Cadetes  120
         romeno do Mar Negro. Foi aumentado ao efec-  Blöhm & Voss, a fim de ser reparado. Nessa al-  País  Roménia
         tivo da Marinha Romena no dia 14 de Abril.  tura foi substituído o motor original pelo actual,
                                                             com uma potência de   Mais recentemente o navio chegou a estar
                                               Mircea        1.110 hp, que lhe per-  inscrito para a grande concentração de navios
                                             Este foi o segundo   mite atingir uma velo-  que teve lugar em Rouen, em 1999. E até à
                                           navio romeno a utilizar   cidade de 13 nós. Fo-  data prevista para a sua chegada o navio foi
                                           o nome Mircea. O pri-  ram também sondados  esperado em França. Talvez receando que de-
                                           meiro era um brigue,   todos os mastros e re-  vido ao seu mau estado o navio pudesse ser
                                           construído em Inglater-  visto todo o aparelho.  impedido de deixar Rouen, sem antes ser su-
                                           ra, lançado à água em
                                           1882. Isto na sequên-  Uma nova andaina  jeito às devidas reparações, a sua presença no
                                           cia da proclamação   foi então envergada.  evento acabou por não se concretizar.
                                           do Reino da Roménia,   Por forma a melhorar   As últimas informações que obtivemos da-
                                           no ano anterior, pondo   o navio, em termos  vam-nos conta de que em 2002 o Mircea havia
                                           fim à ocupação do país   de segurança, foram  finalmente sido sujeito a uma grande reparação,
                                           pelos Turcos. Em ambos
        A figura de proa do Mircea.                           construídas novas  e que se encontra actualmente a navegar...
                                           os casos o nome é uma
        homenagem ao príncipe Mircea Staria de Muntenia (1386-1418), da Valáquia   anteparas estanques         Z
        Oriental, que reconquistou aos Turcos a região de Dobrogostea, expulsando -os   e instalados novos   António Manuel Gonçalves
        do território romeno, ainda que por poucos anos. As suas políticas levaram a Ro-  geradores eléctricos.   1TEN
        ménia a tornar-se, durante algum tempo, um país de comércio marítimo. Por isso   Terminados estes fa-
        a sua efígie é a figura de proa deste navio.                            Fotos
                                                             bricos o navio regres-  Herbert Böhm (Hamburgo)
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U ABRIL 2004  17
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