Page 131 - Revista da Armada
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cear das vergas. Já as velas da mezena, uma vez   Concluindo, o efeito de desequilíbrio vélico   Para alcançar o desequilíbrio enunciado, po-
         que o objectivo é fazer com que o navio arribe  na manobra de virar em roda permite ao navio  demos fazê-lo de duas formas: diminuindo a
         tão rapidamente quanto possível, facilmente se  perder menos barlavento, quando comparado  superfície vélica a vante, carregando algumas
         compreende o porquê de as retirar da acção do  com a situação em que se recorre única e ex-  velas de proa, ou então caçando mais as ve-
         vento. A vela grande deve ser carregada para  clusivamente ao leme para executar a rotação.  las à popa.
         que quando o vento estiver no sector da popa,  A sua reconhecida vantagem assenta no pres-  Ao navegar com todo o pano caçado opta-se
         ainda assim, as velas do traquete – com prepon-  suposto de ser virtualmente impossível que o  por colocar a meio, ou ligeiramente a barlaven-
         derância na acção de arribar do navio –, possam  navio minta a virar.  to – nunca mais de meia quarta –, a retranca da
         não permanecer totalmente na sombra das do                            mezena, folgando as escotas das velas de proa.
         mastro grande.                     VIRAR POR DAVANTE                  Este efeito combinado será suficiente para que
           Por norma a manobra tem início quando se co-  A excelência desta manobra, relativamen-  o navio comece de pronto a orçar, mesmo com
         loca o leme de encontro, para o navio arribar (2).  te ao virar em roda, reside essencialmente no  o leme a meio.
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         Nesse mesmo instante entra-se com os braços   facto de o navio não perder barlavento, tendo   No momento em que tudo estiver preparado
         de barlavento do mastro grande, até que as testas  como consequência directa uma menor rota-  para principiar a manobra é aconselhável arri-
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         das respectivas velas comecem a grivar , devendo  ção, normalmente 135º (12 quartas) em vez de  bar ligeiramente – cerca de 10 graus –, com o
         ser mantidas nessas condições durante a guinada.  225º (20 quartas).  objectivo de conseguir um ligeiro aumento da
         Para tal é necessário actuar continuamente nos   Pese embora o seu indiscutível benefício, nem  velocidade (1 e 2). A manobra tem início quan-
         respectivos braços – alando os de barlavento e lar-  sempre é viável efectuar esta manobra num na-  do se mete o leme de ló (2), depois de colocar
         gando os de sotavento –, na justa medida em que,  vio de pano redondo, nomeadamente nas situ-  a retranca a meio, ou ligeiramente a barlavento
         devido à rotação do navio, aumenta a marcação  ações em que a intensidade do vento se aproxi-  (2), folgando-se as escotas das velas de proa (2).
         do vento (3 e 4). Desta forma, retirando efeito ao  ma dos extremos. Por outras palavras, quando  O ângulo de leme deve ir aumentando progres-
         pano redondo mais a ré, potencia-se a acção das  este é demasiado fraco, ou então muito forte.  sivamente, na medida do necessário, até o pano
         velas do traquete e do pano de proa, levando ao  No primeiro caso, sendo a velocidade do navio  redondo ficar sobre, momento em que deverá
         arribar de forma mais expedita.    muito reduzida (teoricamente menos de 2 ou 3  ser todo carregado (2, 3 e 4).
           Quando o vento entrar exactamente pela  nós), logo que fique com o pano sobre irá parar   Conquanto possa parecer despiciendo, a ida
         popa completa-se o movimento horizontal das  quase de imediato. Neste contexto dificilmen-  para o castelo do pessoal não envolvido na fai-
         vergas do mastro grande, estacionando-as na sua  te conseguirá cruzar a linha do vento, ou seja,  na pode muito bem constituir, em determinadas
         posição final – no bordo oposto –, sendo certo  virar de bordo.        circunstâncias, uma mais-valia preciosa para o
         que a partir desse momento estas velas enchem   Por outro lado, quando se navega com vento  sucesso da manobra, por desta maneira se re-
         definitivamente (5). Concluída esta fase é então  muito forte, a sua força, quando o pano fica so-  duzir, ainda que muito ligeiramente, o caimen-
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         chegado o momento de bracear  as vergas do  bre, ou às costas, pode provocar avarias graves  to do navio a ré .
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         traquete, cujas velas se encontram na sombra  no aparelho e na mastreação, pois nestas cir-  Logo que a proa se aproxima da linha limite
         das do mastro grande (5). Pode-se aproveitar  cunstâncias são apenas os estais que aguentam  de bolina, o pano redondo começa a grivar (3).
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         este mesmo instante, se porventura tal acção  a elevada pressão que este exerce sobre as ve-  Nesse preciso instante carrega-se a vela grande ,
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         não foi ainda desencadeada, para cambar a  las. A explicação para este fenómeno deve-se ao  bem como os entremastros médios e altos , e
         retranca, colocando-a em posição no bordo  facto de o aparelho do navio não se encontrar  braceiam-se as vergas do mastro grande ao bor-
         contrário (5).                     concebido de forma a suportar grandes esforços  do contrário (3 e 4). Agora, já com todo o pano
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           Em simultâneo, já com o vento entrando fran-  neste sentido, de vante para ré .  sobre, mas com as vergas contra-braceadas, isto
         camente por bombordo (6), é altura de cambar   Um outro factor a ter em linha de conta é o  é, as do grande e as do traquete braceadas a bor-
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         e caçar as escotas das velas de proa  (6), acom-  efeito pernicioso da acção da vaga na amura de  dos opostos (4), o navio terá ainda algum segui-
         panhada pela manobra de caçar as velas da  barlavento, contrário ao desejado, portanto, que,  mento, continuando a orçar lentamente (4).
         mezena  (6), o que de imediato, tal como se  à medida que a velocidade se extingue, inibe toda   No momento crítico, com o navio pratica-
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         pretende, obriga o navio a orçar de forma mais  e qualquer disposição do navio para a orça, aca-  mente aproado ao vento, mas já sem seguimen-
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         célere. Torna-se então possível, não se notando  bando, no limite, por inviabilizar a manobra.  to, o aquartelar  da vela de estai pode revelar-se
         grande diferença ao nível da cadência da guina-  Quando se pretende virar por davante é ne-  uma ajuda valiosa (4). Quando por fim a proa
         da, fazer diminuir o ângulo de leme inicialmente  cessário meter o leme de ló, cuja finalidade é  cruza a linha do vento o leme deve ser colocado
         introduzido (6). Esta última acção, associada a  obrigar o navio a orçar. Não menos importante  a meio (5). De imediato são cambadas e caçadas
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         um contínuo escassear do vento , permitirá ao  nesta perspectiva é o desequilíbrio do navio, em  as escotas das velas de proa e carregadas as velas
         navio ganhar velocidade, o que, como se sabe,  termos vélicos, claro está, para que a sua tendên-  da mezena (5). A soma destas acções contribui
         potencia o efeito do leme.         cia natural seja aguçar, mesmo sem intervenção  para que o navio arribe mais rapidamente (6 e
           Encontrando-se finalmente as vergas do tra-  do leme. Neste particular, deverá haver especial  7). A vela grande deve ser caçada logo que as
         quete na sua posição definitiva (6), caça-se a vela  cuidado para de princípio não se introduzir um  restantes velas do respectivo mastro comecem a
         grande e içam-se todas as velas de entremastro   excessivo ângulo de leme, aproveitando-se, em  encher (7). É então chegada a altura de bracear as
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         (7). Por último, logo que o navio se encontre no  vez disso, o desequilíbrio provocado pelas ac-  vergas do traquete (6 e 7), de içar os entremastros
         rumo a que se pretende doravante governar, co-  ções junto do pano de proa – folgando as escotas  médios e altos (7) e finalmente caçar as velas da
         loca-se o leme a meio (8).         das respectivas velas –, e da mezena – colocan-  mezena (8), tudo por esta ordem. Quando o na-
           Regra geral, como referimos, a manobra des-  do a retranca a meio –, ou seja, actuando direc-  vio começa a ganhar algum seguimento a vante
         crita é efectuada recorrendo apenas ao pessoal  tamente junto do velame das extremidades do  pode optar-se ainda por meter um pequeno ân-
         que se encontra de quarto. Na situação de faina  navio. Aliás, estas acções devem ser levadas a  gulo de leme a sotavento (8), contribuindo para
         geral, quando toda a guarnição é chamada ao  cabo em simultâneo para que daqui resulte um  o navio guinar com maior celeridade.
         convés, ambos os mastros podem ser braceados  efeito de binário acrescido.  Por último, já com o navio de novo com-
         em simultâneo, de forma coordenada e idêntica   Consegue-se, deste modo, evitar uma exces-  passado e a navegar ao rumo pretendido, com
         à descrição que fizemos para o mastro grande.  siva redução da velocidade inicial, por recurso  o leme a meio, recebendo agora o vento pelo
         No entanto, de forma a assegurar continuamen-  a um menor ângulo de leme, e, ao mesmo tem-  bordo contrário ao inicial, içam-se e caçam-se
         te uma desejável propensão para arribar, o mo-  po, prolonga-se o efeito de rotação, mesmo para  os entremastros baixos (9).
         vimento das vergas do mastro do traquete deve  além do instante em que o seguimento a vante   Se no decorrer da manobra, tal como sucede
         ser efectuado com ligeiro retardo em relação às  se anula. Recordamos que logo que o pano fica  com alguma frequência, o navio parar um pouco
         do mastro grande. Daqui resultará um menor  às costas a sua velocidade irá diminuir muito  antes da linha do vento – tipicamente menos de
         diâmetro final da curva de giração.  rapidamente.                      5 graus –, deverá de imediato ser carregado todo
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