Page 132 - Revista da Armada
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Des. José Cabrita










































         Evolução da manobra de virar por davante. Repare-se nas diferentes posições do leme em todo o processo.
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         o leme ao bordo contrário . Tal possibilitará dar   Pese embora o momento escolhido para as   11  Diminuição da marcação do vento.
         continuidade à rotação logo que o navio, pela  fainas parecer, as mais das vezes, contrário à im-  12  De baixo para cima: entremastros baixos (estai de
         acção do vento por ante a vante das velas do  periosa necessidade de descanso dos esgotados   gávea e estai da mezena), entremastros médios (estai do
                                                                               joanete e estai do gavetope) e entremastros altos (estai
         traquete, adquira algum seguimento a ré, con-  corpos de toda uma guarnição, levando inclu-  do galope do grande e estai do galope do gavetope).
         seguindo-se assim virar por davante. Sempre que  sive a suspeitar, em determinadas ocasiões, que   13  O aparelho dos veleiros encontra-se baseado
         com sucesso se recorre a este expediente, diz-se  existe um manifesto conluio entre as condições   numa distribuição do esforço por três pontos cruciais:
         que o navio vira por davante caindo a ré.  meteorológicas adversas e as muitas horas de   as enxárcias de bombordo e estibordo, dizendo ambas
                                                                               ligeiramente para ré e para a borda, e os estais que di-
           Contrariamente, quando apesar dos envida-  sono perdidas durante a estadia no último porto,   zem para vante, com um ângulo maior. Visto de topo,
         dos esforços não é possível concluir com êxito  com a agravante de este aparentemente contar   este dispositivo forma um triângulo isósceles. No en-
         esta manobra, diz-se, vulgarmente, que o navio  com a superior conivência do oficial de quarto,   tanto, uma vez que parte dos ovéns são agrupados em
         mentiu a virar . Porém, pelo cotejar da sucessão  lá bem no fundo haverá sempre, sem espaço   cada bordo para formar a enxárcia, sendo também em
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         das inúmeras acções entretanto operadas, facil-  para qualquer espécie de dúvida, uma boa ra-  maior número, a sua resistência é muito grande. Nas
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         mente se conclui que os verdadeiros «mentiro-  zão para «puxar cabos»…  distribuição do esforço, ainda que assimétrica, pelas
         sos» só podem estar entre aqueles que condu-                       Z  enxárcias de ambos os bordos, cabendo ainda uma
         zem e executam as diferentes fases da manobra,   António Manuel Gonçalves  parte importante aos braços que aguentam as vergas
                                                                         CTEN
         não cabendo ao navio qualquer responsabilida-        am.sailing@hotmail.com  para ré. Por seu turno, quando o pano fica sobre, ape-
                                                                               nas os estais são responsáveis por suster toda a pressão
         de particular.                     Notas:                             que o vento exerce sobre as velas e aparelho. O que
           O seu insucesso passa, regra geral, por falhas   1  Ter uma muito ligeira propensão para a orça. Contraria-  pode ser manifestamente insuficiente com todo o pano
         ao nível de pelo menos um dos pontos abaixo   mente, quando o navio assume natural tendência para arri-  redondo caçado, se a velocidade do vento superar um
         mencionados:                       bar, quase sempre como consequência de má arrumação do   valor na ordem dos 10 a 15 nós.
                                                                                   Significa que o navio, como é norma, está mais
                                                                                 14
           1- Não simultaneidade dos procedimentos   lastro ou da carga a bordo, diz-se que governa mal.  metido de popa do que de proa. A sua razão é-nos for-
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         com vista ao descompassar do navio;  vio gira. Idealmente o centro vélico, ponto onde actua   necida pela diferença de calados, a ré e a vante.
           2- Excessivo ângulo inicial e/ou má gestão do   a resultante da acção do vento sobre todas as velas do   15  Esta acção permite que as mezenas continuem
         leme até o pano ficar sobre;        navio, deverá coincidir com o centro de giração.  a receber vento, mantendo-se a desejável tendência
                                              3  Marcação 180º.                para a orça por elas proporcionada.
           3- Moroso bracear das vergas do mastro   4  Leme a barlavento.        16  Por uma questão de facilitar o movimento de
         grande e/ou precipitação no início da respec-  5  Leme a sotavento.   cabos ao nível do convés, devem carregar-se os en-
         tiva manobra;                        6  Cabos que fazem arreigada nos laises das vergas   tremastros baixos antes de iniciar a manobra. O mo-
           4- Acção extemporânea de carregar o leme ao   do pano redondo, cujo propósito é dar-lhes movimento   mento propício para o fazer será quando se começa
         bordo contrário, no momento em que o navio   horizontal, aguentando ainda as vergas para ré.  lentamente a orçar, depois de ter arribado um pouco
                                              7  Trepidar característico das testas do pano redondo,   para ganhar velocidade.
         se encontra quase aproado ao vento.  ou das valumas do pano latino, quando a superfície das   17  Levar o punho da escota da vela ligeiramente a
           Com esta despretensiosa exposição confia-  velas se encontra demasiado cingida ao vento.  vante e para barlavento.
         mos tão-somente poder ter contribuído para   8  Dar movimento horizontal às vergas redondas, re-  18  O momento ideal é exactamente o instante em que a
         prestar particular auxílio aos cadetes da Escola   correndo aos cabos denominados braços.  sua velocidade se extingue. Se o leme for carregado cedo
                                              9  De ré para vante: vela de estai, bujarrona de den-  demais o navio começará a arribar, o mesmo acontecen-
         Naval, ajudando-os, quando nelas envolvidos,   tro, bujarrona de fora e giba.  do se este for mantido na sua posição inicial, com o navio
         a bordo do navio-escola Sagres, a melhor com-  10  De baixo para cima: mezena baixa, mezena alta   caindo a ré. Como resultado, o navio mente a virar.
         preender as supracitadas manobras.  e gavetope.                         19  O navio recusou-se a virar.
         22  ABRIL 2006 U REVISTA DA ARMADA
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