Page 165 - Revista da Armada
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Pregação de S. Francisco Xavier em Goa.              S. Francisco Xavier pregando na corte japonesa do Príncipe Yamaguchi.
         André Reinoso – Séc. XVII Lisboa – Igreja de S. Roque.  André Reinoso – c. 1619 – Igreja de S. Roque.
         Torre de Belém, entra num pequeno barco  ano e meio, regressando depois a Malaca.  seis anos e meio. As suas viagens, a pé, a
         que, com Simão Rodrigues, o leva à Nau. Si-  O seu desejo de falar de Cristo e conquis-  cavalo e sobretudo de barco, postas em li-
         mão volta para terra, fixando as naus que le-  tar mais pessoas para Ele, chamou a aten-  nha recta, dariam duas voltas e meia ao
         vam o seu grande amigo e lamentando não  ção dos que conheciam os japoneses, que  nosso planeta…
         poder acompanhá-lo, como era o seu gran-  lhe anunciaram esse povo como de nível
         de sonho. Era o dia 7 de Abril de 1541, preci-  filosófico e espiritual superior a todos os   OS PORTUGUESES
         samente o dia do seu 35.º aniversário.  que conhecera até ali. Bastou isso, para, re-  E FRANCISCO XAVIER
           A maior parte daqueles que partiam bus-  gressando a Goa, preparar a partida para
         cava glória e riquezas; ele e os seus com-  o Japão, onde anunciou o Evangelho, por   Os portugueses souberam corresponder,
         panheiros iam à procura de almas: espera-  entre muitas dificuldades, mas com êxi-  com admiração e devoção ao incansável
         -os uma messe laboriosa, mas abundante  to, durante quase dois anos. Só regressou  missionário, mesmo já antes da sua ca-
         e com garantia de futuro.          de novo a Goa, porque o seu “mais” lhe  nonização, em 1622. Este acto serviu para
                                            exigia nova campanha: os japoneses con-  consagrar ainda mais a devoção e para
         A MISSÃO DO ORIENTE                trapunham-lhe frequentemente que, se a  fortalecer a sua imagem, como exemplo
                                            religião cristã fosse verdadeira, já os chi-  da vida cristã mais perfeita.
           Com as facilitações deste período es-  neses a teriam conhecido e ensinado, pois   Também o facto de a Restauração Nacio-
         plendoroso da nossa História, os meados  da China é que lhes tinha vindo aos japo-  nal ter ocorrido a 1 de Dezembro, véspera
         do século XVI, ele tocou os cinco continen-  neses toda a sabedoria religiosa. À força  do dia comemorativo da sua morte (noite
         tes: a Europa, donde partiu; a América, nas  de ouvir esta ideia, o seu ideal de “mais”,  de 2 para 3 de Dezembro), confirmava que
         costas do Brasil, onde a armada em que foi  que enfrentava todas as dificuldades por  o Santo, embora navarro por nascimento,
         integrado tocou e aportou durante uma  maiores que parecessem, concebeu o plano  era “um fino português, no ânimo e no
         semana; a África, na Ilha de Moçambique,  de chegar à Corte do Imperador da China,  maior emprego dos trabalhos da sua admi-
         onde esteve e evangelizou durante cerca  para lhe anunciar a Boa Nova do Evange-  rável vida”. Vai nesse sentido a célebre no-
         de seis meses; a Ásia, onde chegou e mis-  lho. Assim, regressado a Goa, preparou a  vena de sermões, pregada pelo Padre An-
         sionou, sobretudo na Índia e na Zona do  entrada na China, que Deus não quis que  tónio Vieira, com os inspirados discursos
         Extremo Oriente (hoje Malásia, Singapura,  levasse a efeito, vindo a falecer na Ilha de  “Xavier Dormindo e Xavier Acordado”,
         Indonésia e Japão); e a Oceânia, chegando  Sanchuão, na costa chinesa, aos 46 anos de  que supunham já uma grande expansão
         à zona geográfica das Ilhas Molucas.   idade, esgotado de cansaço.     da sua devoção.
           O seu lema “mais, sempre mais” levou -o   Partira de Lisboa há 11 anos e meio. An-  É em Portugal que a iconografia de São
         a aceitar a partida para a Índia, onde co-  dara em viagens cinco anos e a missionar  Francisco Xavier conhece os seus mais al-
         meçou a ouvir falar                                                                    tos expoentes, não
         da grande “metrópo-                                                                    só em esculturas, es-
         le” central do Orien-                                                                  tampas e iluminuras
         te que era Malaca.                                                                     com a sua imagem,
         Atraído pela possi-                                                                    vestido como missio-
         bilidade de evange-                                                                    nário, empunhando
         lizar maior número                                                                     a cruz, a bíblia ou a
         de povos, para lá se                                                                   concha - acompanha-
         dirigiu, deixando                                                                      do ou não do céle-
         substitutos e conti-                                                                   bre caranguejo - mas
         nuadores do seu tra-                                                                   também em pintu-
         balho apostólico na                                                                    ras, baixo-relevos,
         Índia. Em Malaca,                                                                      azulejos, peças de
         algum tempo após a                                                                     ourivesaria e outros
         chegada, teve infor-                                                                   géneros plásticos,
         mações da existência                                                                   representando fac-
         de cristãos antigos,                                                                   tos miraculosos da
         nas Ilhas Molucas.                                                                     sua vida. A fixação
         Empreendeu então                                                                       da imagem típica do
         essa viagem e de-                                                                      Apóstolo das Índias
         teve-se nessas pa-  Tempestade da viagem de S. Francisco Xavier do Japão para a Índia.  e Evangelizador do
         ragens cerca de um   André Reinoso e colaborador – c. 1619 – Igreja de S. Roque.       Japão, foi obra de ar-
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U MAIO 2006  19
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