Page 168 - Revista da Armada
P. 168
Des. José Cabrita de média do navio não foi do-se em breve atingir os 9 nós, o valor mais alto
além dos 1,1 nós. Além desde o início da regata. Pelas 20h07 «avistou-se
disso, a previsão apontava um navio pelo Zgi=005º que mais tarde se iden-
para vento de sudoeste, o tificou como sendo o paquete português “Vera
que, a confirmar-se, iria co- Cruz” e com o qual se trocaram mensagens
locar grandes dificuldades constantes no livro de registo respectivo».
aos navios redondos, para Pelas 7h25 do dia 12 foi avistada a ilha de Porto
que estes pudessem alcan- Santo pelo azimute 172º e soltou-se o rumo para
çar a travessa entre Porto o canal. A ilha da Madeira surgiu no horizonte
Santo e a ilha da Madeira, cerca das 10h30, pela amura de estibordo. En-
ponto de passagem obriga- contrava-se no local o patrulha Maio, que tinha
tório da regata. a missão de confirmar a passagem dos veleiros
Na manhã do dia 9 o por aquele ponto obrigatório. À passagem da Sa-
vento rondou para SW gres pelo canal, o que veio a ocorrer às 13h09,
como previsto, soprando este transmitiu a informação de que o Mercator
muito fresco (22 a 27 nós). havia por ali transitado pelas 9h40. Quanto ao
Acalentando-se a esperan- Christian Radich, só logrou atingir este mesmo
ça de que pudesse soprar ponto já perto das 21h00.
de NE um pouco mais a Ao longo de todo o dia o vento foi refrescan-
sul, navegou-se delibera- do até muito forte (34 a 40 nós), mantendo-se
damente ao rumo sueste a sua direcção entre NE e NNE, situação que
com o intuito de encontrar se manteve no dia seguinte. Tal veio permitir
esse vento tão cedo quan- que, passada a ilha de Porto Santo, se pudes-
to possível. Pouco depois se desde logo orçar, de forma a montar as Ilhas
do amanhecer foi avistado Desertas por leste.
ao longe um veleiro pela As ilhas Selvagens foram passadas já a noite ia
amura de estibordo, pron- adiantada e as previsões meteorológicas aponta-
tamente identificado como vam para uma possível diminuição da intensida-
sendo um dos gémeos fran- de do vento para o final do dia seguinte.
ceses Etoile ou Belle Poule. Quando pelas 12h00 foram passadas via rá-
No quarto das 16h00 às dio as posições dos outros veleiros, soube-se
20h00 o oficial escreveu que o Mercator se encontrava 37 milhas a van-
no respectivo relatório: te e o Christian Radich umas 57 milhas à popa.
«durante o quarto gover- Aliás, a posição deste último veio instalar a bor-
nou-se pelas testas entre do grandes preocupações. Levando em linha de
rumos 140º e 170º». conta a hora da sua passagem em Porto Santo,
Pela madrugada do dia tal significaria que o veleiro norueguês poderia
O trajecto da Sagres na regata Brest-Las Palmas onde se pode constatar a 10 o vento começou final- estar a navegar a uma velocidade superior à da
evolução do vento, em direcção e velocidade.
mente a rondar para uma Sagres, na ordem dos dois nós. Assim sendo,
encontrar nevoeiro e ventos fracos, também eles direcção mais favorável, fixando-se primeira- mantendo-se as condições meteorológicas idên-
característicos desta época do ano, junto à costa. mente em oeste, até cerca das 16h00. Durante ticas para os três principais navios, e tendo em
5
A opção, baseada na análise meteorológica de a tarde a nebulosidade foi aumentando gradati- atenção «os abonos estabelecidos» , a Sagres
superfície, recaiu na escolha de um rumo mais vamente e o vento refrescou, rondando para nor- poderia classificar-se à frente do Mercator, mas,
largo, tanto mais que a previsão confirmava a te. Esta alteração tornou então possível governar relativamente ao Christian Radich, a vantagem
existência de vento mais fresco por alturas do aproado à travessa de Porto Santo e às 22h45 parecia não chegar para garantir a vitória.
meridiano dos 12ºW. Pelo que, continuando a «desencostaram-se as vergas de uma quarta». Por isso, durante as derradeiras horas de re-
navegar-se com proas em torno de 230º, por vol- Na tarde do dia 11, com o vento a soprar fres- gata foram sendo constantemente feitos pe-
ta das 18h00 o vento começou a soprar de nor- co de NE, chegou-se à conclusão de que seria quenos ajustamentos no rumo e na mareação,
te, refrescando também a partir de então. mais vantajoso não seguir o rumo directo para o com o objectivo de capitalizar toda e qualquer
No dia 7, com vento do quadrante norte, canal de Porto Santo, sendo antes preferível apro- vantagem que pudesse ser obtida ao nível da
houve o cuidado em não deixar o navio cair ar a um ponto situado um pouco mais a norte, velocidade, e ainda no sentido de, por todos os
demasiado para oeste, pelo que, em prejuízo mas na mesma longitude. O ligeiro acréscimo meios, minimizar a curta distância que ainda
de uma maior velocidade, a navegação foi feita em distância desta opção era claramente com- faltava percorrer.
com a mareação compreendida entre um largo pensado por uma maior velocidade, conseguin- Numa altura em que qualquer pequeno be-
e a popa arrasada. Pela troca nefício se revelava crucial, e
de posições via rádio que de- com vento de 30 nós de NNE,
correu ao meio-dia, soube-se às 15h50 «içou-se na verga de
6
que o Mercator se achava a Arquivo Revista da Armada sinais da mezena uma Var» .
62 milhas no azimute 244º, Pouco antes do anoitecer, mais
enquanto que o Christian Ra- exactamente às 18h50, foi
dich, mais atrasado, se en- avistado o farol de La Isleta,
contrava no azimute 023º a situado a norte da ilha da Grã-
95 milhas. Canária, próximo, portanto, da
A meio do dia 8, quando linha de chegada. Pelas 19h45
aparentemente nada o fazia reconheceu-se também o faro-
prever, o vento rodou para lim do molhe Generalíssimo
oeste, caindo quase comple- Franco, no porto de La Luz,
tamente. De tal forma que em Las Palmas, e pouco tem-
até à meia-noite a velocida- O Comandante Tengarrinha Pires segura o troféu Generalíssimo Franco, ladeado pelos seus oficiais. po depois a corveta espanhola
22 MAIO 2006 U REVISTA DA ARMADA