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REGATAS
REGATAS
1. Brest – Las Palmas (1958)
m ano de cinquentenário das denomina- ção entre os grandes veleiros. Aproveitou-se vegando à bolina, com amuras a estibordo , à
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das Tall Ships’ Races, julgámos pertinen- então para treinar toda a guarnição nas dife- proa 185º, foi possível passar safa a bóia pouco
Ete recordar, com algum pormenor, as re- rentes manobras do pano, beneficiar e substi- tempo depois, deixando-a por bombordo.
gatas que tiveram veleiros portugueses como tuir as partes do aparelho em más condições Ao final da tarde o Mercator, mais arribado,
vencedores. A primeira, Brest-Las Palmas, que e rever todo o velame. cortou a proa da Sagres, afastando-se lenta e
a antiga Sagres logrou vencer logo na segun- No dia 18 de Julho os jovens da Mocidade progressivamente, ganhando cerca 1 milha até
da edição do evento, e, mais tarde, em 1982, Portuguesa passaram para as fragatas Nuno Tris- ao cair da noite. Como resposta foram de ime-
embora fora do quadro daquela organização, tão e Diogo Gomes, que por essa ocasião ha- diato caçados os cutelos e as varredouras.
a travessia do Atlântico Norte, entre Newport viam chegado a Brest, trocando posição com A distância para o Christian Radich foi tam-
e Lisboa, cujo laureado foi, bém aumentando, a ponto
precisamente, o actual na- de este deixar de ser avistado
vio-escola Sagres. à popa, cerca das 20h00. Ao
Importa referir, que, ao Arquivo Museu de Marinha longo do primeiro dia a mar-
longo de cinco décadas, tal cação do vento escasseou
como sem limites ousaram ligeiramente e a sua intensi-
os clippers do chá, os ven- dade aumentou um pouco,
cedores das regatas sempre tendo entretanto caído logo
estiveram entre aqueles que que a noite chegou.
melhor conseguiram con- No dia seguinte o vento
quistar o adversário co- manteve-se fraco (4 a 6 nós)
mum – o mar –, selando, de NW e logo pela manhã
no momento mais oportu- o Mercator voltou a cruzar a
no, com o velho aliado de proa, desta feita para ocupar
sempre – o vento –, o pacto posição na amura de estibor-
mais favorável. do. Apesar de bolinar melhor
Dedicaremos ainda, por do que a Sagres, o diferen-
fim, um artigo ao historial A Sagres em primeiro plano e o Mercator ao fundo, na largada para a regata Brest-Las Palmas. cial de velocidade entre os
desta saudável competi- dois navios era mínimo.
ção, disputada em sólidas bases de lealdade os Guarda -Marinhas do curso D. Duarte de Al- Na tentativa de minimizar o risco de o navio
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e amizade entre Marinheiros dos mais belos meida, nelas embarcados. ensacar no golfo da Biscaia, navegou-se todo o
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veleiros da actualidade . Como é do conheci- Durante as regatas que tiveram lugar durante a dia à bolina, tão chegado ao vento quanto pos-
mento geral, a ela em grande parte se deve o Semana de Vela, os Guarda-marinhas, agora em- sível. Ao final da tarde o Mercator passou nova-
presente culto prestado a estes Príncipes dos barcados na Sagres, lograram vencer a competi- mente para a amura de bombordo. Percebeu-se
Oceanos. De outra forma, estamos certos, ção em Vaurien, obtendo ainda o segundo lugar então que a sua intenção, tal como se verificara
muitos já só existiriam em recônditas gavetas em Benodet e na prova de remo. no dia anterior, seria manter-se a sotavento duran-
do nosso imaginário, ou ainda em nostálgicas No dia 2 de Agosto, pelas 7h45, o navio largou te a noite, com o objectivo de não ser obrigado a
e muito desbotadas imagens… da bóia da Rade d’Abri, de Brest, onde se encon- manobrar, tal como mandam as regras, caso os
A antiga Sagres largou de Lisboa no dia 7 trava amarrado, com vista a tomar posição nas rumos se viessem a tornar convergentes.
de Julho de 1958 levando a bordo praças de imediações da linha de largada. Esta situava-se No terceiro dia, o fraco vento que se fazia
vários cursos em instrução, bem como jo- um pouco a sul da famosa ilha de Ouessant, de- sentir começou a dar sinais de querer rodar para
vens da Mocidade Portuguesa. Estes últimos finida pelo draga-minas Alençon e pelo navio-pa- NE chegando mesmo a soprar de ESE. Acabou
efectuariam até Brest a primeira parte do seu trulha Attentif, afastados entre si duas milhas. por se fixar em ENE a partir das 18h00, numa
treino de mar. Apesar da hora da largada se encontrar mar- altura em que o Mercator se encontrava a pe-
No dia 12, em pleno golfo da Biscaia, cujo cada para o meio-dia, esta acabou por ser al- quena distância pelo través de estibordo. Apro-
mar é figura central nas histórias de mau tempo terada para as 13h00, uma vez que uma boa veitou-se então para ganhar oeste, navegando
de muitos marinheiros, registou-se uma grave parte dos veleiros demorou algum tempo a a proas compreendidas entre os 220º e os 230º,
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avaria na máquina de bombordo , num mo- alcançar posição próxima da linha de partida. no sentido de safar desde logo o possível ensa-
mento em que o anemómetro a bordo registava Ao longo das muralhas de Brest uma enorme camento na Biscaia.
velocidades do vento superiores a 60 nós. De multidão observava, atenta, todas as movimen- A manhã do dia seguinte não trouxe o ven-
resto, este motor só viria a ser reparado no ar- tações dos navios. to esperado, caracterizando-se antes pela sua
senal da Marinha Francesa após a chegada do Como consequência do bom posicionamen- direcção variável, com predomínio de NE. A
navio a Brest, a 14 de Julho. Por se celebrar nessa to, a Sagres passou pela linha de largada exac- navegação foi feita de modo a montar o cabo
data o dia nacional da França, a Sagres emban- tamente às 13h00, logo seguida pelo Mercator, Finisterra, tendo-se assistido ao refrescar pro-
deirou em arco logo que concluída a manobra colocado cerca de uma milha a barlavento, gressivo do vento, a partir do meio da tarde. A
de atracar naquele porto. com o vento a soprar de WNW com 10 nós. sua direcção fixou-se em NW, vindo a rondar,
Durante a estadia no porto francês, por ab- O Christian Radich, pela alheta de estibordo e durante a noite, para norte.
soluta falta de tempo em Lisboa, foi levada a a uma distância de 3,5 milhas, só alcançou a A 6 de Agosto, dobrado o cabo Finisterra às
cabo toda a preparação do navio com vista à linha meia hora mais tarde. 50 milhas com vento NNE, surgiu o momento
sua participação na regata, no período compre- Uma vez que o vento teimava em escassear, o de efectuar a escolha entre um rumo próximo
endido entre a sua chegada a Brest e o início primeiro grande desafio que se colocava desde da costa, ou um outro mais largo. O primeiro ti-
da Semana de Vela, que decorreu na semana logo era passar a barlavento da bóia «Ar Men», nha em vista aproveitar o efeito da nortada, mas
imediatamente anterior ao início da competi- situada um pouco mais a sul. No entanto, na- também contra si jogava a probabilidade de se
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