Page 169 - Revista da Armada
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museológico, a Sagres e a sua guarnição con-
A nossa narrativa ficaria gravemente amputa-
Foto CTEN António Gonçalves da se não mencionássemos que por esta altura quistaram ainda a taça Generalíssimo Franco,
o Comandante do navio era o CTEN António instituída pelo Governo Espanhol para premiar o
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Tengarrinha Pires (6/3/58-26/6/61) e o oficial vencedor entre os navios de Primeira Classe .
imediato o Primeiro-tenente Henrique da Silva
A 16 de Agosto o navio largou com destino
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Horta . Para além dos Guarda-marinhas do cur-
a Tenerife, embora sem participar na pequena
so D. Duarte de Almeida, viajaram ainda a bor-
regata que então teve lugar. Cinco dias depois
do da Sagres, até Las Palmas, o Almirante francês soltou o rumo para Lisboa onde chegou no dia
Sacaze, membro da organização da regata, uma 27 de Agosto, fundeando em frente ao Terrei-
equipa de televisão desse mesmo país e ainda o ro do Paço.
jornalista suíço André Guex. No dia 7 de Setembro, duas semanas depois
do triunfal regresso a Portugal, decorreu em
Navio País Classificação Cascais o «Festival Náutico em Honra do NRP
Sagres Portugal 1º Sagres», organizado pela Associação Desporti-
Christian Radich Noruega 2º va da Brigada Naval, Clube Naval de Cascais e
Mercator Bélgica 3º Associação Naval de Lisboa, com o patrocínio
da Federação Portuguesa de Vela. Nesse mesmo
Flying Clipper Suécia 4º
dia, com a Sagres fundeada na baía de Cascais,
Conhecida que foi em Portugal a brilhante o Ministro da Marinha ofereceu a bordo um al-
classificação obtida pela Sagres, não tardaram a moço ao Presidente da República.
chegar a bordo as mais variadas mensagens de O navio serviu então de referência à demar-
O troféu da Sail Training Association actualmente em exi- felicitações, algumas delas do estrangeiro, das cação da linha de partida, conjuntamente com
bição a bordo do Rickmer Rickmers, em Hamburgo.
quais transcrevemos as que nos pareceram mais o barco do júri, por ocasião do disputado Tro-
Descubierta, que se encontrava no azimute 090º representativas. féu D. Pedro V, que compreendeu regatas nas
da extremidade sul e a 5 milhas do referido mo- Do então Chefe do Estado-Maior da Armada, classes Dragão, Star, Sharpie 12, Snipe, Vouga,
lhe, com ele definindo a linha de chegada. Vice-almirante Guerreiro de Brito: Sharpie 9, Finn e Moth. Este evento náutico
Finalmente às 22h16m40s a Sagres cruzou «Felicito com muita satisfação Comandante, integrou ainda a denominada Festa dos Pes-
a citada linha, terminando a regata Brest-Las oficiais e guarnição brilhante triunfo alcançado cadores, que também se quiseram associar à
Palmas, iniciada onze dias antes. Os motores muito apreciado esforço dispendido». homenagem prestada ao navio-escola Sagres,
do navio foram lançados dois minutos depois, Do Ministro da Marinha, Contra-almirante competindo, no remo, em chatas, nas seguintes
tendo de pronto sido carregado e ferrado todo Mendonça Dias: configurações: 2 remos e 1 remador; 2 remos
o pano. O piloto entrou a bordo pelas 22h44 «Com muita satisfação e apreço pelo êxito ob- e 2 remadores; 4 remos e 2 remadores; e 4 re-
e o navio «atracou às 0017 tendo dado volta à tido felicito esse Comando e toda a guarnição». mos e 4 remadores.
faina às 0105». Apesar do adiantado da hora, Do recém-eleito Presidente da República, Con- Z
no trajecto até porto de La Luz, e já no molhe tra-almirante Américo Tomás (9/8/58–25/4/74), António Manuel Gonçalves
CTEN
de Santa Catalina onde atracou, o navio e a sua transmitida pelo Ministro da Marinha: am.sailing@hotmail.com
guarnição foram alvo de «carinhosa recepção «Sua Excelência o Presidente da República Notas:
por parte da população». encarrega-me de transmitir a esse Comando que 1 Pela nossa parte, congratulamo-nos pelo facto
Chegou então a informação de que o Merca- muito se congratulou com a vitória alcançada de havermos participado em algumas destas regatas
tor havia cortado a linha de chegada cerca das por esse navio». internacionais, tanto a bordo do navio-escola Sagres
– Lisboa-Cádiz, Cádiz-Las Palmas e La Gomera-Porto
18h00, embora a maior preocupação dissesse Para além do troféu da Sail Training Associa- Rico, em 1992, e Falmouth-Lisboa, em 1998 –, como
respeito ao Christian Radich. No entanto, tal tion destinado ao vencedor, que pode actual- no Creoula – Weymouth-La Corunha e Porto-St. Malo,
como indicava a previsão meteorológica, o ven- mente ser visto a bordo do Rickmer Rickmers, em 1994, e Palma de Maiorca-Nápoles, em 1996.
2 Recordamos que este navio só foi motorizado em
to foi caindo durante a noite. Pelo que, o rival em Hamburgo, integrado no respectivo núcleo
só veio a cortar a linha de meta pelas 8h41 do Arquivo Central da Marinha 1931, passando a contar com dois motores, um para cada
linha de veios, sendo os seus hélices de passo variável.
dia seguinte. A regata estava ganha e nessa noite 3 Termo muito utilizado na vela que significa que o
ninguém se deitou a bordo. Os festejos tiveram navio recebe o vento por estibordo.
início, com a presença numerosos elementos 4 O navio diz-se ensacado quando se encontra dentro
das guarnições de outros navios, logo que o atra- de uma baía ou reentrância do litoral, com a costa por so-
tavento, sem conseguir montar os extremos dessa orla. Em
so do veleiro norueguês superou a diferença de caso de mau tempo corre sérios riscos de dar à costa.
tempo corrigido existente entre eles. 5 Nas competições em que participam veleiros de
Cumpre a este respeito recordar que quando características muito distintas, normalmente existe uma
o Christian Radich entrou de manhã no porto fórmula na qual entram, entre outros, o comprimento, a
de Las Palmas, a sua guarnição seguia forma- boca, o deslocamento e a superfície vélica de cada navio.
Assim, para cada um deles é estabelecido um factor que,
da à borda, entoando vivas à Sagres. Aliás, o aplicado ao tempo gasto na regata, fornece o chamado
próprio Comandante do veleiro escandinavo, tempo corrigido. Desta forma é possível homogeneizar o
numa atitude de grande fair-play, visitou mais comportamento dos diferentes navios, o que se consegue
tarde o navio-escola português, acompanhado pela «penalização» dos mais rápidos e «benefício» dos
naturalmente mais lentos.
de alguns elementos da sua guarnição e trajando 6 Pensamos poder tratar-se de uma das velas varre-
vestes tipicamente nórdicas, com a finalidade douras triangulares, habitualmente caçadas no prolon-
de cumprimentar o seu homólogo, armando-o gamento das vergas dos papafigos, utilizada aqui com
Rei Viking em cerimónia improvisada para o intuito de ganhar algumas décimas na velocidade.
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O Vice-almirante Silva Horta foi o último Comandante
efeito. O que demonstra bem o espírito salutar da antiga Sagres (26/6/61 – 30/1/62) e o primeiro Coman-
desta competição. dante do actual navio-escola Sagres (8/2/62 – 29/9/65).
Ao longo dos 11 dias de regata a Sagres per- 8 Nesta época os navios também se encontravam di-
correu uma distância de 1.470 milhas, da qual vididos em classes, em função do seu deslocamento,
resultou a excelente média de 5,38 nós. Refira- embora com parâmetros distintos dos actuais. Como
veremos posteriormente, na Primeira Classe eram inte-
-se, a título de curiosidade, que a distância real Capa do programa relativo ao Festival Náutico em grados todos veleiros redondos de deslocamento supe-
entre os dois portos é de 1.330 milhas. Honra do NRP Sagres. rior a 100 toneladas.
REVISTA DA ARMADA U MAIO 2006 23