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esperança de chegar à linha da meta dentro inolvidável ficou, feliz-
do período estabelecido (até 281400ZJUL82), mente, registado para a
começaram a aparecer umas aragens de NE posteridade.
as quais, refrescando durante a noite e o dia Não obstante ter che-
seguinte, possibilitaram que o navio recome- gado depois da hora NRP Sagres – Foto CTEN António Gonçalves
çasse a navegar a uma velocidade razoável (7 limite, o navio-escola
nós) o que voltou a fazer crer que se chegasse Sagres foi o vencedor
a Cascais antes de o “control fechar”». desta regata. Outro dado
O vento que se fez sentir nos dias 26 e 27 curioso a registar dá-nos
de Julho surgiu no momento exacto, tendo- conta de que esta foi a
se intensificado, ainda que modestamente e mais longa tirada que o
de forma progressiva, embora a sua direcção navio alguma vez efec-
comportasse alterações a título quase per- tuou, contabilizando
manente. um total de 31 dias de
Apesar do derradeiro esforço exigido a to- mar. Para a história per- O troféu Commodore John Nicholas Brown que a Sagres venceu em 1982.
dos quantos se encontravam directamente en- durará também o facto
volvidos na manobra, havia nesse momento de durante esta viagem a navegação à vela Por ocasião da estadia dos veleiros em Por-
a bordo a plena consciência de que, dada a ter atingido a marca dos 80%, o valor mais tugal durante o Lisbon Sail’82, os comandan-
conjuntura e face às desistências entretanto re- elevado de sempre, se exceptuarmos uns tes dos navios foram recebidos em visita de
gistadas, já só a Sagres poderia almejar vencer episódicos 89% cumpridos durante o curto cumprimentos pelo Presidente da República,
esta longa regata. período de treino, em 1978, que precedeu a General Ramalho Eanes, no palácio de Belém.
No dia da largada coube-
-lhes a vez de, a bordo
dos seus navios, presta-
rem honras ao Chefe de
Estado, que assistia ao
desfile no Tejo a partir
da Torre de Belém.
Z
António Manuel
Gonçalves
CTEN
am.sailing@hotmail.com
Notas:
1 A escala de intensidade
do vento utilizada a bordo
conta com treze intervalos,
denominados forças, que vão
desde 0 (Calma) até 12 (Fura-
cão). É conhecida como esca-
la Beaufort por ter sido o Con-
tra-almirante inglês Sir Francis
Beaufort (1774-1857) quem,
em 1806, efectuou a actual
divisão, tendo esta sido im-
plementada na Marinha Bri-
tânica, em 1838. De referir,
ão do vento, em direcção e intensidade, como as posições e as datas onde ocorreram as desistências dos diferentes navios. Note-se que as características do no entanto, que já no século
ora de bordo. XVII os Portugueses dispu-
nham de uma tabela idêntica,
Na manhã do dia 28 o vento rondou para preparação do navio para a primeira volta ao onde, para cada intervalo correspondente às diferentes
oeste, no momento em que o navio se encon- mundo (1978-1979). intensidades do vento, no caso vertente em número de
trava a cerca de 18 milhas da linha de che- Por este triunfo, o navio-escola Sagres rece- oito, era ainda fornecido o valor da singradura de uma
nau, para duas possíveis mareações, ou seja, navegando
gada. Se as condições se mantivessem, seria beu o troféu Commodore John Nicholas Bro- à bolina ou com o vento na popa. A grande diferença é
previsível que a Sagres se acercasse da meta wn, instituído pela ASTA para premiar o velei- que por esta altura ainda não era utilizado o anemóme-
dentro do tempo limite, ou seja, as 14h00(Z) ro vencedor das denominadas American Sail tro (do grego anemos, que significa vento), pelo que a
do dia 28 de Julho. Só que mais uma vez a Training Races, em classe A. De notar que esta avaliação da intensidade do vento a bordo era feita, salvo
intensidade do vento foi-se aos poucos ate- salva deveria ter sido devolvida à American Sail diferente opinião, exclusivamente com base na experi-
ência do piloto, não dispondo este de qualquer referên-
nuando, tendo, inclusivamente, a sul do cabo Training Association, que nela gravaria o nome cia fidedigna. Apesar do princípio de funcionamento do
da Roca, caído quase por completo. do veleiro português, sendo futuramente usa- anemómetro ter sido descoberto por Leon Battista Alber-
Desta forma, quando ao fim de um mês se da noutras regatas. Inexplicavelmente, vinte e ti (1406-1472), em 1450, só quatro séculos mais tarde
esgotou o tempo de regata, o navio-escola Sa- quatro anos depois ainda se encontra a bordo (1846), em pleno apogeu da navegação à vela, o irlandês
John Romney Robinson (1792-1882) inventou o instru-
gres achava-se a umas escassas 0,7 milhas da da Sagres… mento que actualmente designamos por anemómetro de
linha derradeira. Apesar de algum sentimento Nesta regata, o navio-escola Sagres percorreu Robinson, ou de conchas.
de frustração por todos experimentado, pros- 2.974 milhas à velocidade média de 3,93 nós, 2 Conjunto completo de velas de um navio, ou seja,
seguiu-se navegando à vela até cruzar a linha ao longo de uma ortodrómia quase perfeita. uma vela para cada posição no aparelho. Ao somatório
que havia trinta e um dias vinha sendo perse- de todas as velas existentes a bordo, regra geral duas
andainas – uma envergada e outra em paiol –, eventu-
guida. Assim, «às 1416 o navio cortou a meta Navio País Classificação almente ainda mais algumas velas extra, dá-se o nome
ao marcar o farol da Guia por Zgi=Zv=000», Sagres Portugal 1º de velame.
tendo na altura a linha sido simbólica e lite- Esmeralda Chile 2º 3 4 Deus grego do vento.
Por esta altura o oficial imediato da Sagres era o
ralmente «cortada», já em ambiente de festa, CTEN Armando Rodrigues Leite, que viria mais tarde a ser
por um Marinheiro devidamente precavido Our Svanen Reino Unido 3º comandante do navio (22/1/93 – 10/10/95), sendo mestre
a partir do lais do gurupés. Este momento Gloria Colômbia 4º o 1SAR Alexandre Nunes Capucho (12/12/80 – 2/4/89).
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2006 19