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nós), chegou-se a navegar em alguns períodos quando este se encontrava umas 210 milhas à dure, nem bem que nunca acabe», permanece
à velocidade de 15 nós. A chuva também apa- popa da Sagres. tão ajustado quanto actual.
receu em força, colocando o regime de agua- A 8 de Julho foi possível recuperar algum A 21 de Julho, dois dias depois de ter sido pos-
ceiros que se lhe seguiu alguns problemas aos alento já que o vento soprou, ainda que com sível navegar alguma coisa que se visse, apro-
oficiais de quarto na avaliação da melhor ges- fraca intensidade (10 a 16 nós), regularmente, ximou-se da Sagres o veleiro-escola Our Sva-
tão do pano caçado. ao longo de todo o dia. Se os mais optimistas nen que, tendo desistido seis dias antes, seguia
Por esta altura e com vento favorável, ha- ainda regozijaram com o facto, o mesmo não a motor rumo a Lisboa. Encetadas as habituais
via toda a intenção em levar o navio um pou- se pode dizer dos mais cépticos, que, nos dias comunicações via rádio, e uma vez que as con-
co para norte da latitude das ilhas dos Açores, seguintes, viram confirmar-se os seus maiores dições meteorológicas vigentes não inspiravam
com vista a minimizar, durante o trajecto, a temores. Efectivamente, da análise das pági- grandes cuidados, foi mandado arriar o bote do
influência perniciosa do anticiclone. Como nas do Diário Náutico do navio até ao dia 14, navio para que este fosse até à escuna inglesa.
se sabe, o seu efeito nessas paragens por esta o mais que se consegue ver são referências ao No regresso, conforme previamente combina-
época do ano é frequentemente sinónimo de pouco vento (Calma – menos de 1 nó e Ara- do, trouxe consigo o próprio comandante, a es-
grandes calmarias. gens – 1 a 3 nós), e um estado do mar consen- posa, que também seguia a bordo, e ainda três
No dia 1 de Julho deu-se nova alteração nas tâneo com essa mesma triste realidade (Chão jovens que cumpriam o respectivo treino de
características do vento, pela diminuição da ou Estanhado). Não admira, pois, que as cir- mar. Tiveram assim, seguramente quando me-
sua intensidade e rondar para NW. Nesse dia cunstâncias fizessem mais uma vítima no dia nos esperavam, o privilégio de jantar, em pleno
surgiu a primeira ocorrência séria de aragens (1 subsequente. Foi então a vez do veleiro inglês Atlântico, a bordo do navio-escola Sagres. Ter-
a 3 nós), anulando quase por completo a velo- Our Svanen desistir, por impossibilidade de, minada a agradável refeição, que também trou-
cidade do navio. não o fazendo desde logo, ver impossibilitada xe alguma descontracção à guarnição do veleiro
Só no dia 3 por volta do meio-dia este pas- a sua chegada a Lisboa a tempo de integrar os português, regressaram ao seu navio.
so se alterou, quando Des. José Cabrita
o vento do quadrante
sul atingiu novamente a
força 5 (Fresco – 17 a 21
nós). Os maus momen-
tos pareciam ter definiti-
vamente acabado, pois a
passagem de uma super-
fície frontal fez aumentar
o vento até força 8 (Mui-
to forte – 34 a 40 nós),
no período compreendi-
do entre o final do dia 4
e a madrugada do dia 5.
No entanto houve que
refrear todo o entusias-
mo inusitado pois logo
nessa tarde o vento ron-
dou para NW, caindo
quase de imediato para
os 10-15 nós.
Os dois dias que se
seguiram quase levaram
ao desespero e a consi- Plano com as derrotas da Sagres e dos restantes veleiros da classe A, durante a regata Newport-Lisboa. Aqui se pode avaliar com algum rigor tanto a evoluçã
derar seriamente a hipó- vento correspondem apenas às experimentadas pelo navio-escola Sagres ao longo do trajecto, reportando-se as diferentes posições do navio ao meio-dia, ho
tese de que não seria possível chegar a Lisboa à eventos previstos no programa oficial. No mo- Dois dias depois do referido evento, mais
vela. Aliás, o navio-escola Gloria, da Marinha mento do abandono achava-se cerca de 450 exactamente durante a tarde do dia 23 de
da Colômbia, foi o primeiro a desistir nesta milhas a ré da Sagres. Julho, foi a vez de o navio-escola Esmeral-
regata. Tal ocorreu no final do dia 5 de Julho, Na tarde do dia 14 o emissário junto de Eolo 3 da, da Marinha do Chile, renunciar à sua
pareceu finalmente ter conse- continuação em prova. Tal decisão, segundo
Arquivo Museu de Marinha mento de algum vento. Mesmo durante dois dias os ventos contrários que o
guido interceder pelo apareci-
apurámos, ter-se-á ficado a dever ao facto de
sem soprar muito intenso (10 a afectaram terem feito o navio perder longitu-
20 nós), foi suficiente para que de em relação a Lisboa. No momento em que
a bordo da Sagres alguns ânimos ocorreu o seu abandono a Sagres detinha uma
rejubilassem de novo. Até o ron-
dar para norte e logo depois para vantagem na ordem das 440 milhas.
A 24 de Julho, no termo de entrega do seu
NNE, pareceu indiciar que era relatório, escrito no final do quarto das 0h00
chegado o momento de ganhar às 4h00, o então Primeiro-tenente Sajara Ma-
a latitude de Lisboa. deira registou: «[…] entrego ao 1ºTEN AN
No entanto, e uma vez mais, Calado a pairar a várias proas […]». Julga-
o desengano só afectou os mais mos que a forma lacónica deste testemunho
ingenuamente iludidos, já que o dispensa quaisquer comentários. De resto, a
traquejo adquirido no mar tem falta de vento nos dias que se seguiram leva-
ensinado os mais tarimbados ram o próprio Comandante do navio-esco-
que o tempo atmosférico é por la Sagres, CMG Engrácio Lopes Carvalheiro
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O memorável momento em que o navio-escola Sagres «corta» a linha de demais efémero e que o velho (21/1/80 – 20/8/82) , a admitir no seu relató-
chegada, vencendo a regata Newport-Lisboa. ditado «não há mal que sempre rio que «em 26JUL PM, já se tendo perdido a
18 JUNHO 2006 U REVISTA DA ARMADA