Page 25 - Revista da Armada
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e o mastro do traquete, como forma de alcan- dor das voltas do seio do gualdrope. Por ou- protecção conferida contra o terrível teredo,
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çar o equilíbrio pretendido. O que terá levado tro lado, tornou possível trazer a manobra do como em relação à demais vida marinha .
ao aparecimento das denominadas velas de navio para o tombadilho, local privilegiado Aparentemente simples também esta inovação
proa – polaca, vela de estai, bujarrona, giba –, onde o marinheiro, sem dificuldade, pode teve consequências notáveis ao nível de toda a
aproveitando-se assim os cabos de estai exis- governar tendo em atenção as testas do pano construção naval. Com as obras-vivas mais pro-
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tentes . Quanto ao número de velas de proa redondo e simultaneamente mais próximo tegidas a madeira utilizada na sua construção
e às respectivas áreas, passou a ser mais fina,
sempre se pretendeu, logo menos dispen-
para cada caso, que diosa, tornando-se os
estas pudessem confe- navios mais leves e rá-
rir equilíbrio ao navio, Arquivo CTEN António Gonçalves pidos. Antes do surgir
em função da marea- desta novidade a pro-
ção do restante pano e tecção era assegurada
da marcação do vento pelo impregnar do cas-
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relativo. Não obstante co com breu .
esta importante função É também no final
das velas de proa, cedo do século XVII, prelú-
se percebeu que estas dio do fértil e derradei-
detinham também um ro ciclo de desenvol-
papel importante na vimento dos grandes
velocidade do navio veleiros, que surge o
e revelaram-se funda- navio que passou a ser
mentais para que se O lugre de sete mastros Thomas Lawson, provavelmente o maior navio com este tipo de aparelho jamais conhecido como fra-
pudesse navegar mais construído. gata. Tratava-se, essen-
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chegado ao vento, tarefa só possível em con- do oficial de quarto, responsável pelas alte- cialmente, de um navio de três mastros , cuja
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junto com as velas latinas quadrangulares. rações do rumo. vela ré , como era conhecida, foi sabiamente
Este importante quadro de alterações levou Um dos grandes problemas que sempre substituída por uma mezena com carangueja,
ao aparecimento do novo tipo de aparelho afectou os navios de madeira, em especial sendo posteriormente adicionada a retranca.
que mais tarde conheceu outras variantes, na aqueles que navegam em águas tropicais, foi A fragata foi acima de tudo pensada como um
exacta medida das diferentes combinações a degradação das obras-vivas, que encontra navio de guerra de linhas relativamente finas,
com recurso a um maior ou menor número explicação pelo facto de nessas paragens o armada com canhões e com um relativamen-
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de velas redondas . molusco teredo navalis, vulgo teredo, adquirir te pequeno bordo livre, capaz de atingir uma
Como todas estas velas se de- velocidade superior a qualquer outro
senvolvem para ré dos respectivos navio da época. Por isso foi utilizada
mastros, daqui resulta uma pressão ao longo do séculos XVIII-XIX em ac-
assimétrica sobre o aparelho, que Foto CTEN António Gonçalves ções de exploração, «corso oficial»,
ultrapassa em muito a acção das dar caça a navios inimigos, bem como
próprias enxárcias. Por isso, como fazer a escolta de comboios e apoio
forma de resolver este problema, a navios maiores, que apesar de mais
foi necessário passar a dispor de bem armados viram o respectivo des-
um cabo que a barlavento, à popa, locamento, calado e boca afectarem
pudesse aguentar o somatório das severamente a sua velocidade e ma-
forças transferidas para o mastro nobrabilidade, a ponto de os tornarem
que se encontra mais a ré. Este incompatíveis com as características
cabo indispensável é aquele que exigidas a um navio de guerra .
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hoje apelidamos de brandal volan- Terá sido também a fragata o pri-
te , que faz arreigada no galope do meiro navio a utilizar velas de entre-
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mastro da mezena, elemento chave mastro e sobres , na tentativa de
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em qualquer navio com estas ca- aumentar ainda mais a sua velocida-
racterísticas, e cuja manobra deve de. O aligeirar das suas dimensões
ser levada em linha de conta quan- e aparelho terá levado ao apareci-
do o navio vira de bordo. mento da corveta e do brigue, con-
Este aparelho acabou por se im- tando este último com apenas dois
por ao nível dos barcos de lazer e mastros redondos.
competição, tendo sido também O denominado navio de linha ,
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adoptado com vantagem em mui- que as principais potências marítimas
tos navios de grandes dimensões europeias dispuseram neste período,
construídos nos séculos XIX-XX. detinha muitas das características e
Também a roda do leme, que qualidades acima descritas, acomo-
actualmente associamos a qual- dando no entanto um maior núme-
quer navio, só foi inventada por ro de peças de artilharia do que a fra-
alturas do início do século XVIII. O Um navio de linha ainda com vela ré, visto por Gilbert Gleiss. gata, normalmente distribuídas por
seu desenvolvimento trouxe consi- várias baterias (cobertas). Para além
go duas grandes vantagens. Em primeiro lugar voracidade e dimensões extraordinárias . Se- de se constituírem como o navio de combate
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exige um menor esforço por parte do mari- gundo Chatterton, no seu livro Sailing Ships, por excelência, a construção de toda uma es-
nheiro do leme , uma vez que o movimento só em 1761 foram pela primeira vez aplicadas quadra obedecia rigorosamente aos mesmos
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é intermediado por dois aparelhos de força chapas de cobre no casco de um navio. Dados planos, tanto ao nível do casco como do pró-
(talhas), um em cada bordo, funcionando o os excelentes resultados obtidos, esta prática prio aparelho. Só assim era possível que todos
eixo da roda do leme (tambor) como enrola- passou a ser corrente, tanto no que respeita à os navios, com o vento a soprar com a mesma
REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2006 23