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Setting Sail
Setting Sail
3. Tempo Derradeiro – 1ª parte
alvez por alturas do primeiro quartel do cabos, tripulações menos numerosas do que Its proportions are more agreeable to the eye
século XVI os construtores navais holan- os tradicionais navios de pano redondo. Além than those of any other species or craft, and its
Tdeses começaram a dar corpo a um tipo disso, sempre que se carrega uma vela latina rig is in favour with owners of yachts – espe-
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de aparelho inovador, que foi posteriormente quadrangular (gaff-sail) a carangueja é arriada cially with those whose yachts are large. The
sendo aperfeiçoado por ingleses, franceses, sob volta das respectivas adriças da boca e do schooner’s distinctive peculiarities are, that it
americanos e canadianos, carries two masts, which
com especial incidên- usually rake aft or lean
cia ao longo dos séculos back a good deal; and its
XVIII e XIX. Referimo-nos, rig is chiefly fore-and-aft,
como se depreende, ao Arquivo CTEN António Gonçalves like the sloop […] Scho-
aparelho que caracteriza oners sometimes carry a
os navios de pano predo- large square-sail, which is
minantemente latino, que spread when the wind is
nos países anglo-saxóni- dead aft; and one of their
cos é vulgarmente conhe- great advantages is that
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cido como schooner . De they can be worked with
uma forma algo sintética fewer hands than sloops
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podemos definir este tipo of the same size» .
de navio como tendo for- Foi só por alturas do
mas relativamente finas ao início do século XVIII
nível do casco e uma qua- que também os holan-
se total ausência de supe- deses desenvolveram a
restruturas acima do con- vela latina triangular ,
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vés, sendo o seu aparelho que é actualmente o tipo
inicialmente constituído Uma das primeiras imagens com navios de pano “fore-and-aft” flamengos, de meados do século XVII. de vela mais comum. Em
por dois mastros com ve- Atente-se na existência de tábuas de bolina em ambos os navios. nosso entender, dada a
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las latinas (fore-and-aft) cujas testas envergam pique (pena) . Ora, tal procedimento possibilita evolução dos diferentes aparelhos dos navios
no respectivo mastro por intermédio de garrun- o abafar da vela por parte de um reduzido nú- de vela, este passo terá tido na sua base duas
chos de grandes dimensões, encontrando-se o mero de marinheiros, sendo a posterior opera- importantes razões. Desde logo o facto de os
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gurutil e a esteira envergados em duas vergas ção de ferrar o pano feita ao nível do convés. O navios de grande porte, como as naus e os ga-
denominadas, respectivamente, carangueja e que convenhamos torna muito menos exigente leões, disporem de vários estais de grande bi-
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retranca . Estas duas vergas, nomeadamente a e perigosa a sua manobra, nomeadamente em tola com o objectivo de aguentar para vante os
inferior (retranca), vieram tornar mais simples situações de mau tempo. respectivos mastros e mastaréus. Que como vi-
a afinação da própria vela, permi- mos anteriormente contavam com
tindo que com ventos largos, ou de uma guinda apreciável, além da
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popa, esta pudesse ser disparada , área vélica sempre crescente exer-
com o objectivo de maximizar o cer enorme pressão sobre estas
seu rendimento. Graças a isso tam- Arquivo CTEN António Gonçalves aparentemente frágeis estruturas .
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bém a própria acção de cambar , Ou seja, existiam cabos suficiente-
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na manobra de virar de bordo, viu mente fortes onde até então ainda
facilitados os respectivos movimen- ninguém se tinha lembrado de en-
tos. O que a tornou mais expedita vergar uma vela. Não menos im-
e isenta de riscos, por comparação portante terá sido a necessidade de
com a caravela. conferir equilíbrio vélico aos distin-
Embora sobre este tipo de na- tos tipos de armação, uma vez que
vios já muito tenha sido escrito, a a vela de cevadeira utilizada a van-
exemplo do que vimos para muitos te era pouco eficaz neste particular,
dos outros casos que trouxemos a porque apenas podia ser utilizada
lume, também aqui não existem com ventos relativamente largos.
consensos quanto às origens e Este problema real deve ter preo-
causas que levaram ao seu apa- cupado muitos comandantes pe-
recimento. De resto, até o próprio los seus efeitos perniciosos sobre
nome pelo qual este tipo de navio é o governo e consequente perda de
conhecido encerra ele próprio uma velocidade, e foi agravado com o
certa aura de mistério, que só a tra- aparecimento desta nova armação.
dição oral nos permite, hoje, con- Efectivamente, uma vez que todo
jecturar acerca da sua génese . O veleiro Livonia onde se podem observar os garrunchos que abraçam os mastros. o pano latino quadrangular se de-
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Um dado parece, no entanto, reunir alguma De acordo com as nossas leituras pensamos senvolve para ré dos mastros onde se encontra
unanimidade. De facto este tipo de navio , face ter sido M. Ballantyne quem conseguiu des- envergado, a vela do mastro mais a vante (tra-
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às características do respectivo aparelho, é de crever o schooner de uma maneira ímpar, em quete) não consegue anular a tendência para a
longe menos complexo, exigindo, em virtude 1874: «This is the most elegant and, for small orça provocada pela vela de ré . Daí a neces-
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de para cada vela existir um menor número de craft, the most manageable vessel that floats. sidade de colocar velas entre o lais do gurupés
22 JANEIRO 2006 U REVISTA DA ARMADA