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SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA
                       SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA

                               ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX
                                ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX

                                        O CONSULADO DA MARINHA                                       1ª Parte

                                  a vida da  tónio de Almeida como secretário perpé-  períodos mais discretos e mais apagados
                                  Socieda-  tuo. Entraram também para a Direcção os  da vida da Sociedade de Geografia. Não
                            Nde de Ge-      Professores Narana Coissoró, Políbio Va-  se pretendia, de forma alguma, uma insti-
                            ografia sentiu-se  lente, Soares Barata e Almerindo Leça e o  tuição que fosse ou parecesse reaccionária,
                            sempre a presen-  Comandante Mendes Quinto.        mas também não se queria uma instituição
                            ça de distintas fi-  Além do Prof. Adriano Moreira, dei-  que fosse ou parecesse revolucionária. A
                            guras da Armada.  xaram nesse ano a Direcção os Almiran-  Sociedade de Geografia, que já superara
                            Vinha talvez do  tes Roboredo e Silva e Marques Espartei-  com êxito a transição da Monarquia para a
                            tempo em que as  ro, o Comandante João de Figueiredo, o  República e da ditadura dos partidos para
         circunstâncias justificavam a existência de  Prof. Dr. Pereira Neto, os Drs. Martim de  a ditadura militar, queria permanecer, de
         um só Ministério da Marinha e do Ultramar,  Albuquerque, Moreira Rato e Costa Frei-  acordo com os seus estatutos e a sua tradi-
         criado pela primeira vez em 1795. Estou a  tas e o General Silvino Silvério Marques.  ção, independente das transformações po-
         lembrar-me por exemplo, e por serem mais  Mantiveram-se como vogais o Engenhei-  líticas e sociais. Assim veio a acontecer.
         conhecidos, de Ferreira do Amaral, de                                       O seu património cultural e a prá-
         Almeida d’Eça, de Azevedo Coutinho                                         tica de um século de actividade não
         e de Ernesto de Vasconcelos.                                               se ajustava perfeitamente ao fenó-
            Mas no último quartel do sécu-                                          meno da descolonização, até por-
         lo XX foram oficiais da Armada os                                           que grande parte dos seus sócios era
         quatro presidentes e foram muitos                                          constituída por antigos funcionários,
         os marinheiros na vida da Sociedade,                                       militares, escritores e investigadores
         nas suas Comissões e Secções.                                              que deram o melhor das suas vidas à
            Não foi de início um período fácil,                                     administração, à defesa ou ao estudo
         como se sabe e se compreende, mas                                          do Ultramar Português. Como, por
         as várias Direcções souberam pre-                                          exemplo, o ilustre democrata e reco-
         servar a Instituição e restituí-la, se                                     nhecido anti-situacionista Jaime Cor-
         assim se pode dizer, intacta, adapta-                                      tesão, que foi membro activo da Co-
         da e prestigiada.                                                          missão de Defesa das Colónias.
           Sei que vou omitir o nome de pes-                                         Parece ter-se conseguido o deseja-
         soas e a memória de factos que, com                                        do equilíbrio. Prova disso constitui o
         toda a justiça, deveriam ser assina-                                       facto de o Almirante Rosa Coutinho,
         lados. Mas a culpa não é só minha,                                         oficial distinto que apareceu na Junta
         é, sobretudo, do respeito que tenho                                        de Salvação Nacional e que se tornou,
         pela vossa paciência. Mesmo assim,                                         com surpresa, simpatizante da es-
         receio abusar dela.                                                        querda profunda, se ter tornado sócio
           As eleições de 1975, em plena Re-                                        da Sociedade de Geografia em 1975,
         volução, para os Corpos Gerentes da                                        assim como o Almirante Pinheiro de
         Sociedade de Geografia marcaram o                                           Azevedo e o Dr. Salgado Zenha, am-
         início de uma nova época da sua vida                                       bos futuros candidatos, pela esquer-
         cultural. Empenhada, apesar de objec-  Almirante Coelho da Fonseca         da, à Presidência da República.
         tivos muito mais amplos, no estudo   Presidente da SGL 1975-1977            Em 1975 a SGL completava cem
         do Ultramar Português e na defesa dos seus  ro Carlos Kruss Abecasis, o Prof. Dr. An-  anos de existência e havia que assinalar
         valores, via-se então frente a uma situação  tónio Maria Godinho e o Dr. Juiz António  esta efeméride. Mas 1975 foi precisamente
         decorrente da descolonização, preocupada  de Maia Malta.              o ano da descolonização e das grandes agi-
         com a agitação política e social no País, des-  Não houve alterações na Comissão Re-  tações, pelo que não convinha dar muita
         provida das ajudas financeiras oriundas das  visora de Contas.         visibilidade à Instituição, tradicionalmen-
         antigas Colónias e sem grandes esperanças   Nas Comissões houve um incidente  te conservadora e voltada para o Ultramar.
         no apoio dos novos governos.       digno de nota. O presidente da Comissão  Por isso, as comemorações resumiram-se a
           O Prof. Adriano Moreira, presidente ces-  Infante D. Henrique, Almirante Sarmen-  quatro discretas acções realizadas ao lon-
         sante, tomadas algumas precauções polí-  to Rodrigues, suspendeu as suas funções  go de três anos.
         tico-militares, convidou o Almirante Fer-  temporariamente por ter sido preso pelos   Os CTT, anuindo à sugestão da Socieda-
         nando Simões Coelho da Fonseca, oficial  revolucionários. O Almirante que era, na  de, fizeram uma emissão comemorativa
         distinto e descomprometido com o regime  altura da prisão, presidente da empresa  de selos postais, notável pelo simbolismo,
         deposto, a apresentar a sua candidatura a  turística TORRALTA e do Centro de Estu-  pelos desenhos e pela cor, cuja execução
         presidente, sendo vice-presidentes o Prof.  dos de Marinha, foi sem dúvida um dos  se ficou a dever ao sócio Arquitecto Mar-
         Doutor Manuel Jacinto Nunes, o Coman-  sócios mais distintos e mais dedicados  tins Barata.
         dante Dr. Eduardo Serra Brandão, o Prof.  desta Sociedade.              Em 1976 foi publicada, em edição come-
         Padre António Silva Rêgo e o Prof. Enge-  Dava-se assim início ao primeiro man-  morativa do centenário, uma reprodução
         nheiro Ário Lobo de Azevedo, mantendo  dato pós-revolução, que foi intencional-  da edição crítica do “Esmeraldo de situ
         o Coronel António José Caria como secre-  mente, por deliberação do próprio presi-  orbis”, inserta nos Boletins da Sociedade
         tário-geral e, obviamente, o Prof. Dr. An-  dente e com o apoio da Direcção, um dos  de 1903 e 1904.

         22  JULHO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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