Page 240 - Revista da Armada
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SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA
SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA
ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX
ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX
O CONSULADO DA MARINHA 1ª Parte
a vida da tónio de Almeida como secretário perpé- períodos mais discretos e mais apagados
Socieda- tuo. Entraram também para a Direcção os da vida da Sociedade de Geografia. Não
Nde de Ge- Professores Narana Coissoró, Políbio Va- se pretendia, de forma alguma, uma insti-
ografia sentiu-se lente, Soares Barata e Almerindo Leça e o tuição que fosse ou parecesse reaccionária,
sempre a presen- Comandante Mendes Quinto. mas também não se queria uma instituição
ça de distintas fi- Além do Prof. Adriano Moreira, dei- que fosse ou parecesse revolucionária. A
guras da Armada. xaram nesse ano a Direcção os Almiran- Sociedade de Geografia, que já superara
Vinha talvez do tes Roboredo e Silva e Marques Espartei- com êxito a transição da Monarquia para a
tempo em que as ro, o Comandante João de Figueiredo, o República e da ditadura dos partidos para
circunstâncias justificavam a existência de Prof. Dr. Pereira Neto, os Drs. Martim de a ditadura militar, queria permanecer, de
um só Ministério da Marinha e do Ultramar, Albuquerque, Moreira Rato e Costa Frei- acordo com os seus estatutos e a sua tradi-
criado pela primeira vez em 1795. Estou a tas e o General Silvino Silvério Marques. ção, independente das transformações po-
lembrar-me por exemplo, e por serem mais Mantiveram-se como vogais o Engenhei- líticas e sociais. Assim veio a acontecer.
conhecidos, de Ferreira do Amaral, de O seu património cultural e a prá-
Almeida d’Eça, de Azevedo Coutinho tica de um século de actividade não
e de Ernesto de Vasconcelos. se ajustava perfeitamente ao fenó-
Mas no último quartel do sécu- meno da descolonização, até por-
lo XX foram oficiais da Armada os que grande parte dos seus sócios era
quatro presidentes e foram muitos constituída por antigos funcionários,
os marinheiros na vida da Sociedade, militares, escritores e investigadores
nas suas Comissões e Secções. que deram o melhor das suas vidas à
Não foi de início um período fácil, administração, à defesa ou ao estudo
como se sabe e se compreende, mas do Ultramar Português. Como, por
as várias Direcções souberam pre- exemplo, o ilustre democrata e reco-
servar a Instituição e restituí-la, se nhecido anti-situacionista Jaime Cor-
assim se pode dizer, intacta, adapta- tesão, que foi membro activo da Co-
da e prestigiada. missão de Defesa das Colónias.
Sei que vou omitir o nome de pes- Parece ter-se conseguido o deseja-
soas e a memória de factos que, com do equilíbrio. Prova disso constitui o
toda a justiça, deveriam ser assina- facto de o Almirante Rosa Coutinho,
lados. Mas a culpa não é só minha, oficial distinto que apareceu na Junta
é, sobretudo, do respeito que tenho de Salvação Nacional e que se tornou,
pela vossa paciência. Mesmo assim, com surpresa, simpatizante da es-
receio abusar dela. querda profunda, se ter tornado sócio
As eleições de 1975, em plena Re- da Sociedade de Geografia em 1975,
volução, para os Corpos Gerentes da assim como o Almirante Pinheiro de
Sociedade de Geografia marcaram o Azevedo e o Dr. Salgado Zenha, am-
início de uma nova época da sua vida bos futuros candidatos, pela esquer-
cultural. Empenhada, apesar de objec- Almirante Coelho da Fonseca da, à Presidência da República.
tivos muito mais amplos, no estudo Presidente da SGL 1975-1977 Em 1975 a SGL completava cem
do Ultramar Português e na defesa dos seus ro Carlos Kruss Abecasis, o Prof. Dr. An- anos de existência e havia que assinalar
valores, via-se então frente a uma situação tónio Maria Godinho e o Dr. Juiz António esta efeméride. Mas 1975 foi precisamente
decorrente da descolonização, preocupada de Maia Malta. o ano da descolonização e das grandes agi-
com a agitação política e social no País, des- Não houve alterações na Comissão Re- tações, pelo que não convinha dar muita
provida das ajudas financeiras oriundas das visora de Contas. visibilidade à Instituição, tradicionalmen-
antigas Colónias e sem grandes esperanças Nas Comissões houve um incidente te conservadora e voltada para o Ultramar.
no apoio dos novos governos. digno de nota. O presidente da Comissão Por isso, as comemorações resumiram-se a
O Prof. Adriano Moreira, presidente ces- Infante D. Henrique, Almirante Sarmen- quatro discretas acções realizadas ao lon-
sante, tomadas algumas precauções polí- to Rodrigues, suspendeu as suas funções go de três anos.
tico-militares, convidou o Almirante Fer- temporariamente por ter sido preso pelos Os CTT, anuindo à sugestão da Socieda-
nando Simões Coelho da Fonseca, oficial revolucionários. O Almirante que era, na de, fizeram uma emissão comemorativa
distinto e descomprometido com o regime altura da prisão, presidente da empresa de selos postais, notável pelo simbolismo,
deposto, a apresentar a sua candidatura a turística TORRALTA e do Centro de Estu- pelos desenhos e pela cor, cuja execução
presidente, sendo vice-presidentes o Prof. dos de Marinha, foi sem dúvida um dos se ficou a dever ao sócio Arquitecto Mar-
Doutor Manuel Jacinto Nunes, o Coman- sócios mais distintos e mais dedicados tins Barata.
dante Dr. Eduardo Serra Brandão, o Prof. desta Sociedade. Em 1976 foi publicada, em edição come-
Padre António Silva Rêgo e o Prof. Enge- Dava-se assim início ao primeiro man- morativa do centenário, uma reprodução
nheiro Ário Lobo de Azevedo, mantendo dato pós-revolução, que foi intencional- da edição crítica do “Esmeraldo de situ
o Coronel António José Caria como secre- mente, por deliberação do próprio presi- orbis”, inserta nos Boletins da Sociedade
tário-geral e, obviamente, o Prof. Dr. An- dente e com o apoio da Direcção, um dos de 1903 e 1904.
22 JULHO 2007 U REVISTA DA ARMADA