Page 243 - Revista da Armada
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Conservação e museologia
Conservação e museologia
de mãos dadas… no Museu de Marinha
de mãos dadas… no Museu de Marinha
O PROJECTO DE CONSERVAÇÃO DAS GALEOTAS REAIS
O RESTAURO DO BERGANTIM REAL – 1ª PARTE
NAVEGANDO PELA HISTÓRIA pesquisa realizada parece ter sido na visita de com cortinas e almofadas de ouro e prata,
Felipe II a Portugal que os portugueses tiveram com trinta remeiros vestidos de damasco car-
o artigo publicado em Junho apresen- a oportunidade de conhecer de perto um novo mezim, guarnecida de galões d´ouro” (Espar-
támos as origens do Projecto de Con- tipo de embarcação real: a Galeota. O monar- teiro, 1965: 13).
Nservação das Galeotas Reais. Falámos ca chegou a Lisboa numa comitiva de 13 galés, Pouco tempo depois, em 1687, D. Pedro II
também na natureza deste projecto, nas suas uma das quais a Galeota Real que, segundo a ordenou a construção de um bergantim de 62
características e no seu remos, em Lisboa, para
funcionamento desde poder receber condi-
2001 até à actualida- gnamente a sua segunda
de. Desta vez, o tema esposa D. Maria Sophia
que aqui nos traz, diz Isabel de Neubourg (op.
respeito à I Fase do re- cit., p. 13). Esta seria a
ferido projecto: O pro- primeira embarcação
cesso de Conservação de gala com a camari-
e Restauro do Bergan- nha envidraçada, sendo
tim Real. Este tema será esta uma característica
apresentado em duas que se manteria até ao
partes, a primeira delas reinado de D. Maria I .
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permitir-nos-á conhe- O mesmo bergantim
cer o historial técnico serviu a D. João V para
do Bergantim Real e os receber sua esposa a
vários aspectos envol- rainha Arquiduquesa
vidos na sua conserva- “Desembarcacion de SV M en Lisboa. Desenhado por Domingues Vieira, pintor do Rei” (Lavanha, 1622). Maria de Áustria, em
ção ao longo da história. Desta maneira, em bibliografia consultada “surgia, enorme, rica de Outubro de 1708.
Agosto mergulharemos até às profundezas do talha doirada de proa a popa, com a elegância Chegamos assim até 1728, altura em que
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processo de conservação e restauro realizado de um cisne e a nobreza de uma obra de arte” . o próprio D. João V mandaria construir um
nesta embarcação real entre 2002 e 2004. Esta galeota era movida por uma “chusma de Bergantim “verdadeiramente digno do seu
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A abordagem histórica que aqui realiza- quatrocentos e vinte forçados vestidos de da- orgulho balofo de Rei Sol” do qual o erudito
mos permitir-nos-á perceber a importância da masco carmesim; os remos doirados até o meio, abade de Castro dizia que “todo ele mais pa-
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embarcação que foi objecto de restauro e, ao como era tudo de proa a popa…” recia um custoso e imperial palácio, do que
mesmo tempo, as escolhas realizadas do bergantim” (Esparteiro, 1965: 13 e 14).
ponto de vista técnico no que à sua recu- Entre 1780 e 1783 seria construída, por
peração se refere. ordem de D. Maria I, a embarcação que se
A intervenção de conservação e restau- encontra no Museu de Marinha de Lisboa
ro que apresentamos pela primeira vez ao actualmente: o único Bergantim Real que
público neste e no próximo artigo, consti- sobreviveu até aos nossos dias.
tui um exemplo de diálogo entre museu, Relativamente às deslocações dos mo-
cultura marítima e público. narcas pelo rio Tejo ou desde as naus e ga-
leões até terra firme, tudo parece indicar
OS ANTEPASSADOS que eram realizadas em “batéis vulgares,
DO BERGANTIM REAL. cuja riqueza às vezes considerável, estava
apenas nas tapeçarias, nos panos de oiro,
Duas questões serão o suficiente para nos bancais e forcaretes preciosos que os
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desenvolver este assunto: recobriam…” .
A primeira delas: De que época data a
construção da primeira embarcação real A CRIAÇÃO DA GALEOTA
designada por Galeota? DE D. MARIA I
A segunda questão, consequência na-
tural da primeira, nos levará a questionar- A construção do Bergantim Real foi en-
mo-nos então… Que tipo de embarcação comendada pela Rainha D. Maria I ao mi-
utilizavam os monarcas portugueses para nistro da Marinha Martinho de Melo e Cas-
atravessar o rio Tejo ou para embarcar e O Bergantim de D. Pedro II. tro em 1778. Ele, por sua vez, encarregou
desembarcar das naus e galeões que não o risco e a construção desta embarcação
podiam chegar até aos cais das cidades antes Segundo esta informação, o primeiro ber- real ao primeiro-constructor do Arsenal Real
do aparecimento da galeota? gantim português terá sido construído na Ri- de Marinha (até 1939 na Ribeira das Naus)
É difícil precisar com exactidão o ano ou in- beira da Naus e lançado à água em 1666 . Torquato José Clavina.
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clusive, o reinado em que o primeiro Bergan- Dele dizia-se que “era um bergantim enta- Segundo a pesquisa realizada, a construção
tim Real português foi construído. Segundo a lhado e dourado, soberbamente endereçado desta embarcação teve início em 1 de Junho
REVISTA DA ARMADA U JULHO 2007 25