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Conservação e museologia
                              Conservação e museologia

               de mãos dadas… no Museu de Marinha
               de mãos dadas… no Museu de Marinha

                       O PROJECTO DE CONSERVAÇÃO DAS GALEOTAS REAIS

                            O RESTAURO DO BERGANTIM REAL – 1ª PARTE

         NAVEGANDO PELA HISTÓRIA            pesquisa realizada parece ter sido na visita de  com cortinas e almofadas de ouro e prata,
                                            Felipe II a Portugal que os portugueses tiveram  com trinta remeiros vestidos de damasco car-
               o artigo publicado em Junho apresen-  a oportunidade de conhecer de perto um novo  mezim, guarnecida de galões d´ouro” (Espar-
               támos as origens do Projecto de Con-  tipo de embarcação real: a Galeota. O monar-  teiro, 1965: 13).
         Nservação das Galeotas Reais. Falámos  ca chegou a Lisboa numa comitiva de 13 galés,   Pouco tempo depois, em 1687, D. Pedro II
         também na natureza deste projecto, nas suas  uma das quais a Galeota Real que, segundo a  ordenou a construção de um bergantim de 62
         características e no seu                                                              remos, em Lisboa, para
         funcionamento desde                                                                   poder receber condi-
         2001 até à actualida-                                                                 gnamente a sua segunda
         de. Desta vez, o tema                                                                 esposa D. Maria Sophia
         que aqui nos traz, diz                                                                Isabel de Neubourg (op.
         respeito à I Fase do re-                                                              cit., p. 13). Esta seria a
         ferido projecto: O pro-                                                               primeira embarcação
         cesso de Conservação                                                                  de gala com a camari-
         e Restauro do Bergan-                                                                 nha envidraçada, sendo
         tim Real. Este tema será                                                              esta uma característica
         apresentado em duas                                                                   que se manteria até ao
         partes, a primeira delas                                                              reinado de D. Maria I .
                                                                                                               4
         permitir-nos-á conhe-                                                                 O mesmo bergantim
         cer o historial técnico                                                               serviu a D. João V para
         do Bergantim Real e os                                                                receber sua esposa a
         vários aspectos envol-                                                                rainha Arquiduquesa
         vidos na sua conserva-  “Desembarcacion de SV M en Lisboa. Desenhado por Domingues Vieira, pintor do Rei” (Lavanha, 1622).  Maria de Áustria, em
         ção ao longo da história. Desta maneira, em  bibliografia consultada “surgia, enorme, rica de  Outubro de 1708.
         Agosto mergulharemos até às profundezas do  talha doirada de proa a popa, com a elegância   Chegamos assim até 1728, altura em que
                                                                            1
         processo de conservação e restauro realizado  de um cisne e a nobreza de uma obra de arte” .  o próprio D. João V mandaria construir um
         nesta embarcação real entre 2002 e 2004.   Esta galeota era movida por uma “chusma de  Bergantim “verdadeiramente digno do seu
                                                                                                  5
           A abordagem histórica que aqui realiza-  quatrocentos e vinte forçados vestidos de da-  orgulho balofo de Rei Sol”  do qual o erudito
         mos permitir-nos-á perceber a importância da  masco carmesim; os remos doirados até o meio,  abade de Castro dizia que “todo ele mais pa-
                                                                    2
         embarcação que foi objecto de restauro e, ao  como era tudo de proa a popa…”    recia um custoso e imperial palácio, do que
         mesmo tempo, as escolhas realizadas do                                  bergantim” (Esparteiro, 1965: 13 e 14).
         ponto de vista técnico no que à sua recu-                                 Entre 1780 e 1783 seria construída, por
         peração se refere.                                                      ordem de D. Maria I, a embarcação que se
           A intervenção de conservação e restau-                                encontra no Museu de Marinha de Lisboa
         ro que apresentamos pela primeira vez ao                                actualmente: o único Bergantim Real  que
         público neste e no próximo artigo, consti-                              sobreviveu até aos nossos dias.
         tui um exemplo de diálogo entre museu,                                    Relativamente às deslocações dos mo-
         cultura marítima e público.                                             narcas pelo rio Tejo ou desde as naus e ga-
                                                                                 leões até terra firme, tudo parece indicar
         OS ANTEPASSADOS                                                         que eram realizadas em “batéis vulgares,
         DO BERGANTIM REAL.                                                      cuja riqueza às vezes considerável, estava
                                                                                 apenas nas tapeçarias, nos panos de oiro,
           Duas questões serão o suficiente para                                  nos bancais e forcaretes preciosos que os
                                                                                            6
         desenvolver este assunto:                                               recobriam…” .
           A primeira delas: De que época data a
         construção da primeira embarcação real                                  A CRIAÇÃO DA GALEOTA
         designada por Galeota?                                                  DE D. MARIA I
           A segunda questão, consequência na-
         tural da primeira, nos levará a questionar-                               A construção do Bergantim Real foi en-
         mo-nos então… Que tipo de embarcação                                    comendada pela Rainha D. Maria I ao mi-
         utilizavam os monarcas portugueses para                                 nistro da Marinha Martinho de Melo e Cas-
         atravessar o rio Tejo ou para embarcar e   O Bergantim de D. Pedro II.  tro em 1778. Ele, por sua vez, encarregou
         desembarcar das naus e galeões que não                                  o risco e a construção desta embarcação
         podiam chegar até aos cais das cidades antes   Segundo esta informação, o primeiro ber-  real ao primeiro-constructor do Arsenal Real
         do aparecimento da galeota?        gantim português terá sido construído na Ri-  de Marinha (até 1939 na Ribeira das Naus)
           É difícil precisar com exactidão o ano ou in-  beira da Naus e lançado à água em 1666 .  Torquato José Clavina.
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         clusive, o reinado em que o primeiro Bergan-  Dele dizia-se que “era um bergantim enta-  Segundo a pesquisa realizada, a construção
         tim Real português foi construído. Segundo a  lhado e dourado, soberbamente endereçado  desta embarcação teve início em 1 de Junho
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U JULHO 2007  25
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