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Histórias de um velho marinheiro aviador
            Histórias de um velho marinheiro aviador

                                      Os Patrulhas nos Açores
                                      Os Patrulhas nos Açores
              stávamos em 1957 e, depois de um  relógio de pulso tratou ele após um inopinado  para de Lisboa a 18 de Julho afim de estar a
              ano de estadia em S. Francisco da Cali-  mergulho na água do mar e tão bem o fez que  20 em Ponta Delgada. Entretanto, durante a
         Efórnia, juntamente com o meu amigo  ainda hoje ele funciona perfeitamente.  viagem, o céu manteve-se totalmente forrado
         João Carlos Sherman de Macedo Alvarenga,   Em Maio de 1957 o “Principe” largou para  impedindo qualquer tentativa de navegação
         a frequentar vários cursos, Harbour Defense,  S. Miguel para mais uma missão SAR, ren-  astronómica. Quando o navio deveria estar a
         Nets and Booms, Fire Fighting and Damage  dendo o P 582, “Madeira”, que regressou ao  chegar ao arquipélago verificou-se que sofrera
         Control e, finalmente, Operations, nas diver-  Continente.             um desvio considerável para Norte pelo que
         sas Escolas de Treasure Island, regressámos   A busca e salvamento nos mares à volta  se tornava necessário corrigir, de imediato, o
         a Portugal onde nos aguardavam novas   dos Açores era assegurada por dois patrulhas  atraso que isso representava: velocidade má-
         colocações. Mais tarde relatarei alguns epi-  atracados, de braço dado, ao molhe de Ponta  xima até S. Miguel onde o “Afonso” acabaria,
         sódios caricatos dessa nossa tão agradável  Delgada. O nosso companheiro da primeira  ainda, por chegar a 20, mas com avaria séria
         como interessante e educativa                                                    no grupo propulsor, não habi-
         estadia,  se as minhas memó-                                                     tuado, já, a tais excessos.
         rias não me atraiçoarem e se a                                                    O Marechal Craveiro Lopes
         Revista da Armada as julgar                                                      aterraria, em Santa Maria, num
         suficientemente curiosas para                                                     Super Constellation da TAP e
         as publicar.                                                                     seguiria para Ponta Delgada na
           Mas, para já, é das comis-                                                     “Nuno Tristão” que entretanto,
         sões de busca e salvamento                                                       substituira o “Afonso de Albu-
         em S. Miguel, nos Açores, nos                                                    querque”. Foi escoltado pelo
         Patrulhas “americanos e fran-                                                    “Príncipe”, “Sal”, “S. Nicolau”
         ceses”, que duravam, normal-                                                     e “Funchal”. A 22, o Presidente
         mente, de cinco a seis meses,                                                    inaugurava o novo edifício do
         que darei conhecimento, pro-                                                     Comando da Defesa Marítima
         curando realçar os aconteci-                                                     dos Açores, em Ponta delgada.
         mentos mais marcantes das                                                        A viagem pelo arquipélago con-
         mesmas e que relembro com                                                        tinuaria a bordo daquela fraga-
         alguns detalhes curiosos e ou-  O NRP “Príncipe”.                                ta. Porém, também esta avariou
         tros, infelizmente, mais tristes.  comissão era o P 584, “Sal”, cujo imediato era  a 25, acabando o Marechal Craveiro Lopes por
            Após o regresso dos E.U.A. fui destacado,  o Rui Mourão Cordeiro de Castro, meu cama-  terminar o seu périplo açoreano a bordo do pa-
         em Março de 1957, para o Patrulha P 581,  rada de curso na Escola Naval. O “Sal” seria  trulha  P 587, “Funchal”!
         “Príncipe”, como Oficial Imediato. Era Co-  depois rendido pelo P 585, “S. Tomé”, cujo   Como nas questões de azar, como diz o
         mandante o então 1º Tenente Leão Maria Ta-  Imediato era o Manuel Arsénio Velho Pache-  povo, não há duas sem três, também ao nos-
         vares Rosado do Sacramento Monteiro, anos  co Medeiros também meu camarada, mas dois  so navio coube a sua quota-parte de desgra-
         mais tarde, Governador da Província de Cabo  anos mais novo. Em Julho desse ano chega-  ça! Escalado para desembarcar, na Terceira, a
         Verde, e era Chefe da Máquina o Subtenente  riam ao arquipélago o P 589, “S. Nicolau” e  esposa do Presidente e alguns membros da
         Hernani José da Silva Duarte que viria a fale-  o P 587, “Funchal”, para, juntamente com o  comitiva, o escaler a motor que faria a liga-
         cer, posteriormente, após baixa ao H.M., com  “Principe” e o “Sal”, escoltarem o Navio Presi-  ção com terra avariou e o transporte acabou
         problemas cardíacos. Foi substituído pelo 2º  dencial que transportaria o Presidente Cravei-  por ser feito a remos!
         Tenente Justino da Cruz que, para além da  ro Lopes na  sua viagem pelos Açores.  Correu a notícia de que o Presidente tinha,
         sua comprovada experiência profissional,   Esta estaria, entretanto, sujeita a uma série  claramente, manifestado o seu desagrado por
         tinha um “hobby” tão minucioso como útil:  de precalços desagradáveis que viriam man-  todos aqueles incidentes.
         gostava de consertar relógios, desde os maio-  char a impecabilidade que todos desejavam   Os patrulhas estavam de alerta durante
         res aos mais pequenos e muito me espantava  fosse a imagem da colaboração da Armada  uma semana, alternadamente, e as respecti-
         a sua habilidade em manusear maquinismos  no evento. O “Afonso de Albuquerque”, a  vas guarnições podiam ir a terra mas tinham
         tão minúsculos com tanta eficiência. Do meu  que tinha sido atribuída aquela missão, zar-  uma hora para se apresentar a bordo após  o





















          O Comodoro Oliveira Lima com o Comandante Sacramento Monteiro e o Tenente Tomás   O Tenente Tomás Conceição Silva com o Subtenente Hernani Duarte na Câmara.
          Conceição Silva
         12  AGOSTO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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