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tugueses . Este combate pode ter influenciado, por mar até à China. ciosa biblioteca e anotações, foi depositada na Biblioteca
a posteriori, o relato de factos passados antes de UÊ/jÊ*ÀiÃÊvÊÊ«ÀiÀÊiL>Ý>`ÀÊi- Nacional da Austrália, em Camberra.
28 Na qual, a par de Montalto, rejeita as opiniões de
1557. Outras fontes ainda, referem episódios se- viado à corte chinesa, em 1520. Ljunsgtedt, adiante apresentadas, a quem acusa de “dis-
melhantes no mesmo período, designadamente UÊ ÊvÀÕÃÌÀ>`>ÊV>ÌÛ>Ê`iÊ£xxÓ]Ê`iÀ>`>Ê«ÀÊ torções vergonhosas de factos históricos”.
em 1554, 1557 e o já citado ano de 1664. Embo- Diogo Pereira, marca o fim da preponderância 29 Nasceu na Suécia em 1759 e morreu em Macau em
ra estes últimos não constituam relatos inteira- do Estado nas viagens à China, e a sua substi- 1835, onde está sepultado. Aqui foi comerciante e Cônsul-
mente substanciados, não custa a aceitar que tuição pela dinâmica dos interesses mercantis Geral da Suécia. Publicou, em 1832, a obra An Historical
Sketch of the portuguese Settlements in China and of the Roman
todos eles se possam referir a factos reais, já que privados. Catholic Church and Mission in China & Description of the
os actos de pirataria eram então endémicos nas UÊ"ÊÌÀ>Ì>`ÊÛiÀL>ÊViiLÀ>`ÊiÊ£xx{]ÊiÌÀiÊ City of Canton. Tendo sido publicada em inglês, a obra terá
águas de Cantão, como terão continuado a ser Leonel de Sousa e a autoridade marítima de dado, na época, visibilidade internacional ao território.
30 Teixeira [20], afirma seco e lapidar como é seu tim-
até a tempos bem mais próximos de nós. Cantão, foi instrumento relevante na criação de
O que é certo é que aqueles factos históricos condições para o estabelecimento estável dos bre: “Em 1564, com a derrota dos piratas, os chineses não mais
nos incomodaram.”...
parecem dar corpo às lendas e comprovar que, portugueses no delta do rio das Pérolas.
afinal, os piratas sempre são chamados para esta UÊ"ÃÊ«ÀÌÕ}ÕiÃiÃÊiÃÌ>LiiViÀ>ÃiÊ>ÊÌÌÕÊ Bibliografia
história, mas não são dela os intérpretes princi- permanente em Macau no ano de 1557, isto é, [1] Barreto, Luís Filipe, Macau: Poder e Saber – Séculos
pais! Na verdade, as fontes, tanto portuguesas há precisamente 450 anos. XVI e XVII, Presença, Lisboa, 2006.
[2] Bosworth, Michael, The Rise and Fall of 15th
como chinesas, nem sempre são imparciais, o UÊ ÃÌiÊ>VÌiViÌÊvÊv>ÛÀiV`Ê«i>ÊV- Century Chinese Naval Seapower, www.chinapage.
que torna mais difícil a procura de verdade. jugação dos interesses mercantis portugueses, com, 2007.
Quanto à data do estabelecimento portu- [3] Boxer, C. R., O Império Marítimo Português 1415-
guês em Macau, a aceitação de 1557 como 1825, Edições 70, Lisboa, 2001.
data oficial encontra suporte em fontes por- [4] Braga, José Maria, O Primeiro Acordo Luso-Chi-
tuguesas não sendo, todavia, isenta de incer- nês, Revista de Cultura, Macau, 1987.
[5] Braga, José Maria, Vozes do Passado, Instituto
teza, como refere o Pe. Teixeira [19]. Cultural de Macau, Macau, 1987.
L. F. Barreto [1], por seu lado, afirma que [6] Cortesão, Armando, Primeira Embaixada Portu-
não é possível indicar uma data exacta, na guesa à China, Instituto Cultural de Macau, 1990.
[7] Cruz, Frei Gaspar da, Tratado das Coisas da Chi-
medida em que a instalação em Macau é na, Introdução modernização e notas de Rui Manuel
objecto de um processo que apelida de “in- Loureiro, Cotovia, Lisboa 1997.
formal e gradativo”, desenvolvido entre [8] Fok, Kai Cheong, Estudos sobre a Instalação dos
1555 e 1557. Mas adianta que “… As fontes Portugueses em Macau, Museu Marítimo de Macau/
portuguesas da época, manuscritas e impressas, Gradiva, Macau, 1996.
[9] Gomes, Luís Gonzaga Gomes, Páginas da
quando apontam uma data precisa referem sem- História de Macau, Editorial Notícias de Macau,
pre 1557…”. Macau, 1966.
E quanto ao Imperador, será que tinha Representação de Macau no séc. XVI. [10] Jesus, C. A. Montalto de, Macau Histórico, Livros
pleno conhecimento do tratado verbal entre japoneses e chineses contando, na ocasião, com do Oriente, Macau, 1990.
[11] Keil, Luís, Jorge Álvares, o Primeiro Português que Foi
Leonel de Sousa e o Haitao-Almirante do Mar de a cumplicidade das autoridades chinesas locais à China, Instituto Cultural de Macau, 1990.
Cantão, e das suas consequências em termos e, pouco depois, com a distante e relutante tole- [12] Ljungstedt, Andrew, An Historical Sketch of the Por-
de estabelecimento permanente dos “bárbaros” rância da Corte Ming. tuguese Settlements in China and of the Roman Catholic Church
em Macau? Boxer [3] afirma que tal facto apenas Nos finais do século XX a China acordou com and Mission in China & Description of the City of Canton (1832),
aconteceu cerca de vinte anos mais tarde. Não Portugal que se encerraria em 1999 o ciclo his- Viking Hong Kong Publications, Hong Kong, 1992.
[13] Maria, Frei José de Jesus, Ásia Sínica e Japónica,
custa, com efeito, aceitar a falta de entusiasmo tórico, iniciado em 1557, da sua administração edição anotada por Charles Ralph Boxer, Instituto Cul-
das autoridades locais na participação da ocor- do território de Macau. tural de Macau/ Centro de Estudos Marítimos de Ma-
rência, já que, em função da disposição do so- Z cau, Macau, 1988.
berano e da sua Corte, se arriscavam a perder, F. David e Silva [14] Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal,
ao mesmo tempo, os rendimentos das taxas Notas CALM EMQ Lisboa, 1972.
[15] Matos, J. Semedo de, A Marinha de D. Manuel I,
que cobravam pelo rendoso comércio, e a sua 21 Ver a 2ª parte deste trabalho, no nº 410 da Revista Revista da Armada nº 329 a 385, Lisboa, Março de 2000
própria cabeça. da Armada. a Abril de 2005.
No que se refere à quantidade de portugue- 22 Monsenhor Manuel Teixeira nasceu em 1912 em [16] Matos, J. Semedo de, A Marinha de D. João III,
ses, Teixeira [21] avança o número de 400 logo Trás-os-Montes, onde veio a falecer em 2003. Foi um Revista da Armada - Publicação iniciada no nº 386, Lis-
em 1557, certamente migrados dos entrepostos historiador e, sobretudo, um notável e prolífico divul- boa, Maio de 2005.
[17] Saraiva, José Hermano, História Concisa de Portu-
gador da história da presença portuguesa no Oriente e,
dispersos, activos na data do estabelecimento em particular, em Macau e na China, sobre a qual dei- gal, Publicações Europa-América, Lisboa, 1978.
em Macau. Muitos dos primeiros macaenses xou obra vastíssima. [18] Shouyi, Bai (Ed.), An Outline History of China, Fo-
seriam já asiatizados e a maioria, se não mesmo 23 Romanização da época para Shangchuan e reign Languages Press, Beijing, 1982.
a totalidade das suas mulheres seriam, segura- Langbai´ao [25]. [19] Silva, Beatriz Basto da, Cronologia da História de
24 Cita-se, a título de exemplo, um documento do séc. Macau – Séculos XVI e XVII, Direcção dos Serviços de
mente, oriundas de Goa e de Malaca. XVI, da autoria do Padre Gabriel de Matos, referido pelo Educação, Macau, 1992.
Pe. Teixeira [22]. [20] Teixeira, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese,
PORTAS QUE SE FECHAM, 25 Nasceu em Hong-Kong em 1863. Foi republicano Macau, 1940.
[21] Teixeira, Padre Manuel, Marinheiros Ilustres Re-
OUTRAS QUE SE ABREM e liberal. Colaborou em numerosos jornais de Macau, lacionados com Macau, Centro de Estudos Marítimos de
Hong-Kong, Xangai e Nova Iorque e deixou duas obras
de fundo, sobre Macau e Xangai. Caiu em desgraça após Macau, Macau, 1988.
Embora existam indícios do povoamento hu- o golpe militar de 1926 em Portugal, morrendo pouco de- [22] Teixeira, Padre Manuel, Os Macaenses, Centro de
mano de Macau que remontam a um período pois em condições económicas muito débeis. Informação e Turismo, Macau, 1965
de quatro a seis mil atrás, sabe-se que o seu de- 26 A designação resultou do modo como os documen- [23] Usellis, Robert, As Origens de Macau, Museu Ma-
senvolvimento apenas se verificou com o esta- tos oficiais, designadamente a correspondência, era pro- rítimo de Macau, 1995.
[24] Zheng, YiJun, As Técnicas de Navegação nas Ar-
belecimento dos portugueses, relativamente ao tegida por um envólucro durante o seu transporte. Uma madas de Zheng He e a sua Contribuição para a Ciência
chapa de ouro correspondia a um documento mais solene,
qual são aceites os seguintes factos: colocando-se a hipótese de, em casos especiais, os docu- Náutica, Actas do Seminário Ciência Náutica e Técnicas
UÊ ÊVµÕÃÌ>Ê`iÊ >>V>]ÊiÊ£x££]ÊvÊiÃ- mentos terem mesmo sido inscritos em folhas daquele de Navegação nos Séculos XV e XVI, Instituto Cultural
sencial ao prosseguimento da expansão até metal precioso. de Macau e Centro de Estudos Marítimos de Macau,
27 Nasceu em Hong Kong em 1897 e faleceu nos EUA Macau, 1988.
à China. em 1988. Foi considerado, na sua época, um dos maiores [25] Zhiliang, Wu, Segredos da Sobrevivência – História
UÊ À}iÊ Û>ÀiÃÊiÊ>Ê}Õ>ÀXKÊ`ÊÃiÕÊÕVÊv- historiadores da presença portuguesa no Oriente. Deixou Política de Macau, Ed. Associação de Educação de Adul-
ram, em 1513, os primeiros portugueses a viajar uma vasta bibliografia que, em conjunto com a sua pre- tos de Macau, Macau, 1999.
10 AGOSTO 2007 U REVISTA DA ARMADA