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Os Navios da Armada Real Portuguesa em 1807
          Os Navios da Armada Real Portuguesa em 1807

         O PODER NAVAL PORTUGUÊS            perior dos assuntos da Marinha e à adminis-  guarnecer os novos navios.
         NOS FINAIS DO SÉC. XVIII           tração naval (Decreto de 25 de Abril de 1795)   Ordenou ainda Melo e Castro que se realizas-
                                            sendo constituído por um presidente e quatro  sem trabalhos hidrográficos para a obtenção de
         A                                  ciais da Armada.                   cartas da costa de Portugal e planos das barras e
              partir do Século XVII Portugal precisou  vogais, escolhidos entre os mais graduados ofi-
              de se apoiar em nações que lhe assegu-
                                                                               portos. Para cooperar nesta missão seria criada
                                              O quadro de oficiais foi definido e ficou a  (1798) a Sociedade Real Marítima Militar e Geográ-
              rassem a liberdade dos oceanos, com
         vista à defesa dos seus interesses vitais – as  ser constituído por 4 chefes de esquadra (hoje  fica para o Desenho, Gravura e Impressão das Cartas
         linhas de comunicação marítima. Apoiou-se  vice-almirantes), 8 chefes de divisão (hoje con-  Hydrográficas, Geográficas e Militares a quem foi
         então na Potência Marítima dominante, com  tra-almirantes), 30 capitães de mar e guerra, 30  incumbida a tarefa do levantamento e publica-
         quem tinha interesses (económicos e políticos)  capitães de fragata, 70 capitães-tenentes, 140  ção das cartas hidrográficas e militares. As car-
         comuns, mantendo com a Europa continental  primeiros tenentes e 140 segundos tenentes, e  tas hidrográficas eram, segundo o Secretário de
         apenas relações comerciais.        fixaram-se os respectivos vencimentos.  Estado, documentos da maior importância para
           O governo de D. Maria I consegui-                                          a navegação e, por isso, deviam ser o
         ria elevar o valor das forças navais a                                       principal objectivo da Sociedade.
         um nível nunca atingido, desde os                                              Faleceu com 79 anos a 24 de Março
         finais do século XVI, devido à zelosa                                         de 1795, sendo substituído (Decreto
         diligência do Secretário de Estado dos                                       de 7 de Setembro de 1796) por D. Ro-
         Negócios da Marinha e Ultramar, Mar-                                         drigo de Sousa Coutinho.
         tinho de Melo e Castro; mantendo-se                                            Na sequência das iniciativas an-
         na liderança dos destinos da Armada                                          teriores de melhoria das infra-estru-
         durante mais de 25 anos (1770-1795),                                         turas de apoio à Armada Real, este
         procedeu a uma completa renova-                                              governante mandou construir (Al-
         ção da esquadra e à modernização                                             vará de 27 de Setembro de 1797) um
         da organização e das infra-estruturas                                        hospital destinado exclusivamente à
         de apoio.                                                                    Marinha Militar e que seria o Real Hos-
           As razões que terão levado este                                            pital de Marinha.
         governante ao desenvolvimento da                                               Devido ao impulso destes dois
         Armada seriam a ameaça de guerra                                             governantes, a Armada Portuguesa
         com a França; a protecção do comér-                                          contava, no virar do século com 65
         cio, principalmente com o Brasil; a                                          navios de alto bordo além de outros
         protecção das costas metropolitanas                                          de menor porte (14 naus, 23 fragatas,
         contra a crescente ousadia dos cor-                                          3 corvetas, 17 brigues e 8 charruas).
         sários berberes e franceses: a protec-                                       Isto significava, segundo o Coman-
         ção dos já então reduzidos territórios                                       dante Marques Esparteiro, um efec-
         no Oriente.                                                                  tivo em pessoal embarcado de cerca
           Em 1793 a Armada portuguesa                                                de 800 oficiais e 20.000 homens numa
         era composta de 13 naus, 17 fraga-                                           população de 3.100.000 habitantes. O
         tas, 13 brigues, além de outros na-                                          Exército da época com um efectivo
         vios ligeiros. Construíram-se navios,   Martinho de Melo e Castro.           oficial de 40.000 homens não conse-
         repararam-se ou modernizaram-se   Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar 1770-1795.  guia mobilizar mais de 25.000.
         os existentes, enquanto era também   Autor desconhecido.                       Na administração política dos ne-
         executada uma profunda Reforma   Lisboa, Arquivo Histórico Militar.          gócios da Marinha destacaram-se,
         Administrativa.                      A Real Junta da Fazenda da Marinha surgiu  como já referimos, dois secretários de Estado
           É também nesse ano que Martinho de Melo  como o organismo de gestão do que respeitava  – Martinho de Melo e Castro (1770-1795) e D.
         e Castro inicia novo esforço para aumentar o  à construção e recepção dos navios.  Rodrigo de Sousa Coutinho (1796-1806) – sob
         poder da esquadra, com os poucos recursos do   À Real Fábrica de Cordoaria, edificada na Jun-  cuja tutela a Marinha atingiu o 5º lugar das po-
         Tesouro. Em sete anos faz construir no Arsenal  queira competia garantir o abastecimento de  tências navais da Europa.
         18 navios de guerra, entre elas 4 naus e renova  amarras, cabos, massame, poleame e velame   Comandantes no mar foram vários os que
         outras no dique daquele estaleiro.  e toda a palamenta necessária às marinhas de  se distinguiram nesta época de grande activi-
           Os navios construídos ao abrigo destes pro-  guerra e mercante.     dade naval, como António Januário do Vale,
         jectos passaram a ser baptizados com nomes   A construção do dique do Arsenal, que foi  José Sanches de Brito, Inácio da Costa Quintela
         de personalidades – reis, príncipes ou figuras  uma das primeiras docas secas da Europa, para  Bernardo Ramires Esquível e António Ramires
         históricas – abandonando-se os tradicionais no-  reparar e querenar os navios de guerra foi ou-  Esquível. Devemos no entanto, destacar a fi-
         mes de santos. Mesmo os navios reconstruídos  tra importante medida deste período e onde  gura de D. Domingos Xavier de Lima, 7º Mar-
         e modernizados no dique mudaram de nome.  foram praticamente reconstruídos alguns na-  quês de Nisa.
           O cargo de Provedor dos Armazéns da Guiné e  vios de linha.           O desenvolvimento do ensino naval fez
         Índia é substituído pelo lugar de Intendente dos   Fundou-se o Arsenal da Baía, no Brasil e foi  surgir duas figuras de académicos. Manuel
         Armazéns, terminando a transmissão hereditá-  reorganizado o Arsenal da Índia, em Goa, im-  Carlos da Cunha e Silveira, 6º Conde de São
         ria daquele cargo; para dirigir a administração  portantes bases de apoio à operacionalidade e  Vicente que foi primeiro comandante da Aca-
         e contabilidade, foi criada a Contadoria dos Ar-  equipamento dos navios.  demia Real dos Guardas-Marinhas, para além
         mazéns da Guiné e Índia que mais tarde (Alvará   Foi criada (1782) a Companhia Real dos Guar-  de presidente do Conselho do Almirantado, e
         de 3 de Junho de 1793) passa a designar-se por  das-Marinhas e a respectiva Academia Real dos  José Maria Dantas Pereira que sucedeu ao con-
         Arsenal de Marinha.                Guardas-Marinhas, para a formação académi-  de de São Vicente no comando da Academia e
           O Conselho do Almirantado foi instituído  ca e prática dos futuros oficiais, tendo em vista  preparou a sua transferência para o Brasil em
         como a entidade que presidia à direcção su-  melhorar a preparação daqueles oficiais para  1807. Foi ele também o responsável pela or-

         10  NOVEMBRO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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