Page 337 - Revista da Armada
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ganização da Sociedade Histórica Marítima   Nau Rainha de Portugal – as filhas de   A esquadra, detida por ventos contrários saiu
         e Geográfica.'                      D. Carlota Joaquina, infantas D. Maria  a barra a 29 de Novembro, 18 horas antes da en-
                                            Francisca de Assis e D. Isabel Maria.  trada de Junot em Lisboa. Constava de 8 naus, 4
         A PARTIDA DA FAMÍLIA REAL E          Os primeiros navios que suspenderam,  fragatas 12 brigues e uma galeota, acompanha-
         A TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL         no início dos alvores de 28, foram as naus  da de 31 navios mercantes com mais de 15.000
         PARA O BRASIL                                                         pessoas, comandada pelo chefe de esquadra
           A decisão para o embarque só foi tomada                             Manuel da Cunha Souto Maior.
         quando chegou a Lisboa, em 24 de Novem-                                 Quando Junot entrou em Lisboa só teve oca-
         bro, um exemplar do jornal francês Moniteur,                          sião de ob servar, ao longe, a esquadra portu-
         enviado de Londres pelo Embaixador D. Do-                             guesa. Os franceses perdiam assim a primeira
         mingos de Sousa Coutinho, em que Napoleão                             cartada; não aprisio navam a Família Real nem
         afirmava já que a casa de Bragança tinha dei-                          se apoderavam da esquadra portuguesa! Por
         xado de reinar em Portugal.                                           outro lado, a capital do Reino era transferida
           A 26 de Novembro, com o exército de Junot                           para o Brasil – com o Governo do Reino e do
         em Abrantes, o Governo tem conhecimento da                            Império – retirando aos franceses a legitimida-
         invasão e publica um decreto onde eram expos-                         de de se poderem arrogar como novos e legais
         tos os motivos que levavam o Príncipe Regente                         governantes do país.
         a partir para o Brasil. No mesmo dia iniciou-se   Corveta Andorinha. Um dos navios portugueses que   D. João deixava ordens para que se não re-
         o embarque que se concluiu no tempo recor-  mais combates travou contra os franceses.  sistisse aos invasores, evitando o inútil derra-
         de de 48 horas. De notar que os preparativos                          mamento de sangue e deixava nomeada um
         secretos desta partida, com a transferência de                        Junta de Governo destinada a garantir o fun-
         mobiliário, arquivos, e toda a volumosa docu-                         cionamento do território com instruções para
         mentação necessária à gestão do Reino, haviam                         colaborar com Junot.
         sido iniciados cerca de um ano antes...                                 No Tejo tinham ficado ainda 5 naus a ne-
           A 27 embarcam, no cais de Belém, os                                 cessitar reparações e os navios russos do al-
         membros da Família Real que iam assim                                 mirante Siniavin; no entanto a grande maio-
         distribuídos:                                                         ria das unidades das marinhas de comércio e
           Nau Príncipe Real – Rainha D. Maria I,                              de guerra portuguesas estava fora do alcance
         Príncipe Regente, D. João, Príncipe da Beira,                         dos franceses.
         D. Pedro, infante D. Miguel, infante de Espa-                           Embora muito castigados por sucessivos
         nha D. Pedro Carlos;                Fragata Ulisses. (Museu de Marinha)  temporais de grande violência – que lhes cau-
           Nau Afonso de Albuquerque – Princesa do                             saram graves avarias – chegaram todos ao seu
         Brasil D. Carlota Joaquina, com suas filhas,  Medus a e Martim de Freitas mareando de  destino com duas excepções; a nau Príncipe
         infantas D. Maria Isabel Francisca, D. Maria  forma a passar junto dos 11 navios russos do  do Brasil que arribou a Plymouth para rece-
         da Assunção, D. Ana de Jesus e princesa da  almirante Siniavin então arribados em Lisboa  ber fabricos e a escuna Curiosa que regressou
         Beira infanta D. Maria Teresa;     e fundeados na Junqueira, com o intuito de se  a Lisboa com água aberta. Isto reflecte, por
           Nau Príncipe do Brasil – princesa viúva  aperceberem das suas intenções; estes, apesar  um lado, a qualidade e experiência dos seus
         D. Maria Francisca Benedita e infanta D. Ma-  de serem aliados de Napoleão, seriam espe-  oficiais e guarnições, e por outro, a excelência
         ria Ana, ambas irmãs da Rainha;    ctadores passivos da saída dos navios.  dos seus projectos e dos métodos de constru-
                                                                               ção naval portuguesa que, desde o século XV
                      Navios da Esquadra Portuguesa que largaram para o Brasil  preparava navios para navegarem no alto mar
          Tipo  Peças Nome         Guarnição Comandante                        em condições de tempo muito difíceis.
                                           Capitão-de-mar-e-guerra Francisco José de Canto e Castro
                90   Príncipe Real  950
                                           Mascarenhas                         A MARINHA PORTUGUESA
                74   Rainha de Portugal  669  Capitão-de-mar-e-guerra Francisco Manuel de Souto-Maior  QUE FICOU SOB A OCUPAÇÃO
                74   Conde D. Henrique  753 (a)  Capitão-de-mar-e-guerra José Maria de Almeida  FRANCESA
          Naus  74   Medusa        669     Capitão-de-mar-e-guerra Henrique da Fonseca de Sousa Prego  Após a partida da esquadra que levou a Cor-
                64   Afonso de Albuquerque 634  Capitão-de-mar-e-guerra Inácio da Costa Quintela
                                                                               te e o Governo para o Brasil, ainda ficaram no
                64   D. João de Castro  663  Capitão-de-mar-e-guerra D. Manuel João de Lócio
                                                                               Tejo alguns meios navais que não foi possível
                74   Príncipe do Brasil  663  Capitão-de-mar-e-guerra Francisco Borja Salema Garção
                                                                               aprontar por necessitarem grandes fabricos
                64   Martim de Freitas  634  Capitão-de-mar-e-guerra D. Manuel de Meneses
                                                                               ou por não haver aprestos ou guarnição su-
                48   Minerva       349     Capitão-de-mar-e-guerra Rodrigo José Ferreira Lobo
                                                                               ficientes. Eram 4 naus, 5 fragatas, 1 corveta, 2
                40   Golfinho       300     Capitão-de-mar-e-guerra Luís da Cunha Moreira (pai)
          Fragatas                                                             brigues e uma charrua. Ficava também, ainda
                40   Urânia        329     Capitão-de-fragata José Manuel de Meneses  em cavername, na carreira do Arsenal de Ma-
                48   Princesa Carlota  349  Capitão-de-fragata Francisco António da Silva Pacheco  rinha, a nau Príncipe Regente, futura D. João
                24   Voador        136     Capitão-tenente Francisco Maximiliano de Sousa  VI. Ao largo a esquadra inglesa de Sidney Smi-
                18   Vingança      97      Capitão-de-mar-e-guerra Diogo Nicolau Keating  th mantinha o seu bloqueio agora centrado na
          Brigues  24  Lebre       133     Capitão-de-mar-e-guerra Daniel Thompson  vigilância da esquadra russa.
                22   São Boaventura  90    -                                     Napoleão nomeou o capitão-de-mar-e-guer-
                20   Condessa de Resende  90  Primeiro-tenente Basílio Ferreira de Carvalho  ra Magendie, para comandar a Marinha Por-
                12   Curiosa       43      Primeiro-tenente Isidoro Francisco Guimarães  tuguesa que ficara no Tejo, preparando-a para
          Escunas  8  Furão        60      Capitão-tenente Joaquim Martins     fazer frente ao bloqueio do inglês.
                8    Ninfa         60      -                                   OS NAVIOS DA ARMADA REAL
                36   Thétis        100 (b)  Primeiro-tenente Paulo José Miguel de Brito
          Charruas  26  Princesa da Beira  100  Primeiro-tenente Joaquim José Álvares  PORTUGUESA (1807)
                                                                                 Vamos agora examinar mais detalhadamen-
                26   São João Magnânimo  100 (c)  Primeiro-tenente Custódio José da Silva e Meneses
                                                                               te as características dos navios de linha portu-
         Notas:  (a) - Transportava os elementos da Academia Real dos Guardas-Marinhas.  (b) - Transportava 100
         passaeiros e 9 carruagens reais no porão.  (c) - Transportava o material e biblioteca da Academia Real dos   gueses, e apenas estes por uma questão de não
                                                                                                  1
         Guardas-Marinhas.                                                     alongarmos este trabalho  .
                                                                                    REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2007  11
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