Page 352 - Revista da Armada
P. 352
A Banda da Armada e a
Ópera Extravagante
a história da Banda da Armada muitos Andresen, o talento dos vários cantores, actores e verdes projectadas em movimentos lentos e
são os momentos que ficaram na me- e bailarinos que deram vida a todas as perso- suaves sobre o branco dos uniformes. Sobre o
Nmória de todos quantos os viveram e nagens da ópera e, unificando todos estes ele- Mar, dentro do Mar, abaixo do Mar, a acção
ajudaram a concretizar, tanto pela função que mentos, dirigidos pelo Capitão-de- Fragata MUS adquiriu dimensões e níveis de leitura interpre-
cumpriram dentro da Instituição, como pela Carlos da Silva Ribeiro e tativa que acom-
dinâmica cultural que promoveram no seio da pelo 1º Tenente MUS Dé- panhavam os pa-
comunidade civil. Inúmeros concertos, de índo- lio Gonçalves, os músicos tamares onde se
le variada, com motivações e missões diferen- da Banda da Armada que, desenrolavam fi-
tes, para públicos heterogéneos, são efectua dos com criatividade, expres- sicamente.
anualmente, deixando em todos os seus ele- sividade e total entrega ao Outro aspec-
mentos uma genuína sensação de realização espírito inovador da obra, to que distinguiu
pessoal e profissional. deram a todos os momen- esta Ópera de
Os desafios sucedem-se naturalmente num tos musicais o lirismo, o outros espectá-
grupo cuja actividade nuclear é criativa, e na dramatismo e magia que culos musicais
Banda da Armada a acção dessa força mobi- a obra exigia. que a Banda da
lizadora tem sido permanente nas inovações Não sendo frequente Armada tives-
que tem introduzido no panorama musical em que os músicos da Banda se realizado até
geral, e no militar em então foi a he-
particular. Com as terogeneidade
características intrín- do elenco vocal
secas a cada Ramo e dramático –
das Forças Armadas cantores líricos (Inês
a pautar os desen- Madeira, Filipa Lo-
volvimentos inter- pes, João Sebastião,
nos nos seus diversos Rossano Ghira e
sectores, não será de Sara Belo), cantores
estranhar que o em- populares (Cristina
preendedorismo e a Ribeiro e Francis-
capacidade de fazer co Fanhais), canto-
da aventura, desco- res de heavy metal
berta, e da desco- (Fernando Ribeiro e
berta, conhecimento Rui Sidónio), acto-
- algumas das parti- res (Ana Brandão)
cularidades dos ho- e bailarinos (Pedro
mens do mar - se re- Ramos e Sandra Ro-
flictam na Banda da sado) – uma multi-
Armada sob a forma tude de timbres e
de arrojo criativo, ex- formas de expressão
celência artística e que expo nenciou o
um olhar amplo, activo e sempre lúcido sobre tenham a percepção total do trabalho empre- desafio de unidade musical e harmonia in-
o mundo que a rodeia. endido, dada a sua intervenção em cima do terpretativa entre todos os intervenientes na
Serve este pequeno preâmbulo para falar do palco e não na perspectiva de público, a alter- ópera. Neste aspecto, o profissionalismo de
último grande projecto em que a Banda da Ar- nância de elencos ao longo das várias récitas todos os músicos da Banda e a versatilidade e
mada se empenhou, SAGA – uma Ópera Extra- que se realizaram entre 19 de Junho e 13 de virtuosismo dos seus solistas deram um ines-
vagante, em colaboração estreita com o grupo Julho, tornou possível a muitos dos elementos timável contributo para a consistência artísti-
de teatro O Bando, com quem havia sido já es- da Banda apreciarem com maior consciência ca do espectáculo, dialogando em excelên-
tabelecida uma relação íntima em espectáculos a globalidade da obra que ajudaram a criar. cia com o trabalho de todos os outros artistas
anteriores, nomeadamente no Projecto Tartaru- Para cada um de nós, bem como para todos em palco. A competência musical e criativa
ga, também da autoria do compositor residente os Oficiais, Sargentos, Praças da Armada e do compositor Jorge Salgueiro tornaram o ter-
da Banda, Jorge Salgueiro, obra que foi apresen- público em geral que assistiram à SAGA, o reno fértil para esta coerência estilística, não
tada na íntegra em 2007, nos Açores, nas come- primeiro impacte do espectáculo consistiu na obstante as dificuldades do desafio, criando
morações do Dia da Marinha. magnitude da máquina de cena que O Bando momentos musicais inesquecíveis, de grande
Com a ópera SAGA, a colaboração com este montou, à semelhança do que tem vindo a fa- beleza e sensibilidade.
parceiro externo à Marinha alcançou um grau zer nas suas últimas produções. Aqui, bem no O incontestado sucesso foi manifesto, quer
de empatia e entendimento que foram um dos centro do pátio interior do Mosteiro dos Jeró- dentro, quer fora da nossa Instituição. Para além
responsáveis pelo enorme sucesso do espectá- nimos, uma estrutura de metal, de formas cur- das inúmeras entidades de Marinha que fizeram
culo. Mas para este resultado foram principal- vas e monumentais, emoldurava uma série de questão de apreciar mais um trabalho da Banda
mente responsáveis a notável partitura musical patamares em altura onde a Banda da Armada da Armada, o reconhecimento exterior reflectiu-
de Jorge Salgueiro, sem dúvida um dos seus se dispôs, criando o cenário principal do es- -se nas críticas na comunicação social que não
mais inspirados trabalhos, o brilhante libreto pectáculo. Na realidade a Banda representou tardaram em elogiar este evento. Para comple-
de João Brites, director d’O Bando, a profundi- um dos principais personagens da narrativa - o mentar os ecos de apreço que este espectáculo
dade das palavras de Sophia de Mello Breyner Mar - ilustrado com eficácia pelas luzes azuis obteve dentro da Instituição, aqui se deixam al-
26 NOVEMBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA