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A Banda da Armada e a


                                    Ópera Extravagante



               a história da Banda da Armada muitos  Andresen, o talento dos vários cantores, actores  e verdes projectadas em movimentos lentos e
               são os momentos que ficaram na me-  e bailarinos que deram vida a todas as perso-  suaves sobre o branco dos uniformes. Sobre o
         Nmória de todos quantos os viveram e  nagens da ópera e, unificando todos estes ele-  Mar, dentro do Mar, abaixo do Mar, a acção
         ajudaram a concretizar, tanto pela função que  mentos, dirigidos pelo Capitão-de- Fragata MUS  adquiriu dimensões e níveis de leitura interpre-
         cumpriram dentro da Instituição, como pela  Carlos da Silva Ribeiro e                      tativa que acom-
         dinâmica cultural que promoveram no seio da  pelo 1º Tenente MUS Dé-                       panhavam os pa-
         comunidade civil. Inúmeros concertos, de índo-  lio Gonçalves, os músicos                  tamares onde se
         le variada, com motivações e missões diferen-  da Banda da Armada que,                     desenrolavam fi-
         tes, para públicos heterogéneos, são efectua dos  com criatividade, expres-                sicamente.
         anualmente, deixando em todos os seus ele-  sividade e total entrega ao                     Outro aspec-
         mentos uma genuína sensação de realização  espírito inovador da obra,                      to que distinguiu
         pessoal e profissional.             deram a todos os momen-                                 esta Ópera de
           Os desafios sucedem-se naturalmente num  tos musicais o lirismo, o                        outros espectá-
         grupo cuja actividade nuclear é criativa, e na  dramatismo e magia que                     culos musicais
         Banda da Armada a acção dessa força mobi-  a obra exigia.                                  que a Banda da
         lizadora tem sido permanente nas inovações   Não sendo frequente                           Armada tives-
         que tem introduzido no panorama musical em  que os músicos da Banda                        se realizado até
         geral, e no militar em                                                                     então foi a he-
         particular. Com as                                                                         terogeneidade
         características intrín-                                                                    do elenco vocal
         secas a cada Ramo                                                                          e dramático –
         das Forças Armadas                                                                       cantores líricos (Inês
         a pautar os desen-                                                                       Madeira, Filipa Lo-
         volvimentos inter-                                                                       pes, João Sebastião,
         nos nos seus diversos                                                                    Rossano Ghira e
         sectores, não será de                                                                    Sara Belo), cantores
         estranhar que o em-                                                                      populares (Cristina
         preendedorismo e a                                                                       Ribeiro e Francis-
         capacidade de fazer                                                                      co Fanhais), canto-
         da aventura, desco-                                                                      res de heavy metal
         berta, e da desco-                                                                       (Fernando Ribeiro e
         berta, conhecimento                                                                      Rui Sidónio), acto-
         - algumas das parti-                                                                     res (Ana Brandão)
         cularidades dos ho-                                                                      e bailarinos (Pedro
         mens do mar - se re-                                                                     Ramos e Sandra Ro-
         flictam na Banda da                                                                       sado) – uma multi-
         Armada sob a forma                                                                       tude de timbres e
         de arrojo criativo, ex-                                                                  formas de expressão
         celência artística e                                                                     que expo nenciou o
         um olhar amplo, activo e sempre lúcido sobre  tenham a percepção total do trabalho empre-  desafio de unidade musical e harmonia in-
         o mundo que a rodeia.              endido, dada a sua intervenção em cima do  terpretativa entre todos os intervenientes na
           Serve este pequeno preâmbulo para falar do  palco e não na perspectiva de público, a alter-  ópera. Neste aspecto, o profissionalismo de
         último grande projecto em que a Banda da Ar-  nância de elencos ao longo das várias récitas  todos os músicos da Banda e a versatilidade e
         mada se empenhou, SAGA – uma Ópera Extra-  que se realizaram entre 19 de Junho e 13 de  virtuosismo dos seus solistas deram um ines-
         vagante, em colaboração estreita com o grupo  Julho, tornou possível a muitos dos elementos  timável contributo para a consistência artísti-
         de teatro O Bando, com quem havia sido já es-  da Banda apreciarem com maior consciência  ca do espectáculo, dialogando em excelên-
         tabelecida uma relação íntima em espectáculos  a globalidade da obra que ajudaram a criar.  cia com o trabalho de todos os outros artistas
         anteriores, nomeadamente no Projecto Tartaru-  Para cada um de nós, bem como para todos  em palco. A competência musical e criativa
         ga, também da autoria do compositor residente  os Oficiais, Sargentos, Praças da Armada e  do compositor Jorge Salgueiro tornaram o ter-
         da Banda, Jorge Salgueiro, obra que foi apresen-  público em geral que assistiram à SAGA, o  reno fértil para esta coerência estilística, não
         tada na íntegra em 2007, nos Açores, nas come-  primeiro impacte do espectáculo consistiu na  obstante as dificuldades do desafio, criando
         morações do Dia da Marinha.        magnitude da máquina de cena que O Bando  momentos musicais inesquecíveis, de grande
           Com a ópera SAGA, a colaboração com este  montou, à semelhança do que tem vindo a fa-  beleza e sensibilidade.
         parceiro externo à Marinha alcançou um grau  zer nas suas últimas produções. Aqui, bem no   O incontestado sucesso foi manifesto, quer
         de empatia e entendimento que foram um dos  centro do pátio interior do Mosteiro dos Jeró-  dentro, quer fora da nossa Instituição. Para além
         responsáveis pelo enorme sucesso do espectá-  nimos, uma estrutura de metal, de formas cur-  das inúmeras entidades de Marinha que fizeram
         culo. Mas para este resultado foram principal-  vas e monumentais, emoldurava uma série de  questão de apreciar mais um trabalho da Banda
         mente responsáveis a notável partitura musical  patamares em altura onde a Banda da Armada  da Armada, o reconhecimento exterior reflectiu-
         de Jorge Salgueiro, sem dúvida um dos seus  se dispôs, criando o cenário principal do es-  -se nas críticas na comunicação social que não
         mais inspirados trabalhos, o brilhante libreto  pectáculo. Na realidade a Banda representou  tardaram em elogiar este evento. Para comple-
         de João Brites, director d’O Bando, a profundi-  um dos principais personagens da narrativa - o  mentar os ecos de apreço que este espectáculo
         dade das palavras de Sophia de Mello Breyner  Mar - ilustrado com eficácia pelas luzes azuis  obteve dentro da Instituição, aqui se deixam al-

         26  NOVEMBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA
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