Page 19 - Revista da Armada
P. 19
da Madeira e dois elementos da DRI- existentes nas Selvagens, ao contrário
GOT, constituindo uma equipa coesa,
eficiente e eficaz. do que acontece com a sondagem com
A sondagem oceânica e costeira (até sistemas sonoros multifeixe, em que
à batimétrica dos 50 metros) foi reali-
zada pelo navio, com recurso aos seus praticamente se garante a cobertura to-
sondadores multifeixe de grandes e mé-
dias profundidades, calibrados duas ve- tal do fundo.
zes por dia com perfis de velocidade
de propagação do som na coluna de A penúltima figura mostra, em pers-
água, obtidos com equipamentos SVP
(Sound Velocity Profiler). Ao largo das pectiva, um modelo digital de terreno
ilhas foram realizadas fiadas paralelas à
direcção dominante da batimetria. Nas dos levantamentos hidrográficos realiza-
proximidades das ilhas, por razões de se-
gurança da navegação, foram realizadas dos. As zonas mais profundas estão em
fiadas de contorno desde os 150 metros
aos 50 metros de profundidade. tons de azul, as zonas menos profundas
A sondagem do fundeadouro da Selva- em tons de vermelho. As ilhas estão a
gem Grande, junto à baía das Cagarras,
zonas sul e sudoeste, foi realizada com Casa dos guardas do Parque Natural da Madeira – ponto de cor escura e as zonas não sondadas es-
a embarcação de sondagem “Cagar- apoio logístico para as acções em terra.
ra” equipada com sondador multifeixe tão a branco (zonas com menos de 50
e com um bote de sondagem equipa- Baía das Cagarras vista da casa dos guardas.
do com sondador de feixe simples (este metros de profundidade fora de área de
meio realizou essencialmente fiadas de Tolda do navio com a embarcação de sondagem “Cagarra”,
contorno em zonas mais perigosas por a embarcação de sondagem “Trinas” (não utilizada) e o bote fundeadouro). É perceptível a existência
existência de baixos rochosos). de sondagem da BH.
de uma estrutura geológica com a direc-
A sondagem do fundeadouro da Sel- Modelo digital de terreno com base nos dados preliminares
vagem Pequena foi realizada em exclu- do levantamento hidrográfico das Ilhas Selvagens. ção NE-SW, com duas elevações onde
sivo pela embarcação “Cagarra”, não
sendo viável a utilização do bote por Assinatura do protocolo entre o IH e a DRIGOT. surgem as duas ilhas. A área coberta cor-
razões de segurança do pessoal e de
material. Nesta ilha, para além do fun- responde a um quadrado com cerca de
deadouro, foi também sondado o “canal
da Selvagem Pequena” entre a ilha e o 70 km de lado.
ilhéu de fora.
No regresso da missão, o navio atra-
Na sondagem dos fundeadouros, foi
embarcado um elemento do Parque cou no porto do Funchal, tendo sido
Natural da Madeira, conhecedor dos
perigosos baixos existentes à volta das palco da assinatura de um protocolo de
ilhas, que facilitou informações sobre a
localização e a forma das rochas mais colaboração entre o Instituto Hidrográfi-
traiçoeiras.
co e a DRIGOT a que se seguiu um “Ma-
Os resultados preliminares dos levan-
tamentos hidrográficos realizados per- deira de Honra”. Os signatários do pro-
mitem verificar que, para fora da bati-
métrica dos 50 metros, existem algumas tocolo foram o VALM Augusto de Brito,
diferenças com a actual carta náutica
mas com pouca relevância para a se- Director-Geral do Instituto Hidrográfico
gurança da navegação à superfície. De-
tectaram-se muitos baixos, não cobertos e a Dra. Maria João Seixas Neves, Direc-
na sondagem de1936 e portanto não
cartografados, na zona norte da Selva- tora Regional de Informação Geográfica
gem Grande. No entanto, o maior peri-
go para a navegação – a baixa de “São e Ordenamento do Território da Região
João” com uma sonda reduzida de 2.6
metros – já na altura tinha sido detecta- Autónoma da Madeira. Estiveram ainda
do. As diferenças dos resultados estão
intimamente associadas à orografia do presentes neste evento o Engº Luís San-
fundo e diferença tecnológica disponí-
vel em 1936 (data do levantamento hi- tos Costa, Secretário Regional do Equi-
drográfico da carta editada em 1938) e
no século XXI. Refira-se que a sondagem pamento Social, o Major-General Rosas
a prumo é um método pouco eficiente,
em que se obtém uma amostra discreta Leitão, Comandante Operacional da Ma-
das profundidades, havendo assim uma
elevada probabilidade de não detectar deira e o CMG Amaral Frazão, Coman-
variações orográficas abruptas como as
dante da Zona Marítima da Madeira.
Nesta estadia, o navio foi apoiado lo-
gisticamente pelo Comando da Zona
Marítima da Madeira e visitado por ele-
mentos dos Serviços de Investigação da
Pesca, da Câmara Municipal do Funchal
e do Departamento de Biologia da Uni-
versidade da Madeira.
O cumprimento com sucesso desta
missão foi não só importante pela aqui-
sição dos dados necessários à actuali-
zação da cartografia náutica das Ilhas
Selvagens, e portanto para a segurança
da navegação nesta área, como também
pelo exercício de presença naval, por
um período relativamente prolongado,
numa área próxima dos limites do es-
paço marítimo sob soberania e jurisdi-
ção nacionais.
O NRP “Almirante Gago Coutinho” é
comandado pelo CTEN Bessa Pacheco e
tem uma guarnição de 6 oficiais, 7 sar-
gentos e 21 praças. A equipa técnica da
Brigada Hidrográfica foi chefiada pelo
1TEN Pires Vicente.
Está prevista durante o ano de 2010 a
nova edição da carta náutica das Ilhas
Selvagens. Z
L. Bessa Pacheco
CTEN
(Colaboração fotográfica da BH e mergulhadores)
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2010 19
