Page 22 - Revista da Armada
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nada poderia ser mais especial do queToulon, gua francesa, colocou-se também uma boa de ter sido financiado pela própria comuni-

cidade da nação construtora desta classe de na- garrafa de vinho do Porto, a qual despertou dade submarinista. O monumento, situado

vios e com a qual, durante todo o período de grande curiosidade, pois muitos foram os que junto ao mar nos arredores de Toulon, foi

actividade, Portugal manteve relações opera- quiseram provar o internacionalmente céle- inaugurado com toda a pompa e circunstân-

cionais e logísticas profundas. A despedida da bre produto.                   cia, contando com a presença de centenas

actividade operacional do NRP “Barracuda”, Paralelamente, foi oferecida uma recepção de pessoas e de responsáveis pela estrutura

com a passagem num porto francês, foi motivo aos representantes da Direction des Construc- politica da Defesa Nacional Francesa. Em

para recordar e reforçar as exce-                                                                                  representação de Portugal mar-

lentes relações existentes, e indi-                                                                                caram presença o comandante,

ciar o mútuo desejo e disponibi-                                                                                   um sargento e uma praça do

lidade para renovadas afinidades                                                                                    “Barracuda”, situação que foi

operacionais e de treino a terem                                                                                   muito apreciada. De facto, ter

lugar num futuro próximo.                                                                                          tido a oportunidade de presen-

A estadia neste porto foi re-                                                                                      ciar tão nobre e importante ce-

pleta de eventos protocolares                                                                                      rimónia constituiu, certamente,

que se iniciaram logo no dia                                                                                       um momento único na vida de

seguinte à chegada, 27 de No-                                                                                      um submarinista.

vembro, uma vez que se come-                                                                                       O dia da largada despertou

morava, a nível nacional, o dia                                                                                    saudade e nostalgia, pois a for-

do submarinista francês. O pro-                                                                                    ma como a guarnição do “Bar-

grama de actividades iniciou-se                                                                                    racuda” foi recebida pelos ca-

com uma conferência que abor-                                                                                      maradas franceses, incansáveis

dou a história da arma subma-                                                                                      na sua hospitalidade, retirou-

rina e a sua importância para a                                                                                    lhe o desejo de partirem, ain-

França. Esta conferência, à qual                                                                                   da que com destino a Lisboa.

assistiram algumas centenas de       Visita do Almirante CECMED e do Comandante da Esquadrilha Francesa.           Depois de 3 dias intensos em
pessoas, foi proferida por diver-                                                                                  Toulon, urgia voltar ao mar,

sas personalidades que se destacaram, ao lon- tions Navales Services (DCNS), sinal de reco- para um último e derradeiro mergulho no

go dos anos, na operação e no estudo desta nhecimento pela estreita mas eficaz colabo- Mediterrâneo, em direcção ao Estreito de

capacidade militar naval, estruturante para a ração na área da manutenção ao longo dos Gibraltar e ao Atlântico. Avizinhava-se mais

defesa e segurança de uma nação marítima. últimos 40 anos. Esta recepção contou com uma patrulha e um último exercício com a

Seguidamente, foi oferecido um almoço a o actual Chefe da Divisão de Submarinos da “Bartolomeu Dias” e o seu novo “towed ar-

toda a família submarinista, durante o qual Direcção de Navios e o seu adjunto, os CFR ray”. Apesar dos quase 42 anos de idade,

transpareceu a alegria e satisfação face à pre- EMQ Costa Campos e CFR EMQ Viveiros da não constituiria surpresa a já habitual “su-

sença dos seus congéneres portugueses. A tar- Costa. Após este almoço, o “Barracuda” foi perioridade” do submarino, mesmo peran-

de foi dedicada a visitas ao NRP “Barracuda” longamente visitado peloVALM CECMED (Co- te um navio equipado com a mais recente

e ao FS “Rubis”, os quais foram agraciados mandante Naval Francês Mediterrâneo) e pelo tecnologia de guerra anti-submarina. Antes

com algumas centenas de visitantes. Muitos CMG COMESNA (Comandante da Esquadrilha do encontro com a FRADIAS, o SUBCUDA

foram aqueles que serviram em submarinos de Submarinos Nucleares de Ataque).  teve de enfrentar, talvez pela última vez na

do tipo “Daphné” e que aproveitaram para O dia seguinte foi mais calmo em termos sua vida, um verdadeiro temporal mediter-

relembrar velhas aventuras neles passadas. de agenda mas não menos marcante. Os rânico no Golfo de Leão, com ondulação de

Houve mesmo quem revivesse                                                                                         WNW de 5 metros.

intensamente as rotinas diárias                                                                                    A viagem de regresso pros-

de outrora. Muitos não conse-                                                                                      seguiu. Finalmente, Gibrlatar

guiram esconder os sentimen-                                                                                       de novo à vista…E uma nova

tos de saudade com os olhos                                                                                        patrulha de Maritime Security

brilhantes que denunciavam a                                                                                       Operations teve então o seu

emoção sentida.                                                                                                    início. O peixe de corpo alon-

No recinto envolvente, esta-                                                                                       gado, cor preta e dentes fortes

va em exposição um conside-                                                                                        prestava mais um nobre servi-

rável conjunto de bancadas,                                                                                        ço à Pátria. A vigilância e segu-

mostrando objectos pertencen-                                                                                      rança de um espaço marítimo

tes aos submarinos franceses,                                                                                      de elevado interesse nacional

sendo permitido aos visitan-                                                                                       permanente intervalada de dois

tes adquirirem uma recorda-                                                                                        CASEX´s com a FRADIAS. O

ção dos mesmos. De entre este                                                                                      “Barracuda” acabava a sua vida

conjunto de bancadas emergia                                                                                       com um fortíssimo sinal para

uma pequena “feitoria” que                                                                                         a comunidade operacional. A

se demarcava das demais. Era                                                                                       melhor forma de terminar a

a bancada do submarino por-          Recepção à Direction des Constructions Navales pelo sucesso da manutenção da  vida de um submarino é com
tuguês. Com efeito, o “Barra-        Classe Albacora.                                                              a realização de uma patrulha…
cuda” colocara uma pequena                                                                                         E assim foi!

“ilha” de divulgação nacional no meio das submarinistas franceses, em mais um gesto Na era dos meios audiovisuais, para além

bancadas francesas, para que quem passasse de reconhecimento pelos submarinistas que das imagens intensas que permanecem in-

pudesse ter um contacto com a cultura por- morreram ao serviço da Pátria procederam delevelmente na memória, pela força dos

tuguesa, num esforço de diplomacia naval à inauguração de um monumento alusivo. eventos vividos, é possível guardar registo por

em terras francesas.                 Este monumento, para além de simbolizar o meio de imagens e sons. Estes suportes são

Entre a Bandeira Nacional, material de sacrifício dos submarinistas caídos em com- preciosos, pois permitirão às futuras gerações

representação e panfletos do navio em lín- bate ou em acidentes, teve ainda o mérito testemunhar a dádiva daqueles que prestaram

22 MARÇO 2010 U REVISTA DA ARMADA
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