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A última viagem do “Barracuda”
e o fim da 4ª Esquadrilha
É propósito desta crónica, em baptizado de “Ghazi”. Das plácidas águas verdade, nos seus tempos áureos, a família
do Tejo para as cálidas águas do Indico. Já “Daphné” chegou a contar com 23 subma-
jeito de epitáfio, relatar a última com a nova identidade, o “Cachalote” as- rinos no activo em simultâneo, 4 em Por-
grande navegação do submarino sistiria a um dos marcos da história naval tugal, 4 em Espanha, 4 na África do Sul e
“Barracuda”, conhecido na gí- indo-paquistanesa, do qual resultaria o 11 em França.
ria submarinista como Foto: Arquivo da Esquadrilha de Submarinos Nem todos os “Daphné”
“SUBCUDA”, o último conheceram o heróico desti-
submarino do tipo “Da- no do “Hangor”. Em memória
dos submarinistas franceses,
phné” ainda operacional
recorde-se o trágico destino
a nível mundial, decorri- do FS “Minerve” e do FS “Eu-
da entre 16 de Novem- rydice”, cujas guarnições, no
bro e 11 de Dezembro dealbar, de operação desta
classe, pereceram no final dos
de 2009. anos 70, respectivamente, de-
vido a falhas técnicas.
OS “DAPHNÉ” Mais venturosa foi a expe-
PORTUGUESES riência ibérica com este tipo
– CLASSE “ALBACORA” de submarino. Dizemos ibéri-
ca porque, no início dos anos
ONRP “Barracuda” é o Lançamento à água do “Barracuda” nos Estaleiros Dubigeon-Normandie, Nantes, setenta, os submarinistas es-
2º submarino da clas- panhóis vieram aprender com
se “Albacora”. Foi en- os seus congéneres portugue-
comendado pelo Estado por- em 24 de Abril de 1967. ses, que já operavam estes na-
vios há alguns anos.
tuguês, no dia 24 de Setembro de 1964, ao afundamento da fragata indiana “Khukri” No contexto português, a 4ª Esquadri-
estaleiro francês Ateliers Dubigeon - Nor- (tipo 14 de fabrico inglês) a 9 de Dezem- lha revelou-se uma significativa revolução
mandie, sediado na cidade de Nantes. No bro de 1971, torpedeado pelo seu irmão tecnológica face à realidade anterior, bem
ano seguinte, a 19 de Outubro de 1965, “Hangor”. Os restantes submarinos conti- como um modo diferente de operar subma-
assentou a sua quilha e foram necessários nuaram a sua vida operacional ao serviço rinos com a introdução do sistema snort.
mais 2 anos para que fosse lançado a água, da Armada Portuguesa. O “Barracuda”, no decurso da sua vida
o que viria a ocorrer no dia 24 de Abril de Derradeiro sobrevivente da 4ª Esquadri- operacional, cumpriu muitas missões re-
1967. Por fim, concluído o processo de lha, o “Barracuda” está prestes a conhecer ais, de treino próprio – cooperando acti-
construção, a sua 1ª imersão estática teve o destino dos restantes navios da classe, vamente na formação de alunos da Escola
lugar a 23 de Abril de 1968 nas águas de uma vez que, em breve, viverá o término de Submarinos – e tendo participado em
St. Nazaire. diversos exercícios nacionais
A 9 de Outubro de 1968 foi e internacionais, com espe-
aumentado ao “Efectivo dos cial destaque para CONTEX´s,
Navios da Armada” e poucos SWORDFISH´s, TAPON´s,
dias depois sulcou as águas JMC´s, INSTREX´s, SPONTEX
do rio Tejo pela primeira vez, e diversas colaborações com
rumo ao seu porto de arma- a organização de treino ope-
mento, a Base Naval de Lis- racional da Marinha Real Bri-
boa. Chegava a casa aquele tânica, o OST (Operacional
que nos quarenta e dois anos Sea Training).
subsequentes constituiria o Das muitas missões reais
“acantopterígio” marinho de realizadas, salientam-se a vi-
corpo alongado, boca gran- gilância de espaços estraté-
de e dentes fortes da Marinha gicos de interesse nacional
Portuguesa. permanente, o primeiro afun-
O mesmo sucedera tam- damento por torpedo realiza-
bém com o “Albacora” en- do por um submarino portu-
tregue à Marinha em Outu- guês a um navio mercante, o
bro de 1967. À chegada do M V “Bandim”, em 15 de De-
“Barracuda” suceder-se-ia a O “Barracuda” a navegar à superfície. zembro de 1982, os 31 dias
do “Cachalote”, ocorrida em Janeiro de da sua vida operacional, findos 42 anos de de missão continua e o reabastecimento
1969, e por fim, a do último submarino intensa actividade. de combustível no mar.
desta classe, o “Delfim”, em 1970. A esta- Esta paragem anunciada será um marco Desde que entrou em funções, no já lon-
da do “Cachalote” em águas portuguesas quer a nível nacional quer internacional. gínquo ano de 1968, até ao passado mês
duraria poucos anos, pois, após a revolu- Com efeito, não só cessará a 4ª Esquadri- de Dezembro de 2009, o “Barracuda” efec-
ção dos cravos em 1974 este submarino vi- lha de Submarinos da Marinha Portugue- tuou um total de 52411 horas de navega-
ria a ser devolvido à sua nação de origem, sa, mas também se encerrará um capítulo ção, das quais 35725 em imersão tendo
a qual o venderia ao Paquistão, onde foi da história universal dos submarinos. Na percorrido 262140 milhas náuticas.
20 MARÇO 2010 U REVISTA DA ARMADA