Page 21 - Revista da Armada
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EM MEMÓRIA DA ÚLTIMA NAVEGA- Gibraltar permitiu evocar nos presentes a me-                     pessoais e profissionais, decorrentes do facto
ÇÃO DO NRP “BARRACUDA”              mória da II Guerra Mundial. Tal como há ses-               de terem partilhado, durante mais de 3 déca-
                                    senta anos, este “choke point” erguia-se terrifi-           das, o mesmo tipo de plataforma.

A última grande navegação do egrégio “Bar- camente ante os olhos de todos, revelando-se          Em todos os anos decorridos, muitos foram
                                                                                               os momentos em que ambas as Esquadrilhas
racuda” decorreu entre os dias 16 de Novem- de novo, um verdadeiro obstáculo, quase in-        operaram juntas, conduzindo a relações pes-
                                                                                               soais que vão para além da mera interacção de
bro e 11 de Dezembro de 2009, no decurso transponível para os submarinistas.                   natureza profissional. No cais encontrava-se o
                                                                                               Comandante da Esquadrilha de Espanha e todo
da qual foram visitadas as cidades de Carta- A aproximação ao porto de Cartagena ocor-         o seu Estado-Maior e ainda o Chefe doTreino e
                                                                                               Avaliação e os Comandantes do SPS “Mistral”
gena e Toulon. O dia da largada foi assinala- reu na manhã do dia 20 de Novembro. No ar,
                                                                                                             e SPS “Tramontana”.
do pela presença a bordo do CALM Pires da uma neblina matinal opaca velava a cidade.                            Durante os 3 dias de esta-

Cunha, Comandante da Flotilha de Navios, Durante a entrada, o submarino foi acompa-                          da neste porto, verificou-se um
                                                                                                             aprofundamento dos laços já
acompanhado pelo CMG Gouveia e Melo, nhado pela embarcação dos pilotos, na qual                              existentes, bem como a assun-
                                                                                                             ção de um forte compromisso de
Comandante da Esquadrilha de                                                                                 dar continuidade a esta histórica
                                                                                                             colaboração e intercâmbio entre
Submarinos. A presença destas                                                                                as duas forças de submarinos. A
                                                                                                             provar o anteriormente referido,
entidades conferiu ao início des-                                                                            foi oferecida, pelo Comandante
                                                                                                             da Esquadrilha Espanhola, uma
ta missão o brilhantismo digno                                                                               recepção ao Comandante da Es-
                                                                                                             quadrilha Portuguesa, Coman-
de tão significativo momento.                                                                                dante e Oficiais do “Barracuda”
                                                                                                             no Salão Nobre, imediatamen-
Este dia ficou igualmente mar-                                                                                te após a chegada. Simultane-
                                                                                                             amente, o Sargento-Mor da Es-
cado pela integração de dois re-                                                                             quadrilha Espanhola ofereceu
                                                                                                             uma recepção análoga aos sar-
pórteres da RTP na guarnição do                                                                gentos de bordo.
                                                                                                 Ainda no dia da chegada, à noite, o Co-
“Barracuda”. O seu objectivo era                                                               mandante Espanhol formulou um convite ao
                                                                                               CMG Gouveia e Melo e ao CTEN Baptista Pe-
realizar uma peça para o progra-                                                               reira para um jantar na sua residência oficial,
                                                                                               no qual estiveram também presentes a esposa
ma “Linha da Frente”, destinado                                                                do COMSUBMAR, o Comandante e a esposa
                                                                                               do SPS “Mistral”. Estes foram certamente mo-
a explicar ao grande público a                                                                 mentos altos da estadia em Espanha.
                                                                                                 Em retribuição por toda esta hospitalidade
ligação entre os actuais subma-                                                                              de que havia sido alvo, foi ofere-
                                                                                                             cida uma recepção a bordo a 30
rinos e os submarinos da futura                                                                              submarinistas espanhóis no Do-
                                                                                                             mingo, dia 22 de Novembro, os
geração.                                                                                                     quais se fizeram representar pela
                                                                                                             sua estrutura de topo.
O início da viagem foi bastan-
                                                                                                                Na 2ª feira, dia 23 de Novem-
te atribulado. O próprio mar, en-                                                                            bro, foi com a costumeira tenaci-
                                                                                                             dade que o “Barracuda” rompeu
capelado, parecia querer reagir                                                                              uma vez mais o mar em direcção
                                                                                                             ao porto deToulon. Para trás, em
ao anunciado fim do submari-         Aproximação a Cartagena.                                                 Cartagena, ficou o CMG Gou-
no, obrigando homens e máqui-                                                                                veia e Melo que, por motivos
                                                                                                             de agenda, não pode continuar
na a excederem as suas forças face ao desafio seguia um sargento-mor submarinista espa-                       a viagem. A largada de Cartage-
                                                                                                             na foi igualmente o momento
imposto pelos elementos. O desembarque do nhol, que recolheu mais de 200 fotografias                          de a equipa da RTP abandonar
                                                                                                             o submarino, depois de recolhi-
CALM FLOTNAV havia sido agendado para o do “Barracuda”. Mais tarde foi possível apu-                         do o material necessário para a
                                                                                                             reportagem.
final da tarde do 1º dia de navegação, ao lar- rar tratar-se de um militar com mais de 30         A viagem entre Cartagena e Toulon foi mais
                                                                                               curta do que a precedente, tendo sido neces-
go da baia de Sesimbra, no entanto, Neptuno, anos de experiencia profissional nos submari-      sários apenas 3 dias para percorrer este trajec-
                                                                                               to. No dia 26 de Novembro, pela manhã, já o
Deus romano dos mares, não diminuiu a sua nos, últimos dos quais dedicados ao estudo e         “Barracuda” atracava em Toulon, regressando
                                                                                               uma última vez ao país onde fora construído,
ira e as condições meteorológicas que se fa- publicação de trabalhos sobre os submarinos       para, desta forma se despedir do seu solo natal.
                                                                                               No ponto mais alto da viagem de despedida,
ziam sentir impossibilitaram o cumprimento do espanhóis.
                                                                                                         REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2010 21
plano previsto. Alternativamente, escolheu-se A calorosa recepção sentida à chegada do

o porto de Setúbal, por este apresentar carac- “Barracuda”, foi testemunho dos fortes laços

terísticas morfológicas que lhe

conferem maior abrigo. Após o

desembarque, o submarino reto-

mou o seu trânsito com destino

a Cartagena. Como diz o adágio

popular, depois da tempestade,

a bonança. Com efeito, as boas

condições meteorológicas e a

calmaria ajudaram a dar conti-

nuidade à missão.

Apesar desta ser a última via-

gem, o trajecto entre Setúbal e

Cartagena foi dedicado a activi-

dades de treino intenso, destina-

do a avaliar e elevar os exigentes

padrões de prontidão que carac-

terizam as unidades navais sub-

marinas, sob o olhar atento do

Comandante da Esquadrilha e da      Chegada a Cartagena, em 22NOV09.

equipa de reportagem da RTP.

A passagem do estreito de Gibraltar ocor- de camaradagem que unem as duas Marinhas

reu no dia 18 de Novembro ao final da tarde. ibéricas. A escolha do Porto de Cartagena não

Apesar do espírito festivo da última navegação, ocorreu por mero acaso. O COMSUBMAR –

manteve-se um elevado nível de vigilância, Comandante da Esquadrilha de Submarinos

de forma a detectar, seguir, identificar e rela- Espanhola – constitui, certamente, o SUBO-

tar qualquer embarcação com um comporta- PAUTH (Autoridade Nacional de Submarinos)

mento suspeito de ligação a actividades ilícitas, com o qual a Esquadrilha nacional manteve e

realidade comum naquelas águas. A visão de mantém as melhores e mais próximas relações
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