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EM MEMÓRIA DA ÚLTIMA NAVEGA- Gibraltar permitiu evocar nos presentes a me- pessoais e profissionais, decorrentes do facto
ÇÃO DO NRP “BARRACUDA” mória da II Guerra Mundial. Tal como há ses- de terem partilhado, durante mais de 3 déca-
senta anos, este “choke point” erguia-se terrifi- das, o mesmo tipo de plataforma.
A última grande navegação do egrégio “Bar- camente ante os olhos de todos, revelando-se Em todos os anos decorridos, muitos foram
os momentos em que ambas as Esquadrilhas
racuda” decorreu entre os dias 16 de Novem- de novo, um verdadeiro obstáculo, quase in- operaram juntas, conduzindo a relações pes-
soais que vão para além da mera interacção de
bro e 11 de Dezembro de 2009, no decurso transponível para os submarinistas. natureza profissional. No cais encontrava-se o
Comandante da Esquadrilha de Espanha e todo
da qual foram visitadas as cidades de Carta- A aproximação ao porto de Cartagena ocor- o seu Estado-Maior e ainda o Chefe doTreino e
Avaliação e os Comandantes do SPS “Mistral”
gena e Toulon. O dia da largada foi assinala- reu na manhã do dia 20 de Novembro. No ar,
e SPS “Tramontana”.
do pela presença a bordo do CALM Pires da uma neblina matinal opaca velava a cidade. Durante os 3 dias de esta-
Cunha, Comandante da Flotilha de Navios, Durante a entrada, o submarino foi acompa- da neste porto, verificou-se um
aprofundamento dos laços já
acompanhado pelo CMG Gouveia e Melo, nhado pela embarcação dos pilotos, na qual existentes, bem como a assun-
ção de um forte compromisso de
Comandante da Esquadrilha de dar continuidade a esta histórica
colaboração e intercâmbio entre
Submarinos. A presença destas as duas forças de submarinos. A
provar o anteriormente referido,
entidades conferiu ao início des- foi oferecida, pelo Comandante
da Esquadrilha Espanhola, uma
ta missão o brilhantismo digno recepção ao Comandante da Es-
quadrilha Portuguesa, Coman-
de tão significativo momento. dante e Oficiais do “Barracuda”
no Salão Nobre, imediatamen-
Este dia ficou igualmente mar- te após a chegada. Simultane-
amente, o Sargento-Mor da Es-
cado pela integração de dois re- quadrilha Espanhola ofereceu
uma recepção análoga aos sar-
pórteres da RTP na guarnição do gentos de bordo.
Ainda no dia da chegada, à noite, o Co-
“Barracuda”. O seu objectivo era mandante Espanhol formulou um convite ao
CMG Gouveia e Melo e ao CTEN Baptista Pe-
realizar uma peça para o progra- reira para um jantar na sua residência oficial,
no qual estiveram também presentes a esposa
ma “Linha da Frente”, destinado do COMSUBMAR, o Comandante e a esposa
do SPS “Mistral”. Estes foram certamente mo-
a explicar ao grande público a mentos altos da estadia em Espanha.
Em retribuição por toda esta hospitalidade
ligação entre os actuais subma- de que havia sido alvo, foi ofere-
cida uma recepção a bordo a 30
rinos e os submarinos da futura submarinistas espanhóis no Do-
mingo, dia 22 de Novembro, os
geração. quais se fizeram representar pela
sua estrutura de topo.
O início da viagem foi bastan-
Na 2ª feira, dia 23 de Novem-
te atribulado. O próprio mar, en- bro, foi com a costumeira tenaci-
dade que o “Barracuda” rompeu
capelado, parecia querer reagir uma vez mais o mar em direcção
ao porto deToulon. Para trás, em
ao anunciado fim do submari- Aproximação a Cartagena. Cartagena, ficou o CMG Gou-
no, obrigando homens e máqui- veia e Melo que, por motivos
de agenda, não pode continuar
na a excederem as suas forças face ao desafio seguia um sargento-mor submarinista espa- a viagem. A largada de Cartage-
na foi igualmente o momento
imposto pelos elementos. O desembarque do nhol, que recolheu mais de 200 fotografias de a equipa da RTP abandonar
o submarino, depois de recolhi-
CALM FLOTNAV havia sido agendado para o do “Barracuda”. Mais tarde foi possível apu- do o material necessário para a
reportagem.
final da tarde do 1º dia de navegação, ao lar- rar tratar-se de um militar com mais de 30 A viagem entre Cartagena e Toulon foi mais
curta do que a precedente, tendo sido neces-
go da baia de Sesimbra, no entanto, Neptuno, anos de experiencia profissional nos submari- sários apenas 3 dias para percorrer este trajec-
to. No dia 26 de Novembro, pela manhã, já o
Deus romano dos mares, não diminuiu a sua nos, últimos dos quais dedicados ao estudo e “Barracuda” atracava em Toulon, regressando
uma última vez ao país onde fora construído,
ira e as condições meteorológicas que se fa- publicação de trabalhos sobre os submarinos para, desta forma se despedir do seu solo natal.
No ponto mais alto da viagem de despedida,
ziam sentir impossibilitaram o cumprimento do espanhóis.
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plano previsto. Alternativamente, escolheu-se A calorosa recepção sentida à chegada do
o porto de Setúbal, por este apresentar carac- “Barracuda”, foi testemunho dos fortes laços
terísticas morfológicas que lhe
conferem maior abrigo. Após o
desembarque, o submarino reto-
mou o seu trânsito com destino
a Cartagena. Como diz o adágio
popular, depois da tempestade,
a bonança. Com efeito, as boas
condições meteorológicas e a
calmaria ajudaram a dar conti-
nuidade à missão.
Apesar desta ser a última via-
gem, o trajecto entre Setúbal e
Cartagena foi dedicado a activi-
dades de treino intenso, destina-
do a avaliar e elevar os exigentes
padrões de prontidão que carac-
terizam as unidades navais sub-
marinas, sob o olhar atento do
Comandante da Esquadrilha e da Chegada a Cartagena, em 22NOV09.
equipa de reportagem da RTP.
A passagem do estreito de Gibraltar ocor- de camaradagem que unem as duas Marinhas
reu no dia 18 de Novembro ao final da tarde. ibéricas. A escolha do Porto de Cartagena não
Apesar do espírito festivo da última navegação, ocorreu por mero acaso. O COMSUBMAR –
manteve-se um elevado nível de vigilância, Comandante da Esquadrilha de Submarinos
de forma a detectar, seguir, identificar e rela- Espanhola – constitui, certamente, o SUBO-
tar qualquer embarcação com um comporta- PAUTH (Autoridade Nacional de Submarinos)
mento suspeito de ligação a actividades ilícitas, com o qual a Esquadrilha nacional manteve e
realidade comum naquelas águas. A visão de mantém as melhores e mais próximas relações