Page 10 - Revista da Armada
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cavada no meio do deserto chileno é o mo- que facilitou a Sail Parade realizada à che- siado pesado, deixando pouco tempo livre
tor de toda a economia chilena. Em tempos gada ao Peru. para conhecer quer Callao quer Lima, que
com a extracção do salitre e actualmente Atracámos, pela manhã do dia vinte e oito fica relativamente perto da última. Mesmo
com a exploração do cobre, os antofagas- de Abril, na cidade de Callao. Como tem assim foi possível passear um pouco pela
tinos colocam o seu nome na economia sido habitual na chegada a todos os portos, Plaza de Armas de Lima, assim como pelos
mundial. Por ser um importante pólo finan- fomos recebidos pela Banda da Armada do seus bairros mais cosmopolitas (Miraflores e
ceiro e pelo facto do lobby mineiro ser um país anfitrião e por um pequeno grupo de Santo Isidro), e fazer um pouco de desporto
dos maiores patrocinadores da regata, esta música e danças tradicionais. É certo que nas boas instalações que a base nos propor-
paragem aparentemente inóspita, substitui tal recepção é uma demonstração de boas cionava. A intenção de visitar a mítica cida-
Talcahuano no calendário. vindas pela população aos navios. O efeito de de Machu Pichu, uma das sete maravi-
As expectativas eram baixas, pois em Val- é agradável e o esforço é sempre valorizado lhas do mundo, foi inviabilizada à maioria
paraíso haviam-nos desvalorizado a cidade com palmas. Contudo, a confusão que se da guarnição pela distância e pouco tempo
do deserto. No entanto, o povo do deserto gera devido ao barulho da música e à dis- disponível. No entanto, alguns elementos
mostrou espírito marinheiro. Desde
logo, fomos recebidos por uns quan- da guarnição, fazendo uma corrida
tos iates, que mais tarde descobri- contra o tempo e motivados pelo so-
mos, tratar-se dos Hermanos de La nho de visitar tão distinto local, aca-
Costa, confraria de amantes do mar, baram por consegui-lo fazer. Dois
que tem uma filiação neste porto. No dias de viagem em que apanharam
molhe e no cais aguardavam-nos mi- os mais diversos tipos de transporte,
lhares de pessoas, que vibraram com tais como avião, comboio, autocar-
os cumprimentos sonoros da sereia. ro e mulas…
Nos escassos dias que ali estivemos,
aproveitámos para conhecer a cultu- Por intervenção do Embaixador
ra, visitar imponentes monumentos Nuno de Bessa Lopes, para os que
naturais, como a La Portada, ou es- se quedaram por Callao, foi organi-
truturas humanas como o marco do zada uma visita guiada no dia vin-
trópico de Capricórnio. Os veleiros, te e nove de Abril ao Museu Rafael
rapidamente se tornaram ponto obri- Larco Herrera, onde se ficou a co-
gatório nas agendas antofagastinas, Entrada a bordo do Embaixador de Portugal no Peru. nhecer um pouco mais desta cul-
tura que conta com quase cinco
naturalmente alteraram o quotidiano da cida- tracção provocada pelos grupos de dança mil anos de história, apenas cem
de, sugando as pessoas para o modesto cais no cais, aliada à azáfama da atracação, so- dos quais dominados pelos famosos Incas.
comercial. Em aproximadamente vinte horas brecarrega as comunicações e procedimen- O Embaixador de Portugal em Lima foi in-
de abertura a visitas, distribuídas por dois dias, tos, tornando-se assim um desafio adicional cansável na organização desta estadia e
recebemos cerca de trinta mil visitantes, uma para o Imediato do navio e para os chefes conseguiu um enorme sucesso na lista de
demonstração cabal do interesse despertado das fainas. convidados que compareceram na nossa re-
pelos veleiros. A hospitalidade da cidade foi Após ter sido dada ”volta à faina”, os es- cepção, apesar da concorrência de outras
bastante visível e na hora da partida, todos tí- forços para preparar o navio para abrir a vi- duas a decorrer em simultâneo.
nhamos a sensação de que a estadia deveria sitas foram redobrados. A “Sagres” foi o úl- No término da nossa estadia em Callao
ter sido prolongada, pois aquele povo, assim timo navio a atracar, e para poder receber a embarcámos a nossa nova passageira, a “ex-
o merecia. Pela primeira vez desde Lisboa, multidão que se aglomerava nos portões da cêntrica” que ganhou o concurso da Santa
largámos com pessoas no cais, porque a or- base naval ao mesmo tempo que os outros Casa da Misericórdia. Rapidamente se inse-
ganização o permitiu. Entusiastas interagiam veleiros, foi necessário um esforço adicio- riu na vida a bordo do navio, onde irá reali-
com os marinheiros que se encontravam em nal por parte da guarnição. Enquanto estas zar a travessia entre o Peru e o Equador.
postos de faina naquele bordo. No Largámos no dia dois de Maio, não sem
outro bordo víamos partir o Cisne antes aproveitarmos a oportuni-
Branco, que esteve atracado de bra- dade de telefonarmos para casa e
ço dado com a “Sagres”. Terminada darmos um beijo às nossas Mães,
esta pequena comunidade lusófona, nesse dia tão especial que lhes é
que se formou entre portugueses e dedicado.
brasileiros durante dois dias, estava
na nossa hora de partir. No final, o balanço desta visi-
Partimos em direcção à frontei- ta mostrou-se extremamente po-
ra do Peru. No caminho, tivemos sitivo. Recebemos a bordo 30791
oportunidade de comemorar o fe- visitantes, percorremos locais de
riado que relembra a Revolução um país cheio de história, cultura
dos Cravos. A bordo, a realização e tradições, e participámos em to-
de um brinde com o habitual Porto dos os eventos da organização re-
de Honra foi motivo para se iniciar presentando o nosso país com brio
uma saudável discussão. A troca de Arrumando a Bandeira Nacional após o desfile. e dignidade.
argumentos liderada obviamente por aque- acções se realizavam o Comandante pres- Entretanto já estamos fora há 4
les que nasceram e conheceram a realidade tou os habituais cumprimentos protocola- meses, navegámos cerca de 2000
do regime ditatorial foi importante na valori- res às entidades locais. Desta vez tinha-lhe horas e percorremos mais de 12000 milhas,
zação da data. Isto porque, na nossa jovem sido guardada uma agradável surpresa – foi uma boa parte do percurso total, na visão
guarnição muitos são os que não conhece- feito Cidadão Honorário de Callao. Honra dos mais optimistas.
ram a realidade, terminada em vinte e cin- que se soma à que já lhe tinha sido confe- Rumamos neste momento em direcção
co de Abril de setenta e quatro. rida em Ushuaia. a Guayaquil no Equador, estando previsto
Uma vez mais a Sulada presenteou-nos O programa de eventos preparado pela or- atracarmos no dia sete de Maio. Um novo
com a possibilidade de navegar à vela, o ganização mais uma vez mostrou-se dema- país e, é claro, novas aventuras…
(Colaboração do COMANDO DO NRP” SAGRES”)
10 JUNHO 2010 • RevistA dA ARmAdA