Page 14 - Revista da Armada
P. 14

Há cem anos Portugal assinou o contrato
de aquisição do primeiro submersível
17de Junho de 1910 – assinatura do
          contrato de aquisição do primeiro    plementadas com a informação de que se iria      utilização bélica de submarinos interessava
          submersível português, o Espadarte.  construir um modelo à escala, para avaliação     à generalidade das nações, com excepção de
                                               mais concreta das suas capacidades.              Inglaterra. Nesta última o tema praticamente
Portugalviviaosúltimosmesesdamonarquia. Senoanode1892nãodetectámosnenhuma                       nunca foi debatido, nem se tinham levado a
Asituação política era complicada. Neste arti- novidade sobre submarinos, no ano seguinte       cabo experiências para construção deste tipo
go,vamostentarexplicarosmotivosqueleva- a situação alterou-se significativamente. São           de navios. Um facto bastante curioso é a com-
ram um país que vivia momen-
tos tão conturbados a optar por                                                                                paração entre as potencialida-
adquirir este navio. Tratava-se                                                                                des de duas novas armas que
de uma arma ainda em desen-                                                                                    despontavam: a submarina e a
volvimento, sendo Portugal                                                                                     aérea. O futuro veio a dar razão
dos primeiros países a possuí-                                                                                 ao autor, pois durante o século
-la. Para procurarmos respostas                                                                                xx estas duas armas revolucio-
para as nossas dúvidas consul-                                                                                 naram a forma de fazer a guer-
támosdocumentaçãodaépoca,                                                                                      ra no mar.
para perceber de que modo se
desenvolveu o interesse por                                                                                       O autor considera que o sub-
este tipo de navio. Como foi                                                                                   marino pode revelar-se um
acompanhado o desenvolvi-                                                                                      elemento fundamental para a
mento da nova arma pelos ofi-                                                                                  defesa marítima de qualquer
ciais de Marinha? Qual o esta-                                                                                 nação. Nele podemos ler:
do da Marinha portuguesa e
que medidas se propunham                                                                                          «A nação que possua e saiba
para a melhorar?                                                                                               aproveitar a navegação submarina
                                 CFR João Fontes Pereira de Mello.  1TEN Valente da Cruz.                      na arte da guerra, pode-se afirmar
                                                                                                               que está livre de bloqueios, pois que
O interesse pelOs submarinOs                   várias as notícias sobre submarinos: italianos,                 já hoje eles são considerados como
Umafontebastantericaparaentenderosas- russos, franceses e americanos. São também                               difíceis de manter por muito tem-
suntosquemaisinteressamaosoficiaisdeMa- mencionadas as experiências que foram efec-             po, quando dirigidos contra uma nação que possua
rinha numa determinada época são os Anais tuadas com o modelo do Fontes.                        uma regular esquadrilha de torpedeiros.»
do Clube Militar Naval. O interesse pela nova Em 1894 temos um pequeno artigo de-                 Um pouco adiante é apresentada uma «pro-
arma está bem patente nos artigos e notícias veras interessante, intitulado: «O problema        fecia» que se veio a revelar verdadeira na ge-
dedicados ao assunto.                          dos submarinos considerados como arma de         neralidade:
A primeira notícia que detectámos sobre guerra». De acordo com o texto, o assunto da              «A completa resolução do problema dos subma-
submarinos, remonta a 1885. Nela                                                                rinos deve arrastar consigo o aniquilamento dos
são mencionadas experiências com                                                                grandes poderios navais.
os submarinos Nordenfeldt, sueco e                                                                         É arrojada esta afirmação? Talvez não
Zalinsky,americano. Em1888,surgem                                                                       andemos muito fora da verdade fazendo
outras notícias sobre barcos submari-                                                                   esta profecia! Pelo menos é lógico afir-
nos eléctricos. Essas experiências es-                                                                  mar que com esse desideratum a táctica
tavam a ser conduzidas em Espanha                                                                       moderna sofrerá profundas alterações, e o
e Inglaterra. Passados dois anos, Po-                                                                   mesmo terá de acontecer à arte da cons-
licarpo de Azevedo assina dois tex-                                                                     trução naval.»
tos intitulados «Sobre as experiências                                                                     O autor, que assina H.L., provavel-
do Peral». Tratava-se de um projecto                                                                    mente Hugo Lacerda de Castelo Bran-
desenvolvido em Espanha, por Isaac                                                                      co, termina este breve texto com uma
Peral. Actualmente, esse submarino                                                                      conclusão onde se destaca a importân-
encontra-se em exposição na Base Na-                                                                    cia da discussão deste assunto, dado
val de Cartagena.                                                                                       o interesse do mesmo para Portugal,
  Entretanto, em Portugal também        CTEN Hugo de Lacerda.       1TEN Portugal Durão.                país que não tinha marinha de guer-
                                                                                                        ra, e onde os submarinos poderiam fa-
existiam projectos para produção de                                                                     zer toda a diferença. Podemos afirmar
um submarino de fabrico nacional.                                                                       que, tanto quanto conseguimos averi-
Conhece-se informação sobre dois                                                                        guar, este texto pode ser considerado
desses projectos, de autoria do Pri-                                                                    a génese da discussão que conduzirá
meiro-tenente Valente da Cruz e do                                                                      à assinatura do contrato do primeiro
Primeiro-tenente Fontes Pereira de                                                                      submersível, dezasseis anos depois:
Melo. Adiante analisaremos ambos                                                                           «O assunto é na generalidade de toda a
de modo mais detalhado. Para já im-                                                                     importância para Portugal, que quase não
porta apenas realçar que nos Anais se                                                                   tem marinha de guerra, que temos os nos-
publicaram em 1891 breves notícias                                                                      sos portos abertos a tudo e a todos. Parece-
sobre o projecto que ficou conhecido                                                                    -nos isto indiscutível.
como submarino Fontes, nome do au-                                                                         Se os submarinos são úteis, a ninguém
tor do projecto. As apreciações feitas                                                                  mais do que a nós eles podem prestar ser-
narevistasãobastantepositivas,com- CTEN Pereira de Matos.                                               viços exactamente pelo facto de quase não
                                                                    ALM Morais e Sousa.                 termos marinha de guerra e não termos

14 JUNHO 2010 • Revista da aRmada
   9   10   11   12   13   14   15   16   17   18   19