Page 15 - Revista da Armada
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recursos sequer para manter uma neutralidade como consequência das questões anteceden-                    finitiva. 2º porque o faz precisamente com a antece-
armada.                                     tes, quais os tipos de navios a adquirir:                     dência necessária para que se possa considerar sufi-
Teremos decerto valiosas e muitas posições con- «Não entendemos contudo que se deva entrar                cientemente conhecedor dessa arma, e possuidor de
tra muito que avançámos, mas bem ou mal é o que numa febre de aquisição desses barcos; a nossa di-        pessoal especializado para a guarnecer, ao estalar o
pensamos a este respeito.                   vagação veio seguindo em caminho gradual e estu-              Conflito Europeu.»
De resto o assunto presta-se de grande à discus- dado; da aliança que necessitamos passámos à defe-
são,porpartedosquemelhoreselementostêmdoque sa que temos a garantir aos nossos cooperadores, e              Diz-nos ainda, que a existência do Espadar-
nós para esclarecerem tão importante assunto.» encarou-se essa defesa perante os estado financeiro        te foi fundamental para treinar as guarnições
Durante os cinco anos seguintes, os Anais do país, viu-se que ela era necessária e tinha que ser          dos outros três navios, adquiridos durante a
não apresentam notícias significa-                                                                        guerra, e que vieram a constituir a primeira
tivas sobre submarinos. Será que o
assunto estava esquecido? Somos                                                                                     esquadrilha. O plano de aquisições
da opinião contrária. Em 1899 vol-                                                                                  previa estes quatro submersíveis,
tamos a encontrar novidades, que                                                                                    mais pequenos, e outros quatro, de
passam pela proposta concreta de                                                                                    maiores dimensões. Destes últimos,
aquisição de um submarino. A pri-                                                                                   o primeiro seria construído em Itá-
meira referência ao assunto ocorre                                                                                  lia, sendo os restantes construídos
no número de Março. Neste relata-                                                                                   no nosso Arsenal da Marinha. Esta
-se uma assembleia-geral que se reu-                                                                                segunda encomenda nunca se con-
niu para discutir uma proposta do                                                                                   cretizou.
Primeiro-tenente Portugal Durão,
no sentido de se apresentar junto do                                                                                a aliança lusO-britânica
governoumprojectoparaaquisição O submarino “Peral”.                                                                    Poderá parecer estranho incluir,
de um submarino:                            económica; na parte marítima como armas acessí-
«ProponhoqueoClubeNavalinstecomospode- veis ao tesouro, indicámos unicamente torpedeiros                            num texto onde se tenta perceber
res públicos para se tratar da aquisição de um sub- e submarinos; para tripular uns e outros, dissemos              porque motivo Portugal foi dos pri-
marino – tipo Goubet – a fim de servir à nossa ma- que só se poderia fazer com pessoal habilitado e prá-  meiros países a ter submarinos, uma referência
rinha de elemento de estudo do partido que se pode tico,eparaessapráticatemosapenasaescoladetor-          à aliança com outro Estado. A razão é muito
tirar dos submarinos como arma de guerra.»  pedos com a sua pequena flotilha de torpedeiros de            simples: a decisão de comprar um submarino
A proposta previa um modelo concreto, o instrução, mas falta-lhe o submarino.»                            está ligada à escolha de qual o tipo de Marinha
Goubet.Oautordapropostajustificavateresco- Este texto não ficaria completo, se não fos-                   que Portugal desejava possuir e esta dependia
lhido este modelo pelo facto de ser o mais ba- se aqui mencionada a figura de Joaquim de                  do contributo que o país queria dar para a re-
rato. Embora grande parte dos presentes con- Almeida Henriques. Foi o primeiro coman-                     ferida aliança. Daí que grande parte daquilo
cordasse com esta sugestão, o então                                             dante do Espadarte.       que se escreveu sobre reequipamento militar e
Capitão-de-mar-e-guerra Morais e                                                Legou-nos imen-           naval faça referência à aliança, que foi «renego-
Sousa referiu que a proposta não                                                sos textos sobre          ciada» nos primeiros anos do século xx.
deveria vincular o poder político a                                             as características e        Os anos que antecederam a Primeira Guerra
um determinado modelo. No final,                                                capacidades des-          Mundial foram anos de afirmação do poderio
o autor da proposta concordou em                                                te navio. Não se          militar de diversas potências. Entre estas, me-
alterar a mesma, por forma a que                                                conhecem textos           recem especial destaque para este nosso estu-
nela não fosse sugerido nenhum                                                  seus deste período        do, a Inglaterra e a Alemanha. Aprimeira tinha
modelo de navio.                                                                de debate que con-        construído um império «onde o Sol nunca se
Ainda nesse mesmo ano de                                                        duziu à aquisição         punha». Para assegurar a ligação entre as di-
1899, no número de Abril, foi pu-                                               do primeiro sub-          versas partes desse império tornava-se neces-
blicado um texto em que é men-                                                  mersível. Contudo,        sário garantir a liberdade de circulação maríti-
cionada a proposta acima referi-                                                nalguns textos que        ma, e essa era protegida por uma forte marinha
da. Trata-se de um texto curioso,                                               publica mais tarde,       de guerra. Por outro lado, a Alemanha, resul-
pois está escrito numa espécie de                                               fornece algumas           tante de um processo de unificação política,
diálogo, entre o seu autor e a pro-                                             pistas sobre essa         conduzido ao longo do século xix, optou pela
posta, propriamente dita. O                                                                               edificação de uma marinha bem forte, pois os
autor «dá conselhos» à pro-                                                                               seus interesses colidiam em diversos locais
posta, que ia iniciar o longo                                                                             com os britânicos.
«calvário» dos corredores dos
centros de decisão. Muitas ou-                                                                                              Todo este processo de rear-
tras, semelhantes, tinham per-                                                                                           mamento era complementado
corrido caminhos idênticos, e                                                                                            pelo desenvolvimento de um
muitas por lá tinham ficado                                                                                              complexo sistema de alianças.
esquecidas, sem nunca se con-                                                                                            Criavam-se novas alianças e
cretizar o que nelas era suge-                                                                                           renovavam-se as antigas. Para
rido. No entanto, aquilo que                                                                                             a Inglaterra era fundamental
nos parece mais importante                                                                                               impedir que a Alemanha con-
destacar é a visão que o autor                                                                                           seguisse um porto de apoio im-
tem sobre a situação da época.        Memória e desenho do submarino “Fontes”.                                           portante fora do Mar do Norte.
                                                                                                                         Se tal acontecesse, a marinha
Num simples parágrafo refere aqueles que opção que o país tomou.Assim, num texto de                                      germânica passaria a contar
são os temas mais prementes naquela época, 1925, A acção da Marinha de Guerra Portuguesa                                 com uma base de operações
equevãoinfluiremtodasasquestõesligadas na Grande Guerra, afirma o seguinte:                                              a partir da qual poderia ame-
comoreequipamentomilitar.Sãoelesaques- «Portugal escolheu um momento feliz para a                         açar toda a navegação britânica. Nesse caso,
tão das alianças, a opção entre uma Marinha construção do seu 1º submersível. 1º porque a sua             tornar-se-ia fundamental empenhar um con-
mais defensiva ou uma Marinha ofensiva; e, evolução lenta entra neste momento na sua fase de-             junto significativo de meios para expulsar os
                                                                                                          alemães desse ponto de apoio.
                                                                                                            Portugal possuía alguns espaços territoriais
                                                                                                          de elevado interesse estratégico. Por um lado,
                                                                                                                     Revista da aRmada • JUNHO 2010 15
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