Page 17 - Revista da Armada
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enquantoqueaofensivasebaseavaemcoura- física do porto de Lisboa. O que é sugerido no                  apresentou no parlamento uma proposta para
çadosecruzadores.Curiosamente,muitosdos texto de 1902 é um autêntico torpedeiro sub-                  aquisição de 2 contratorpedeiros, 6 torpedei-
defensoresdeumaMarinhamaisofensivanão marino, com capacidade oceânica. Além da                        ros, 2 submarinos, assim como outros meios
eliminam a possibilidade de a mesma possuir referida memória, o projecto é também apre-               de pequenas dimensões. Esta proposta defi-
também submarinos.                        sentado, de um modo bastante desenvolvido                   nia que os submarinos deveriam ser do tipo
Conformevãopassandoosanosdaprimei- numjornaldiário:oCorreioNacional.Emdiver-                          Holland, deslocando cerca de 120 toneladas.
radécadadeNovecentos,surgemnovostextos sosnúmerosdoVerãode1902surgemnotícias
sobreanecessidadedereequipamentonaval.E dedicadas ao dito projecto.                                     Passados cerca de dois anos, Ornelas pu-
amaiorpartedelesadvogaaaquisiçãodesub- Sobre o outro projecto, as notícias são mui-                   blicou, em Lisboa, O Problema Naval Português
marinos, em número de dois ou três.       to mais escassas. O seu autor foi o Primeiro-               – Alguns elementos para a sua resolução. Nesta
Por exemplo, um dos grandes                                                                           obra refere-se ao seu mandato naquela pasta,
defensores de uma marinha ofen-
siva é Pereira da Silva. Adepto con-                                                                              aos problemas mais significativos
victo das teses de Mahan, escreve                                                                                 que identificou e às soluções que
imenso sobre aquilo que considera                                                                                 apontou para os mesmos. Estão lá
uma Marinha moderna. Num tex-                                                                                     presentes os grandes debates que
to intitulado «Algumas reflexões                                                                                  temos vindo a apontar: a separa-
sobre a marinha de guerra», pu-                                                                                   ção da Marinha colonial, a alian-
blicado nos Anais do Clube Militar                                                                                ça com Inglaterra e a opção que
Naval de 1905, afirma:                                                                                            se torna necessário tomar, entre
«Na lista de navios de guerra de                                                                                  uma Marinha defensiva ou ofen-
uma marinha moderna só devem apa-                                                                                 siva. Em termos sintéticos, pode-
recer: couraçados, cruzadores, torpe-                                                                             -se afirmar que a opção que ele to-
deiros e submarinos; todos estes ele-                                                                             mou apontava para uma medida
mentos, ou parte deles; porque são os     Lançamento à água do “Espadarte” em Livorno, em 5.10.1912.              com as capacidades mínimas para
                                                                                                                  a defesa das nossas costas, nomea-
instrumentos de combate, hoje usados na guerra -tenente Valente da Cruz. Em 1906, na Revista                      damente o porto de Lisboa, numa
naval».                                   Portuguesa Colonial e Marítima encontramos um               lógica em que se contaria com o apoio da es-
O assunto era perfeitamente actual, de tal pequeno apontamento referindo que o autor                  quadra inglesa.
modo que foram nomeadas comissões para apresentara o seu projecto ao Ministro da Ma-                    Este programa não foi executado, mas pas-
avaliar alguns dos modelos disponíveis, para rinha e que este nomeara uma comissão para               sado pouco tempo, em 1910, sendo ministro
conhecerem as suas capacidades e a sua ade- avaliar as potencialidades do mesmo. Esta co-             da Marinha, João de Azevedo Coutinho, novo
quabilidade às necessidades nacionais.    missão era presidida pelo Contra-almirante                  plano naval é apresentado, e novamente lá
                                          Morais e Sousa.                                             aparecem os submarinos. O processo também
                                          Poucos mais dados conseguimos sobre este                    não foi pacífico. Porém, o ministro mandou
Os prOjectOs pOrtugueses                                                                              elaborar um caderno de encargos e na sequên-
Ointeressepelossubmarinosassumiutalre- projecto.Em1907,algunstextossobresubmari-                      cia deste, optou-se pela compra do tipo Lauren-
levânciaemPortugalqueforampropostosdois nos,aelesereferem.Numdessestextos:«Valor                      ti, italiano. De acordo com António Martinó,
projectos, de autoria de oficiais de Marinha. O militar dos submarinos», Bruto da Costa alude         um dos biógrafos de João Coutinho, esta opção
primeiro, em termos cronológicos, teve como às experiências que estavam a decorrer rela-              foi influenciada pela opinião avalizada doAl-
autor o então Primeiro-tenente João Augusto cionadas com o projecto. Defende que se deve              mirante Morais e Sousa e do Capitão-tenente
FontesPereiradeMelo.Aprimeirareferênciaa adquirir já um submarino no estrangeiro, não                 Alberto Moreno. Resultado deste processo, a
este projecto data de 1889. Passados dois anos desviandoaatençãodoprojectoportuguês,que               17 de Junho de 1910, foi assinado o contrato de
foi nomeada uma comissão para avaliar o va- poderia apresentar bons resultados.                       aquisição do Espadarte. Aconstrução iniciou-se
lor do referido projecto. Passados mais                                                                       ainda durante esse ano e o navio foi
dois anos, foi construído um modelo                                                                           lançado à água em Livorno, no dia 5
reduzido do navio, para uma análise                                                                           de Outubro de 1912, quando o regime
mais concludente das suas capacida-                                                                           republicano português comemorava o
des em termos práticos. Inúmeras notí-                                                                        seu segundo aniversário.
cias sobre essas experiências surgiram                                                                          Conforme tentámos demonstrar, ao
na revista O Ocidente, de finais de 1893                                                                      longo deste texto, o processo que cul-
e início de 1894.                                                                                             minou na compra do primeiro sub-
Apesar de a comissão não ter tido                                                                             mersível português foi bastante longo.
uma apreciação que permitisse iniciar                                                                         Nos derradeiros anos do século xix, os
a construção do mesmo, o autor não                                                                            submarinos viviam ainda uma fase
desistiu. Em 1898 deu à estampa dois                                                                          experimental. Apesar disso, o interes-
livros, praticamente iguais, divergindo                                                                       se por essa nova arma foi significati-
apenas na língua em que foram escri-                                                                          vo no nosso país. Publicam-se artigos,
tos: Estação automóvel submarina Fontes                                                                       proporcionam-se debates, surgindo
e Station automobile sous-marine Fontes.                                                                      mesmo um projecto nacional. Nos pri-
O facto de um dos textos ser em fran-                                                                         meiros anos da centúria de Novecen-
cês pode significar que pretendia dar     O “Espadarte”.                                                      tos discute-se imenso sobre que tipo
                                                                                                      de Marinha Portugal deveria possuir. E para
projecção internacional à sua ideia.      as medidas legislativas                                     muitos dos autores, os submarinos deveriam
Em 1902 publicou um texto, intitulado Me- Na primeira década de Novecentos, Por-                      integrar a esquadra. Finalmente, graças ao es-
mória sobre o submarino Fontes. Nele incorpora tugal atravessava uma situação em que a sua            forço de João Coutinho, é assinado o contrato
algumasalterações,frutodaevoluçãoqueeste Marinha se resumia a navios antiquados, sem                  de construção do Espadarte, nos últimos meses
génerodenaviosiaconhecendoemtermosin- poder militar significativo. Face a este estado                 da monarquia.
ternacionais, e que Fontes acompanhava. Na de coisas, tornava-se necessário tomar medi-
sua versão original era classificado como es- das para o alterar.                                                                                        
tação torpedeira submarina, destinada a ficar Em 5 de Fevereiro de 1907, o então Minis-                                                A. Costa Canas
fundeadanomeiodoTejo,reforçandoadefesa trodaMarinha,ConselheiroAyresdeOrnelas,
                                                                                                                                                               CFR

                                                                                                                 Revista da aRmada • JUNHO 2010 17
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