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Dia da Marinha em Portimão
as comemorações do Dia da Marinha
       do presente ano tiveram lugar na ci-      a saída dos Xavecos de Argel ou de Tunes que
       dade de Portimão, e decorreram den-       vinham assolar aquela costa.
tro da aura em que a cidade comemora os
150 anos do nascimento de ManuelTeixeira           O rio Arade foi desde há muitos séculos a
Gomes, ilustre portimonense e figura grada       via de acesso ao interior, à beira do qual nas-
das letras nacionais, um verdadeiro cidadão      ceu Silves, sobre um fértil vale que serviu de
do Mundo que foi Presidente da República         apoio à “Xelb” islâmica, sede de uma taifa que
Portuguesa na década de vinte do século          foi governada pelo rei e poeta Al-Mutamide,
passado. Dez anos depois de ali ter feito a      posteriormente emir de Sevilha. Esta faixa oci-
sua festa anual – na altura ensombrada pela      dental – Al-Garb – do que foi o mundo ára-
recente e trágica morte de um filho da ter-      be peninsular do Al-Andaluz floresceu numa
ra, notável Presidente da Câmara e antigo        prosperidade alheia aos conflitos da meseta
Oficial de Marinha, que foi o Comandante         ibérica, na fase da reconquista, e só sentiu a
Nuno Mergulhão – a Marinha regressou à           fúria da espada cristã quando D. Sancho I a cer-
cidade, prestando mais uma vez uma justa         cou por terra e mar, em 1189. O destino das
homenagem aos portimonenses, que há sé-          terras algarvias, separadas do norte pela cadeia
culos dedicadamente lhe têm dado alguns          montanhosa de várias serras, dependente do
dos seus melhores filhos, e que continuam        Oceano até para comunicar com a capital do
a viver numa estreita ligação com o oceano,      reino, só podia estar na sua vocação marítima.
de onde colhem uma parte da sua riqueza,         Já o século XIX ia longo e a maneira mais fácil
seja por um conjunto de actividades direc-       de alcançar o Algarve, partindo de Lisboa, era
tamente ligadas ao mar, seja pela afluência      a via marítima. E quem não quisesse aventu-
turística que enxameia as praias, a marina       rar-se na costa Atlântica teria de calcorrear as
e o porto.                                       vias romanas do Alentejo até ao Guadiana,
                                                 seguindo depois por Mértola e Castro Marim.
  A cidade de Portimão, noutros tempos           Não querendo enfrentar as águas do Atlântico,
chamada de Vila Nova de Portimão desem-          podia continuar a dorso de cavalo ou azémola
penhou sempre um papel determinante              por mais uns dias, mas a opção mais rápida e
numa estratégia própria de defesa marítima       confortável era a de terminar a jornada a bordo
do território nacional, contra o que foi o fla-  de um pequeno caíque ou qualquer outra em-
gelo secular do corso e da pirataria. Trata-se   barcação que o levasse ao Barlavento.
de uma faceta menos espectacular e menos
conhecida da história marítima portuguesa,         Antes do aparecimento de artilharia que de-
onde sobressaem as grandes explorações           fendesse as barras dos ataques dos piratas, a
oceânicas, mas foi a mais persistente de         beira-mar era um sobressalto constante e Silves
todas as actividades, a mais antiga, a que       foi o retiro seguro para reis e povos. Mas o de-
mais preocupou directamente as popula-           senvolvimento de capacidades e meios, aliada
ções ribeirinhas e aquela que mais vítimas       ao assoreamento progressivo do rio, levou as
fez, engolidas pelo oceano no decurso de         pessoas para a costa e, no final do século XV,
combates violentíssimos ou levadas como          já florescia Vila Nova de Portimão, construída
escravos para onde quer que fosse. Se Portu-     por concessão de D. Afonso V. Sabemos que
gal encontrou a sua razão de ser na activida-    a iniciativa partiu de um grupo de moradores
de marítima, que na longínqua Idade Média,       da foz do Arade e que resultou na criação de
consistiu na viabilização de uma rota de co-     uma aldeia, do termo de Silves, que recebeu
mércio rico entre o Mediterrâneo e o Norte       o nome de S. Lourenço da Barrosa. Diz uma
da Europa, o Algarve foi uma das platafor-       velha lenda que um desses moradores se cha-
mas que concorreu para o controlo da por-        mava Portimão e daí lhe veio o nome, mas essa
ta do Mediterrâneo. E terras comoVila Nova       hipótese não é corroborada por estudiosos que
de Portimão compreenderam muito bem a            entendem vir o topónimo de um lugar povoado
importância dos navios de guerra que patru-      por pescadores antes do privilégio concedido
lhavam aquela costa, das fortalezas que lhe      pelo rei. A verdade é que no final do século já
defendiam a barra, e dos marinheiros que         se chamavaVila Nova de Portimão e crescia de
vigiavam a passagem de Gibraltar, espiando       forma extraordinária, assumindo o 4º lugar na
                                                 demografia da costa algarvia, depois de Faro,
                                                 Lagos e Tavira. Um crescimento devido à pre-

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