Page 16 - Revista da Armada
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no continente, os portos poderiam ser utiliza- estes o papel de Portugal na aliança: meçou por se designar Boletim Marítimo, no
dos para reunião das esquadras britânicas do «O nosso modesto trabalho tem por fim mostrar, qualeramdadosàestampatextoscomasopi-
Norte e do Mediterrâneo, para a condução o que aliás deve estar no espírito de todos: 1º, que o niões de diversos autores sobre a questão do
de operações no Atlântico. Mas eram os Aço- valor militar da nossa esquadra é nulo; 2º, que uma reequipamento naval. Alguns destes estudos
res que gozavam de um interesse estratégico esquadra é tão necessária como um bom exército; eram também publicados nos Anais do Clube
extraordinário.Apartir deste arquipélago po- 3º, qual a esquadra que devemos possuir compatí- Militar Naval. A liga promoveu também a re-
diam operar esquadras que levariam a cabo vel com os nossos recursos, capaz de nos garantir alização de diversos congressos marítimos,
operações navais por todo o Atlântico Norte. uma boa aliança.» nos quais foram apresentadas inúmeras teses
Muitos exercícios navais, realizados pelos ale- Todo o seu raciocínio aponta para uma Ma- cujoobjectivoerapromoverodesenvolvimen-
mães,nosprimeirosanosdenovecentos,simu- rinha forte, que possa realmente ter alguma to da Marinha.
lavam a «conquista» daquelas ilhas. Por outro utilidade perante os ingleses. A nossa esqua- De realçar o facto de Pereira de Matos ter
lado,osinglesestudofaziamparaimpedirque dra deveria permitir o bloqueio dos portos es- levado a cabo diversos estudos sobre as dife-
tal ocorresse.Avelhaaliança, quevinha dosé- panhóis, em caso de um conflito que envolva rentescomponentesmarítimas.Algunsdestes
culo xiv, entre Portugal e Inglaterra, foram efectuados antes da criação da
foi invocada diversas vezes nestes própria Liga Naval. Um desses estu-
primeiros anos de novecentos, e os dos intitulado A Marinha de Guerra
seus termos foram redefinidos, de foi publicado no Porto em 1897. Nele
modo a melhor servirem os interes- existe também um capítulo dedicado
ses estratégicos ingleses. Para Portu- aos submarinos. Neste é apresentado
gal, esta aliança renovada implicava um breve historial sobre a evolução
alguma segurança contra a ameaça dessa arma. Segue-se uma análise
espanhola. Na sequência da derro- das mais recentes inovações neste
ta contra os EUA, a Espanha virara campo. Para o autor, o submarino
a sua atenção para o Mediterrâneo ainda não atingira as capacidades
e reforçara a sua marinha. Este pro- que o recomendavam como uma
cesso foi conduzido com o apoio in- arma eficiente.
glês, pelo que interessava a Portugal Entre os grandes temas que se dis-
integrar a mesma aliança onde a Es- cutiam no âmbito da Liga Naval, e
panha se encontrava, ou contar com não só, dois merecem a nossa espe-
o apoio da marinha mais poderosa, cial atenção.
caso Espanha mudasse a sua política Por um lado, a criação de uma Ma-
internacional. rinha exclusivamente dedicada às
Conforme anteriormente afirma- colónias. Procedimento semelhan-
do, esta questão da aliança com In- te vinha sendo seguido noutras na-
glaterra vai estar no centro do debate ções. A intenção era criar marinhas
sobre a Marinha que Portugal dese- dedicadas apenas ao serviço colonial,
ja ter. Em 1903 é publicado o livro: A baseadas essencialmente em canho-
defesa das costas de Portugal e a Alian- CTEN João de Azevedo Coutinho, o Ministro da Marinha que encomendou o neiras, destinadas a tarefas de fisca-
ça Luso-inglesa, da autoria do Gene- primeiro submarino em 17 de Junho de 1910. lização. Estes meios coloniais deve-
ral José Estevão de Morais Sarmento. Neste também a Inglaterra. riam mesmo ser operados preferencialmente
estudo, bastante detalhado, o autor defende Curiosamente, ele não sugere submarinos pelos habitantes dos territórios ultramarinos.
que só se conseguirá uma defesa eficaz do para esta esquadra que quer edificar. No en- Além disso, a sua edificação deveria também
país com uma acção coordenada do exército tanto, quando caracteriza os tipos de navios ser garantida pelas finanças locais. Os restan-
e da marinha. que uma esquadra moderna deve possuir, tesmeiosnavais,queconstituiriamesquadras
Umdoscapítulosdesselivrotemportítulo: menciona: combatentes, visitariam as colónias quando tal
«Adefesa das costas por meio de torpedeiros «Submarinos: fosse necessário.
e submarinos». O autor analisa diversos estu- Os submarinos são destinados: Este assunto mereceu a atenção de diversos
dos, feitos em vários países, sobre a evolução A defender os portos e as suas imediações. articulistas. O principal objectivo desta divisão
desta nova arma. Para ele, os submarinos ain- A fatigar uma esquadra de bloqueio. era libertar meios financeiros para a aquisição
da não estavam suficientemente desenvol- A atacar os portos inimigos situados na esfera de navios para a esquadra combatente. Em
vidos para poderem ser considerados uma de sua acção. Portugal aquilo que aconteceu na realidade
arma perfeitamente eficaz. No entanto, consi- Estes navios podem ser divididos em duas clas- foi um afastamento cada vez maior da Mari-
dera que se deve manter uma vigilância aten- ses: os submarinos propriamente ditos, operando nha em relação às colónias. Durante séculos
ta sobre a evolução dessas plataformas, que somente debaixo de água e tendo um raio de acção existiu uma ligação íntima entre ambas, de
tantas potencialidades apresentam, para um limitado, e submersíveis, marchando à superfície, tal modo que existia apenas um ministério
futuro próximo: podendo mergulhar em caso de necessidade e tendo dedicado à Marinha e Ultramar. A partir de
«Aquestãodossubmarinostem,portanto,grande um raio de acção maior». finais do século xix a separação entre ambas
importância para a defesa costeira, pelo que deve me- passou a ser mais nítida, embora formalmen-
recerigualmenteadesveladaatençãodoscompeten- a liga naval pOrtuguesa te apenas tenha ocorrido com a implantação
tes, não obstante a incredulidade que ainda suscita Entretanto, em 1902 foi fundada a Liga Na- da República.
em muitos espíritos autorizados.» val Portuguesa. Ainiciativa para a sua consti- Ooutroassuntomuitodiscutidotinhaaver
AaliançaqueopaísreforçaracomInglaterra tuiçãopartiudoClubeMilitarNaval.Oprinci- com o tipo de Marinha que desejávamos ter:
continuaasertemacentraldeinúmerostextos pal obreiro da liga foi Pereira de Matos, oficial uma Marinha ofensiva, destinada a permitir-
que são publicados. Assim, nos Anais do Clu- daArmada.Estaorganizaçãopromoviapales- -nosocontrolodomar;ousimplesmenteuma
be Militar Naval de 1906, com continuação em tras, debates, conferências e muitas outras ac- Marinha defensiva, para assegurar a defesa
1907,BrutodaCosta,publicaumartigointitu- tividades. O seu objectivo era promover o de- das nossas costas e impedir o bloqueio dos
lado: «Estudo sobre a marinha de guerra por- senvolvimento da Marinha nas suas diversas principais portos nacionais. Uma esquadra
tuguesa». Como o próprio autor afirma, o seu vertentes: guerra, mercante, pesca e recreio. defensiva seria composta basicamente por
estudotemdiversospropósitos,estandoentre Aliga publicava um boletim oficial, que co- torpedeiros, contratorpedeiros e submarinos,
16 JUNHO 2010 • Revista da aRmada