Page 21 - Revista da Armada
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crer contudo que a maioria das 306 pessoas         ms, neste caso, interpretada na versão com
que aproveitaram essa oportunidade (sendo          arranjo de Jim Curnow. Seguiu-se o grandioso
portimonenses) fizeram-no muito mais pela          poema sinfónico “Inchon”, de Robert Smith,
curiosidade de navegar num navio de guer-          que tem um significado particular para todos
ra, com tudo o que isso pode despertar no          os marinheiros, por invocar a operação aero-
seu imaginário, do que propriamente como           naval que teve lugar em Inchon, entre os dias
baptismo. Aliás terá sido essa a mesma             15 e 17 de Setembro de 1950. A obra repete
curiosidade que atraiu cerca de 3200 pes-          o ritmo marcial dos canhões, dos helicópteros
soas para experimentarem a curiosa viatura         e da chegada das lanchas à praia, com toda a
que é o LARC, com a capacidade para an-            vertigem de um desembarque anfíbio. Seguiu-
dar em terra e no mar. Baptismos, na verda-        -se a peça “Sing, sing, sing” de Louis Prima,
deira acepção do termo, devem ter sido os          encerrando a primeira parte com o “fado para
cerca de 360 mergulhos com equipamento             banda”, intitulado “Lisboa – Madrid”. Esta
próprio, efectuados num tanque montado             obra é da autoria de Angel Peñalva Tellez,
para o efeito. Esta prática é, de facto, bastante  compositor e músico militar espanhol, que
popular na juventude, curiosa de experimen-        a escreveu em 1924, dedicando-a a Manuel
tar o que parece ser muito fácil quando visto      Teixeira Gomes, quando este era Presidente
na televisão, mas que causa sempre alguma          da República Portuguesa (1923-1925). A par-
apreensão quando se trata de experimentar          titura é propriedade da Biblioteca Municipal
directamente. No mesmo local, 514 pessoas          de Portimão, e foi cedida para esta apresen-
passaram por uma divertida pista de air-soft e     tação especial que constituiu uma homena-
742 ensaiaram uma pequena escalada numa            gem à cidade onde nasceu tão ilustre figura
parede de treino, montada pelos fuzileiros.        da nossa cultura.
Visitaram as diferentes unidades navais 5983
pessoas, o que pode considerar-se um res-            Esperava-nos, contudo, uma segunda parte
peitável número, se atendermos a que se            de emoções fortes com um programa assente
tratou de uma semana de escola e trabalho          nos mais brilhantes êxitos da ópera do período
normais, numa cidade que ainda não está            romântico, intercalados apenas por duas peças
na sua época turística. A população de Por-        de Gershwin, uma delas destinada também ao
timão está familiarizada com a presença de         “belo canto”. Gounod, Puccini, Bizet e Verdi
navios de guerra, mas não deixa de ser insó-       compunham um programa que não podia dei-
lita a presença de tantas unidades no porto,       xar de criar expectativas, sobretudo porque a
chamando a atenção de todos e despertan-           Banda da Armada ia ser acompanhada pela
do curiosidades.                                   soprano Manuela Moniz, interpretando um
os concertos dA BAndA                              conjunto de obras notáveis, que tinham me-
                                                   recido o arranjo de Jorge Salgueiro.
  As actuações da Banda da Armada con-
tam-se sempre de entre os momentos mais              O espectáculo recomeçou com a “Dança
emocionantes das comemorações dos dias             Festiva”, da Ópera “Fausto” de Charles Gou-
da Marinha, dada a qualidade artística do          not, prosseguindo com a ária “Ah! Je ris [de
seu trabalho e a popularidade que a mes-           me voir si belle en ce miroir]”, que marcou a
ma tem junto de um público alargado. Este          primeira actuação de Manuela Moniz. Seguir-
ano fez uma primeira exibição para o povo          -se-ia o coro dos marinheiros (bocca chiusa)
de Portimão, num concerto ao ar livre que          do 2º acto de “Madame Butterfly” de Puccini
teve lugar no dia 21, na alameda da Praça          e “O Mio Babbino Caro” da Ópera “Gianni
da República. O concerto oficial, contudo,         Schicchi”, do mesmo compositor. Puccini já
realizar-se-ia no auditório Nuno Mergulhão         não é, propriamente, um homem do romantis-
do Tempo – Teatro Municipal de Portimão,           mo e as suas óperas têm, por vezes, um toque
às 10 da noite do dia 22 de Maio. O pro-           de ironia que não lhe retira dramatismo, mas
grama foi cuidadosamente preparado pelo            dá-lhe um encanto especial. São dele algumas
Maestro CFR MUS Carlos da Silva Ribeiro,           das mais belas cenas de amor que se conhe-
com duas partes distintas que se comple-           cem na ópera. “O Mio Babbino Caro” (Paizi-
mentavam tematicamente de uma forma in-            nho querido) faz parte de um quadro em que
teligente e adequada a um concerto do Dia          a filha (Lauretta) pede ao pai (Gianni Schicchi)
da Marinha. Abrindo com a mesma música             que ajude a família (dos Donati) do seu apaixo-
que inaugurou os jogos olímpicos de Los            nado (Rinuccio). Gianni, contudo, odeia essa
Angeles (1984) composta por John Willia-           família, e recusa a ideia com veemência, mas
                                                   a filha usa de toda a sua arte de sedução para
                                                   conseguir demovê-lo dessa postura, nesta ária

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