Page 24 - Revista da Armada
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ACADEMIA DE MARINHA
As comunicações na Marinha
Desde as primeiras experiências de co-
municações sem fios a bordo do NRP ionosféricas. Apoiou e fiscalizou as comu- cialmente da Estação Radionaval de Dili, o
“D. Carlos I”, realizadas na Baía de nicações das Marinhas Mercante e de Pes- CALM Leiria Pinto disse: não contando com
Cascais, em 26 de Maio de 1902, houve uma ca. Competiu-lhe ainda a responsabilidade a Estação Radionaval de Macau que constituiu
transformação enorme nas comunicações da instalação dos meios de comunicação do um caso à parte, todas as outras estações do Ul-
navais. A TSF marcou o século XX naval, a Comando NATO em Oeiras – o COMIBER- tramar foram extintas quando do processo de des-
viragem do século fica associada ao fim do LANT, que concretizou com sucesso, com- colonização.
MORSE e o início do século XXI é marcado provando o seu elevado prestígio ao nível
pela mobilidade, pelo acesso transparente aos nacional e internacional. A derradeira a ser desactivada, já em 1975, as
serviços e aos sistemas em rede, onde e quan- suas congéneres tinham sido no ano anterior, foi a
do forem necessários. Foto Reinaldo de Carvalho Estação Radionaval de Dili, de que tive a honra de
ser seu director e infelizmente o último.
Toda esta evolução foi lembrada num ciclo CALM Leiria Pinto.
de duas conferências integrado nas “Come- A criação da rede de Estações e Postos Ra- Esta estação com circuitos para Lisboa, Louren-
morações do I Centenário da Radiotelegrafia dionavais mereceu a seguinte consideração: ço Marques e Macau, mantinha escuta permanen-
na Marinha Portuguesa – 1910-2010” reali- Foi um esforço técnico e logístico verdadeira- te nas frequências de socorro, apoiava a navegação
zadas na Academia de Marinha. A primeira mente ciclópico pôr em funcionamento e assegurar na área incluindo a lancha atribuída ao Comando
em 1 de Junho, desenvolvida pelo CALM a manutenção de todos estes pólos de comunicação, da Defesa Marítima e o trem naval do Governo
Leiria Pinto, enquadrou o período desde o muitos deles a trabalhar 24 horas por dia, a milha- de Timor. Após o incidente do navio “Angoche”,
início da TSF até 1975. Desta 1ª Conferência res de milhas de distância de Lisboa. passou a comunicar com os petroleiros portugue-
apresenta-se a seguir uma sumula: Note-se que a maioria foi criada no curtíssimo ses no trajecto do Oceano Índico entre Moçambi-
que e o Golfo Pérsico, enviando as respectivas po-
1ª ConferênCia: espaço de dois anos (1960 a 62). sições para Lisboa. Igualmente assegurava todo o
Toda esta rede de comunicações constituiu uma tráfego de Marinha e muitas vezes do Exército e
“Dos PrimórDios a 1975” do Governo de Timor.
peça imprescindível para a operacionalidade dos
O objectivo da exposição foi descrever a meios navais, por vezes dos outros Ramos das No início dos incidentes em Dili, que dariam
história das comunicações navais desde a Forças Armadas e até dos Comandos-Chefes e dos origem à guerra civil timorense, por inoperância
criação dos simples Postos Radiotelegráfi- Governos Ultramarinos. da Marconi local, a partir de 12 de Agosto de 1975
cos até à operação das potentes Estações Ra- todas as comunicações para fora de Timor, inclusi-
dionavais, que constituíram a espinha dor- Fazendo uma referência à extinção das ve as do Governo, foram efectuadas exclusivamente
sal das comunicações na Marinha, ligando Estações Radionavais do Ultramar, espe- pela Radionaval.
o Continente às Ilhas Atlânticas e aos anti-
gos territórios portugueses de África, Ásia No dia 20 a guerra civil principia na realida-
e Oceânia. de. O pessoal de Marinha, não atribuído ao trem
naval do Governo, entretanto desguarnecido pela
Foram definidos os vários períodos em fuga das suas tripulações nativas, recolhe à Ra-
que se considera dividido o espaço de tempo dionaval que também começa a acolher civis. A
entre os primórdios da TSF e o ano de 1975, Estação mantém-se operacional sem qualquer in-
sendo a seguir apresentados os terrupção, embora esteja continuamente debaixo
factos significativos entretanto de fogo, pois as suas instalações fazem fronteira
ocorridos, tendo na oportuni-
dade sido explicada a relevân- entre os dois partidos políticos ri-
cia de cada um deles. Foi feita vais. Vários projécteis caem dentro
igualmente uma referência às Es- do seu espaço, um dos quais fere um
tações e Postos Radionavais que sargento de Marinha que, devido ao
em 1953 estavam em operação seu grave estado de saúde, é evacua-
no Continente e no que respeita do para a Austrália.
ao Ultramar os criados no perío-
do de 1960-1973. Note-se que os militares dos ou-
tros dois Ramos, estavam confina-
No que se refere à acção da Di- dos à área do porto assim como o
recção dos Serviços de Electrici- Governador alojado perto, numa
dade e Comunicações (DSEC) foi residência particular. Unicamente
salientado que durante 54 anos a Marinha encontrava-se fora do
(1923-1978) teve a responsabili- perímetro de segurança.
dade da instalação e manuten-
ção de todo o material eléctri- Esta situação mantém-se até 26
co e radioeléctrico em serviço na Marinha, de Agosto, data em que o Gover-
tendo enfrentado com total êxito a sua con- nador e Comandante-Chefe ordena
tínua evolução, especialmente resultante da a saída de Dili. Às 21.15 desse dia,
inovação técnica e de uma complexidade após terem sido enviadas as últimas
crescente. Tratou da questão fundamental mensagens para Lisboa e para Macau é desac-
das frequências, defendendo os interesses tivada aquela que foi a última voz de Timor em
nacionais no direito à sua utilização e crian- Portugal. Terminava assim, de um modo profun-
do nesse âmbito um serviço de previsões damente inglório, a actividade da rede das Esta-
24 AGOSTO 2010 • Revista da aRmada ções Radionavais do Ultramar, projecto exem-
plarmente planeado, concretizado e mantido pela
Marinha Portuguesa e que na verdade consti-
tuiu uma das suas mais notáveis realizações.