Page 19 - Revista da Armada
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rana ou de D. Afonso V
Nacional de Arte Antiga
O Assalto a Arzila – 3,69 (esq.)/3,55 (dir.) X 10,99 (sup.)/10,94 m (inf.) Fotografia © Pol Mayer
veis, os personagens e as sucessivas gerações de príncipes que, sob os auspícios de S. Vicente (ou do mártir “Infante Santo”) e
guiados pelo indefectível espírito do Infante D. Henrique, geraram e desenvolveram a obra da expansão. Mas o rei precisava
de algo mais pessoal, mais adequado às suas próprias vitórias e ao seu reinado. Algo ao lado do qual pudesse caminhar pau-
sadamente e que, por si só, mostrasse aos seus vassalos, aos seus aliados e até aos inimigos, a sua grandeza. E tudo isso está
presente no conjunto das quatro tapeçarias que hoje pertencem à igreja da colegiada de Pastrana, onde estão desde a primei-
ra metade do século XVI. Não sabemos como é que foram parar aquele local tão longínquo, mas não há dúvidas nenhumas
do que representam, tanto mais que todas elas têm a respectiva legenda. As suas dimensões são gigantescas – como importa
à sua majestade e à grandeza dos actos – e mostram sucessivamente e com espantoso detalhe figurativo o desembarque, cer-
co e assalto à cidade de Arzila (as três primeiras), em 1471, a que se segue uma última representando a vitoriosa entrada na
mítica cidade de Tânger. Foram feitas em Tournai (Flandres), no século XV, tecidas em lã e seda, com um cartão (matriz) que
se chegou a supor ter sido criado pelo próprio Nuno Gonçalves ou por alguém que assistiu à expedição de Arzila.
A acção do tempo e um deficiente restauro efectuado nos anos cinquenta do século XX arruinaram uma parte da tela de su-
porte e do próprio fio, deixando buracos de traça enormes. Contudo, a Fundação Carlos de Amberes, na ocasião do 25º aniver-
sário da adesão de Portugal e Espanha à Comunidade europeia e, no fundo, um conjunto de vontades que reconheceram a im-
portância de salvar esta obra de arte, permitiram a sua recuperação utilizando os melhores métodos e técnicas, trazendo-as de
novo à vista do público, com todo o esplendor que D. Afonso V, certamente, lhe pretendeu dar. Estão agora no Museu Nacio-
nal de Arte Antiga, numa exposição temporária que congrega elementos artísticos da mesma época, num conjunto harmonioso
representativo da energia deste reinado.
J. Semedo de Matos
CFR FZ
A Tomada de Tânger – 4,04 (esq.)/3,87 (dir.) X 10,82 m Fotografia © Pol Mayer
Revista da aRmada • AGOSTO 2010 19