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ALMIRANTE MANUEL PEREIRA CRESPO
ORGANIZAÇÃO E VISÃO ESTRATÉGICA COMO VIRTUDES
«As actuais limitações do nosso Poder Naval não são imutáveis no futuro nem desanimadoras no presente. As marinhas peque-
nas também podem ser grandes: quando todas as suas actividades se enquadram numa doutrina correcta, quando a modéstia
do material não significa incapacidade e quando o pessoal, sendo competente, é animado por um elevado espírito de corpo»1.
Filho do oficial do Exército Manuel da em navio-hidrográfico, destinada a Capitão-tenente Manuel Pereira Crespo. Pela
Joaquim Crespo Júnior e de Fernan- apoiar a Missão. O trabalho desenvolvi- excelência do seu trabalho, o governo francês
da Brandão Pereira Crespo, Manuel condecorou-o com o grau de Oficial da Or-
do durante uma década, além do enor- dem da Legião de Honra.
Pereira Crespo nasceu em Lisboa no dia 30 me contributo para a navegação, reve- Aquando da substituição do Mandovi pelo
Pedro Nunes, convertido em navio-hidrográfi-
de Julho de 1911. Aluno do Colégio Militar, lar-se-ia crucial para o planeamento e co em 1956, o Capitão-tenente Manuel Pereira
Crespo comandou o navio até 10 de Maio de
viu-se obrigado a abandonar aquele estabe- execução da actividade operacional que 1957, altura em que cessou igualmente a che-
fia da Missão Geo-Hidrográfica da Guiné.
lecimento de ensino por motivos de saúde, aí se desenrolou a partir de 1961, quan-
Muito embora não fosse hidrógrafo de
tendo completado os estudos secundários no do eclodiu a guerra do Ultramar. formação, Manuel Pereira Crespo esteve cer-
ca de 15 anos envolvido nalgumas das mais
liceu Gil Vicente. Depois disso, ingressou na Foto Arquivo Histórico - BCM exigentes missões e tarefas que nesta área a
Marinha desenvolveu. Regressou definitiva-
Faculdade de Ciências de Lisboa, onde con- mente à metrópole em meados de 1957, vindo
prestar serviço na Divisão de Organização do
cluiu o segundo ano do curso de Matemáti- Estado-Maior da Armada (EMA). De referir
que, no ano anterior, havia integrado a Co-
cas. Talvez em resposta a um chamamento missão de Redacção dos Anais do Clube Militar
Naval, tendo sido responsável pela «Crónica
íntimo ou a uma vocação que se desconhece, de Marinha» durante oito anos.
Manuel Pereira Crespo abdicou daquela que Durante a comissão de serviço que prestou
no EMA, o Comandante Pereira Crespo fez
se afigurava ser uma promissora carreira parte de diversos grupos de trabalho, tendo
integrado a Comissão de Estudo e Reforma
académica universitária, em troca de uma do Ensino na Escola Náutica, contribuindo
também para a reorganização do ensino na
vida dedicada à Marinha, ingressando, no Escola Naval.
dia 1 de Outubro de 1930, já com 19 anos, na No dia 11 de Maio de 1959 assumiu o cargo
de chefe da Divisão de Organização do EMA,
Escola Naval. Casaria, cinco anos mais tarde, que desempenhou durante mais de quatro
anos, acumulando com a presidência da Co-
no dia 14 de Novembro de 1935, com Ema missão Permanente de Infra-estruturas da Ar-
mada. Nesse período integrou ainda o Grupo
Carmo Sequeira Gonçalves, não tendo dei- de Trabalho de Planeamento da Rede Costeira
de Radar e frequentou um curso sobre guerra
xado qualquer descendente. atómica.
Promovido a Guarda-marinha no dia Em 1960, pelo par de artigos subordinados
ao tema Problemas de Estratégia Naval,
1 de Setembro de 1933, iniciou um perío- publicados nos Anais do Clube Militar
Naval – «As missões das forças navais
do de diversas comissões de embarque a na guerra revolucionária» e «Objec-
tivos da guerra naval e missões das
bordo do contratorpedeiro Tâmega e das forças navais» – foi distinguido com o
Prémio Almirante Augusto Osório.
canhoneiras Faro, Quanza e Bengo. Em Dotado de verdadeira visão estra-
tégica, expressou, em várias ocasiões,
1935, após curta passagem pela Escola de a necessidade da Marinha proceder a
uma reorganização profunda, nomea-
Artilharia Naval, voltou a embarcar, desta damente nas estruturas do Ultramar,
ideia que continuou a desenvolver
feita como oficial de guarnição do aviso após publicação, em 1957, do artigo
Gonçalves Zarco, aí permanecendo até Ou- O Guarda-marinha Manuel Pereira Crespo. «Esboço duma possível reorganização dos
tubro de 1937. Foi neste navio que realizou serviços de marinha nas Províncias Africa-
nas», nos Anais do Clube Militar Naval.
a sua primeira longa comissão de serviço Comandou também o patrulha Sal, que
Atendendo à sua elevada reputação, era
nas províncias ultramarinas, desta feita deixou para reassumir o comando do navio- frequentemente convidado para integrar gru-
em Moçambique. -hidrográfico Mandovi, onde permaneceu
Regressado a Lisboa, frequentou o cur- mais cinco anos. Pelo facto de ter sido o pri-
so de especialização em Radiotelegrafia e meiro classificado do Curso Geral Naval de
Comunicações, que concluiu como melhor Guerra, que frequentou em 1951, recebeu o
classificado. Depois disso, entre 1939 e 1943 Prémio Almirante Botelho de Sousa.
prestou serviço na Missão Hidrográfi-
ca das Ilhas Adjacentes, primeiro como
chefe de serviço a bordo do navio-
-hidrográfico Carvalho Araújo2, e,
após promoção a Primeiro-tenente,
como oficial imediato do navio-hi-
drográfico D. João de Castro.
Em 1943 regressou como oficial
imediato ao navio-hidrográfico
Carvalho Araújo, seguindo para a
Missão Hidrográfica de Angola, onde
até 1947 executou inúmeros traba-
lhos de hidrografia e geodesia, em O navio - hidrográfico Mandovi.
cinco campanhas consecutivas.
Apesar de não ser hidrógrafo, em Em 1956, conhecedores da dimensão dos
Outubro de 1947 foi-lhe confiada a che- trabalhos que se desenrolavam na Missão Geo-
fia da Missão Geo-Hidrográfica da Guiné, -Hidrográfica da Guiné, os técnicos franceses
assumindo, pouco depois, o comando destacados no Senegal quiseram observar,
da Mandovi, uma canhoneira converti- in loco, a organização implementada pelo
11REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011