Page 16 - Revista da Armada
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DIÁLOGO DO MEDITERRÂNEO                                                       volvidos localmente pelo Reino Unido. No sentido de facilitar a aproxi-
                                                                              mação a potenciais países interessados na ICI e no DM, a Aliança criou
Fundação: 10 de Janeiro de 1994                                               em 2006 o Regional Co-operation Course no NATO Defence College.
Sigla: DM/MD
Estados-membros: NATO+7                                                          A exemplo do que sucede com as demais parcerias desenvolvidas
                                                                              pela Aliança, foi entretanto criado o Istanbul Cooperation Initiative Group,
   Foi igualmente na cimeira de Bruxelas em 1994, que a Aliança deci-         que integra conselheiros políticos dos 28 países da NATO. É a este Gru-
diu avançar para uma parceria de aproximação aos países mediterrâni-          po que compete definir os procedimentos e desenvolver actividades re-
cos, num processo designado como Diálogo do Mediterrâneo (DM). Em             levantes para os países do ICI, assegurando ainda a sua implementação.
boa verdade, o DM constitui parte integrante da abordagem cooperativa
que a NATO desenvolve com vista à segurança na área euro-atlântica,           CONTACT COUNTRIES
que passa pela estabilidade em toda a região do Mediterrâneo. Com-
preensivelmente, o DM tem como objectivo contribuir para um melhor            Fundação: 28 de Novembro de 2006
entendimento entre a Aliança e os países da região, procurando desfazer       Sigla: CC
eventuais equívocos relativamente às funções da NATO. Constituindo            Estados-membros: NATO+3
um processo bilateral progressivo, o DM passa, no essencial, pelo apro-
fundar das relações entre a Aliança e cada um dos países aderentes. Ao           A partir de 1990, tendo em vista a concretização de parcerias de co-
proporcionar a todos o mesmo quadro de intercâmbio e actividades              operação com países terceiros não abrangidos pelas áreas consideradas
conjuntas, contribui para o reforço de outros processos e iniciativas inter-  cruciais para a Aliança, a NATO iniciou, a título informal, contactos bila-
nacionais que se desenvolvem na região, como são os casos do Processo         terais com alguns Estados. Ao contrário do que sucede com as parceiras
de Barcelona, o Processo de Paz do Médio Oriente e a Iniciativa 5+5 Defesa.   atrás referidas, para estes países foi desenvolvido um quadro informal
                                                                              de relações com a NATO, tendo o primeiro deles sido posto em prática
   Tidos como elementos-chave para o progresso dos níveis de estabili-        com o Japão. Num processo que evoluiu com alguma lentidão, só em
dade almejados pela Aliança, um dos propósitos do DM é fazer com que          2004 foi aprovada a designação Contact Countries, também conhecida
aqueles países partilhem com a NATO a sua visão no que respeita à se-         como Partners Across the Globe, por sinal na mesma altura em que foi de-
gurança na região. Por conseguinte, existe uma permanente preocupação         cidido criar a ICI. No entanto, os primeiros passos concretos só foram
em trazê-los para: participar em actividades científicas, troca de informa-   dados na cimeira de Riga, já em 2006. Tratando-se de um processo mais
ção e planos de emergência civil; frequentar cursos nas escolas da NATO;      flexível do que as parcerias propriamente ditas, permite que os países
controlar e verificar armamento; e compartilhar responsabilidades das         contribuam política e militarmente para as operações que se desenvol-
forças militares no que concerne à protecção do meio ambiente.                vem no quadro da NATO, participando também na sua preparação,
                                                                              como aconteceu com as missões no Kosovo e no Afeganistão, esta últi-
   Em 1997, com o intuito de facilitar a articulação entre a NATO e os        ma ao abrigo da ISAF. Tendo em vista esse desiderato, a Aliança desen-
países do DM, foi criado o Grupo de Cooperação Mediterrânica, que lhe         volveu o conceito das Combined Joint Task Forces (CJTF).
conferiu melhor orientação e uma acção mais dinâmica, alargando as pos-
sibilidades de cooperação a mais de 700 actividades e eventos a realizar         Reforçadas por via das operações reais as relações entre a Aliança e
em cada ano.                                                                  os países que participam com forças militares, na cimeira Bucareste em
                                                                              2008 considerou-se oportuno definir os procedimentos a adoptar com
ISTANBUL COOPERATION INITIATIVE                                               outros possíveis parceiros, em qualquer ponto do mundo.

Fundação: 28 de Junho de 2004                                                    Em grande medida graças às parcerias desenvolvidas pela NATO,
Sigla: ICI                                                                    tem sido possível obter os meios humanos e materiais necessários para
Estados-membros: NATO+4                                                       as operações que decorrem sob a égide da Aliança, primeiro na Bósnia
                                                                              e no Kosovo, passando depois para Operação Active Endeavour no Medi-
   Ciente da deslocação do eixo de segurança da Europa para leste,            terrâneo, pela longa presença no Afeganistão e pela ajuda humanitária
a cimeira que em 2004 se realizou em Istambul aprovou o reforço da            aquando do sismo no Paquistão, além das forças navais empenhadas
cooperação com determinados países do Médio Oriente, ao abrigo do             em mitigar os actos de pirataria que se sucedem ao largo da Somália, até
Documento Quadro da Istanbul Cooperation Initiative (ICI). Face à sensibi-    às intervenções que decorrem na Líbia.
lidade da questão, e uma vez que Israel integra o Diálogo do Mediterrâ-
neo, o documento prevê a possibilidade da participação da Autoridade             Além dos 28 Estados que actualmente integram a NATO, através
Palestiniana no ICI, mediante aprovação prévia do NAC.                        das diferentes parcerias – Parceria para a Paz (22), Diálogo do Medi-
                                                                              terrâneo (7), Istanbul Cooperation Iniciative (4) e Contact Countries (3) – a
   Em Março de 2005 teve lugar no NATO Defence College, em Roma, a            Aliança mantém ainda relações privilegiadas com países como a Bósnia,
conferência NATO and the broader Middle East region, que juntou mais de       o Kosovo, o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão e a Coreia do Sul, sendo
uma centena de altas patentes, parlamentares, académicos e especialis-        de prever que o mesmo possa vir a suceder na Líbia, e, quem sabe, na
tas em segurança, oriundos dos países da NATO e do Golfo Pérsico,             Somália, logo que ultrapassados os actuais impasses.
numa troca de ideias e experiências que permitiu desenvolver a forma
de pôr em prática os objectivos delineados para a ICI que é, em grande           Criada com o objectivo de garantir a segurança mútua dos Estados
medida, complementar do Diálogo do Mediterrâneo. De forma análo-              signatários, na região do Atlântico Norte que se desenvolve para norte
ga, oferece a possibilidade dos países beneficiarem da cooperação com         do Trópico de Câncer, constata-se que a Aliança se tornou, entretanto,
a NATO, através de programas individuais especialmente adequados              um actor global, como o provam as mais recentes intervenções em te-
para o efeito, que incluem planeamento civil de emergência, reformas          atros designados por out-of-area. Foi igualmente nesta estratégia que se
na área da defesa, melhoria das relações entre as autoridades civis e         inseriu o Périplo de África efectuado pelos navios do Standing NATO Ma-
militares, promoção da cooperação entre os ramos militares, combate           ritime Group 1 (SNMG 1) em 2008, pelo que a influência da NATO já se
ao terrorismo e à proliferação de armas de destruição maciça, concreti-       estende, presentemente, a cerca de 70 países.
zando-se, estas últimas, através da partilha de informação privilegiada
(intelligence) e da cooperação marítima lato sensu.                           Notas:                                               CFR António Manuel Gonçalves
                                                                                                                                                 Membro do CINAV
   Não obstante, a implementação da ICI só foi iniciada em 2006, com a
visita do NAC ao Kuwait, que na ocasião acolheu a Conferência de Coope-       1  Serra Brandão, «Os Doze Anos da N.A.T.O.», Anais do  Clube Militar  Naval, Abril-Junho  de 1961, pp. 329-332.
ração com os países do Golfo. Posteriormente, o NAC participou em 2008 e      2  North Atlantic Treaty Organization.                  passo para     a segurança da      Europa Ocidental,
2009 em conferências de idêntico teor no Bahrein e nos Emiratos Árabes        3  OTratado de Bruxelas representou o primeiro
Unidos, respectivamente, tendo este esforço de aproximação aos países
do Médio Oriente saído beneficiado pelos programas bilaterais desen-             dando origem à Organização do Tratado de Bruxelas, que, mais tarde, em 1954, esteve na
                                                                                 génese da União da Europa Ocidental (UEO), formalmente extinta no passado mês de Junho,
16 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA                                               à qual Portugal aderiu a 27         de Março de 1990.
                                                                              4  CFR Nuno Sardinha Monteiro,         «Conceito Estratégico  de  Lisboa»,  Revista  da  Armada,  n.os  449  e  450,

                                                                              5  Fevereiro e  Março de    2011,  p.  4  e  p.  5.
                                                                                 Partnership  for Peace.
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