Page 25 - Revista da Armada
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vadas até agora, e que constitui uma mais-valia a implantação da República, as alterações te- dos Médicos ou Cirurgiões da Armada Real, um
assinalável para a Revista da Armada. nham sido quase irrelevantes. O livro incide botão curioso com uma âncora invertida, uma
assim num período de cerca de 160 anos. cobra e uma palma, ou o dos oficiais de Pena
Como curiosidade, convém salientar que a e Fazenda das Embarcações Reais onde apare-
área profissional do Dr. Paulo Santos não é, ou Para a investigação que desenvolveu foi cem 2 penas cruzadas, isto muito tempo antes
não tem sido, a arte, pois ele é licenciado em Ci- muito importante para o autor o conhecimen- de ser criada a classe de Administração Naval,
ências Políticas pela Universidade de Genebra, to dos planos de uniformes, dos regulamentos em 1887.
possui um Mestrado em Sociologia pela Escola e regimentos que entretanto foram saindo e
de Arquitectura da Universidade de Genebra, e que no período mencionado atingem o nú- Neste período que decorre por todo o século
outro em Estudos Europeus pelo Instituto de Estu- mero de cerca de quarenta. XIX a influência inglesa nos uniformes da Mari-
dos Europeus da mesma universidade.
Estes regimentos existentes em Bibliotecas e nha Portuguesa é enorme, não só no desenho
Exerceu funções de consultor internacional Arquivos não são fáceis de descobrir e muitas do fardamento, nos bonés, nas espadas, mas
na área de política regional de 1991 a 1996 vezes encontram-se truncados, pois apresen- também, logicamente, nos botões.
em Bruxelas e, posteriormente, ocupou até tam falta das folhas que constituíam os anexos,
2002, em Portugal, o cargo de assessor no normalmente, de maior dimensão, onde apa- É claro que nos botões, e só para falarmos
Ministério do Planeamento. Desde essa data reciam desenhados os botões com informa- nos oficiais, torna-se necessário para cada
é consultor independente, na área da política ções consideradas importantes. tipo de uniforme ter em atenção o posto, de-
regional, no espaço europeu. signadamente os almirantes, os capitães-de-
Destes regulamentos o autor dá uma explica- -mar-e-guerra e outros oficiais, e também as
A sua tendência para os estudos em arte, à ção mais detalhada daqueles que considerou classes, para além da classe de marinha, que
volta do mar, deve-se essencialmente à acção mais inovadores, entre os quais, o de 1761, começam a aparecer na segunda metade do
de um seu tio, Carlos Santos, homem ligado à onde aparece pela primeira vez o botão de ân- século XIX.
cultura e a estudos humanistas. cora, e depois o de 1807, sendo Secretário de
Estado da Marinha e Províncias Ultramarinas Para certificação daquilo que os regimen-
Depois de termos abordado o autor vamo- o Visconde de Anadia, João Rodrigues de Sá e tos informam, o autor socorreu-se de outras
-nos debruçar agora sobre a obra. Melo, e onde aparecem botões com uma con- fontes como as pinturas, nomeadamente as
figuração diferente como é o caso dos botões do Museu de Marinha, que infelizmente
O livro “O Botão de Âncora da Marinha são poucas, resumindo-se aos quadros dos
Portuguesa” vem na sequência do artigo sa- Esquíveis, Sartórios e Visconde de Soares
ído na Revista da Armada, a que já fizemos Franco e poucos mais.
referência. Efectivamente, o botão de âncora
no uniforme da Marinha tem um valor simbó- Curioso o estudo da magnífica escultura
lico que ultrapassa em muito o seu significado neoclássica do Príncipe Regente, em gran-
como simples objecto. de uniforme, que se encontra no Hospital da
Marinha desde 1814, da autoria de João José
O Comandante Humberto Leitão no seu “Di- de Aguiar, escultor oficial, que entretanto ti-
cionário da Linguagem de Marinha Antiga e Ac- nha substituído Machado de Castro, onde se
tual” refere-se ao Botão de Âncora significando, pode observar o botão de Almirante General
na gíria de oficiais, como a Corporação da Ar- da Armada com uma espada ou um sabre de
mada e o Comandante António Marques Espar- marinha cruzando um óculo e sobreposto a
teiro dá o título de “Famoso Botão de Âncora” a uma âncora, pormenor que o escultor não
um livro sobre a valentia e o estoicismo dos deixou de fixar.
marinheiros portugueses em combates navais
nos séculos XVII, XVIII e XIX. Período particularmente difícil de estudar
é o correspondente às Guerras Liberais,
O Botão de Âncora, apesar do simbolismo dada a influência estrangeira sobre os uni-
que se lhe reconhece, não tem sido historiado formes e onde sobressaem os regulamentos
suficientemente e tudo o que se conhece até de 1823, 1835 e 1856.
agora são pequenas referências, normalmen-
te pouco consistentes. Para o estudo concorreram também com-
plementarmente, as observações das gra-
Assim, o autor ao encarar a história do vuras, simples ou em jornais e revistas, e a
Botão de Âncora na Marinha Portuguesa, partir de 1870, as fotografias.
teve de desenvolver uma investigação de Particularmente interessante é também o
raiz a partir dos primeiros indícios do botão estudo efectuado sobre os fabricantes dos
nos uniformes da Marinha, ou seja, do sécu- botões. Primeiro aparecem as casas inglesas
lo XVIII, a partir do qual começa a aparecer e a partir de 1835 concorrem também as ca-
informação sobre uniformes na Marinha. O sas francesas, depois das relações políticas e
trabalho vai cobrir assim o período dos sécu- comerciais estabilizadas, aparecendo ainda
los XVIII, XIX e XX, mais concretamente após firmas alemãs e portuguesas. Em todos estes
1750, considerando ainda que no século XX a casos, o autor, para além de descrever o dese-
partir de 1911, do regulamento que saiu após REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 25