Page 20 - Revista da Armada
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PORTA-AVIÕES AO FUNDO
No âmbito das comemorações do
centenário da arma submarina Operando o Barracuda numa área a di iniciar durante essa noite o trânsito
em Portugal, fui desafiado pelo Sul de Cádis, procedia-se inicialmente para o limite Norte da área atribuída,
almirante director da Revista da Arma- à recolha de informações sobre as for- considerando, à partida, apenas a pos-
da para contar de viva voz a simulação ças azuis, designadamente o número e sibilidade quase única de poder “vis-
do ataque ao porta-aviões nuclear ame- tipo de navios de superfície, de aviões de lumbrar”, mesmo que no limite do hori-
ricano USS Dwight Eisenhower prota- patrulha marítima, seus tipos e slots de zonte, um porta-aviões tão poderoso e
gonizado pelo NRP Barracuda sob o operação, assim como dos helicópteros a respectiva escolta a navegar.
meu comando, uma vez que até ao pre- ASW disponíveis, quando, surpreen-
sente esse caso tem sido relatado por dentemente, por sobreposição durante Enquanto navegava ao snort para car-
terceiros em diversas publicações por um período de radiodifusão, foi pos- regar ao máximo as baterias do Barra-
ter sido entendido como sível aperceber-me de estar previsto o cuda aproveitando a cobertura da noi-
um marco significativo trânsito de uma importante força naval te, o estado do mar propício a camuflar
da capacidade e desem- americana com destino ao Mediterrâ-
penho dos submarinos da neo a fim de substituir a 6.ª Esquadra o borbulhar do snort, ten-
Marinha Portuguesa. Americana. do em atenção a presença
de aviões de patrulha ma-
É um facto que este caso A Task Force americana (USTF), não rítima e de helicópteros
teve na altura alargada integrante do exercício, era constituída ASW dos navios de super-
difusão em Portugal, quer no pelo porta-aviões USS Dwight Eisenho- fície “azuis”, fui ponde-
âmbito militar-naval, quer wer e pelos navios da respectiva escolta rando e equacionando as
no âmbito da sociedade de protecção, parecendo possível que no precauções que deveria
civil, enquadrando essen- seu trânsito cruzassem a parte Norte da assumir face à necessi-
cialmente um sentimento de área de patrulha atribuída ao Barracuda. dade de evitar qualquer
orgulho nacional por envol- indiscrição, na eventua-
ver uma acção protagoniza- Perante esta informação e avaliando lidade de se proporcionar
da por um submarino portu- ser possível interceptar a USTF, deci- a intercepção da USTF,
guês contra um porta-aviões possibilidade que gradual-
da marinha mais poderosa mente ia acalentando.
do mundo.
Para tal, era fundamen-
Quase 30 anos medeiam tal ter a bateria carregada,
desde essa operação, pelo estudar minuciosamente
que me propus reviver in- as condições batitermo-
tensamente os momentos gráficas na zona, explorar
então vividos recorrendo a e tirar o melhor partido
alguns apontamentos pes- das condições ambientais
soais ainda guardados, ten- e manter total discrição,
tando recordar o mais por- fundamentalmente por se
menorizadamente possível viver o clima de “guerra
todas as fases da operação, fria” com a União Sovi-
a análise das situações tác- ética, o que implicava
ticas que se me depararam, certamente especiais cui-
as opções tácticas assumi- dados de protecção do
das e as decisões operacio- porta-aviões por parte do
nais tomadas. comandante da USTF.
Assim: Estava seguro que se o
“Decorriam os primeiros Barracuda viesse a ser de-
dias do exercício NATO tectado, seria certamente
“LOCKED GATE 83” no obrigado a fazer superfí-
longínquo mês de Maio cie para ser confirmado
de 1983, tendo como ce- como CERTSUB aliado,
nário o bloqueio do aces- situação que em nada
so marítimo do Atlântico ao Estreito de agradaria seguramente a
Gibraltar. qualquer comandante de
Ao Barracuda, como integrante das submarino.
forças “laranja”, estava inicialmente Dependendo do posicionamento que
atribuída a missão de harassment às conseguisse do Barracuda em relação
forças de superfície “azuis”, ou seja, ao avanço da USTF, poderia ser força-
“a missão de provocar contactos espo- do a optar por uma postura passiva de
rádicos” com o objectivo de lhes fazer observação à distância ou assumir uma
equacionar a provável ou possível pre- postura agressiva e tentar a penetração
sença de submarinos na área e criar- da cortina de protecção e simular um
-lhes incerteza, insegurança e acresci- ataque à unidade valiosa.
das necessidades quanto ao dispositivo Um comandante de submarino é trei-
de protecção dessas mesmas forças. nado para assumir, sempre que possí-
vel, uma postura de ataque.
Com o raiar da manhã e com o Barra-
20 ABRIL 2013 • REVISTA DA ARMADA