Page 21 - Revista da Armada
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cuda adequadamente posicionado no uma velocidade reduzida para minorar Após a conclusão da acção e não ve-
limite Norte da área atribuída, começa- a variação da mesma na eventualidade rificando qualquer tipo de reacção da
ram a ser detectadas as primeiras trans- de uma detecção por parte dos escoltas USTF, decidi enviar uma mensagem su-
missões sonar de baixa frequência dos e reduzindo ao mínimo o ruído produ- cinta para o CINCIBERLANT (entidade
escoltas da cobertura de protecção do zido a bordo a fim de evitar a eventual condutora do exercício), referindo com
porta-aviões, pelo que ordenei de ime- detecção por qualquer meio em escuta algum humor: “pedia desculpa, mas a
diato a navegação a uma cota abaixo passiva. presença de um alvo tão importante
da profundidade da camada, a fim de não me tinha deixado outra hipótese
posicionar o submarino numa zona de Após ter penetrado com sucesso a senão a de esgotar a totalidade dos tor-
sombra, tentando assim evitar qualquer cortina avançada dos helicópteros e pedos embarcados”.
detecção. dos escoltas, aproveitei a turbulência
provocada pelas esteiras dos navios de Obviamente que o sucesso da ope-
Estimando que a USTF se encontrava superfície para inverter o rumo do sub- ração encheu de orgulho toda a guar-
ainda a uma distância segura, decidi marino a fim de continuar a “mostrar” a nição do Barracuda, nomeadamente
uma ida à cota periscópica rápida e silhueta mínima aos sonares dos escol- por demonstrar os elevados padrões de
com a máxima discrição, a fim de ten- tas e ficar a aguardar a passagem por desempenho operacional dos submari-
tar avaliar como estavam a evolucionar sobre o Barracuda do USS Eisenhower, nos portugueses e por contribuir para o
tacticamente os na- cujo efeito hidrofónico se destacava
vios da escolta, cons- significativamente nos equipamentos bom nome da Esqua-
tatando a presença de de escuta do submarino. drilha de Submarinos.
helicópteros em dip
sonar e dos mastros Nessa altura tive a profunda convic- A posteriori realizei
dos escoltas no hori- ção do total êxito da operação, aten- que a acção do Bar-
zonte. dendo ao facto de nunca ter verificado racuda tinha tido ele-
qualquer reacção dos escoltas, desig- vadas repercussões e
Procedi de novo nadamente a alteração de rumo, velo- causado bastante in-
para uma cota abaixo cidade e frequências das transmissões comodidade na força
da profundidade da sonar. americana, embora
camada e avaliei nes- em contrapartida te-
sa altura que reunia Navegando a baixa velocidade e ao nha sido largamente
todas as hipóteses de mesmo rumo do porta-aviões, foi o apreciada e reconhe-
tentar com sucesso a Barracuda sendo progressivamente cida, de tal forma que
penetração da corti- alcançado pelo Eisenhower, ficando no final do exercício o
na de protecção e de progressivamente com uma acrescida Barracuda foi destina-
simular um ataque ao protecção em relação aos escoltas em tário de uma especial
porta-aviões, uma vez afastamento. e elogiosa referência
que conhecia mui- através de uma mensa-
to bem as condições Ordenei então o aumento da veloci- gem do CALM Willia-
batitermográficas na dade do Barracuda a fim de prolongar ms (deputy CINCIBER-
zona, tinha a bateria o acompanhamento do porta-aviões LANT) dizendo:
do submarino quase completamente navegando sob o seu enorme casco,
carregada, tinha as radiodifusões em embora por pouco tempo, face à apre- “For BARRACUDA
dia e o Barracuda encontrava-se ideal- ciável diferença de velocidades. The rare opportunity of attacking a
mente posicionado face ao avanço da carrier must have made your day. Bravo
força. Atendendo à diferença de velocida- Zulu. RAdm Williams sends”.
des, o Barracuda foi ficando gradual- Após o regresso à Base Naval no final
Era sem dúvida uma oportunidade mente para ré do Eisenhower e, logo do exercício, foi recebido o pedido do
única, imperdível e irrecusável para que os hélices passaram para vante do comando da USTF através do CINCI-
qualquer comandante de submarino e, submarino, ordenei a ida à cota peris- BERLANT para que lhes fossem faculta-
por maioria de razão, para um coman- cópica até atingir o posicionamento dos todos os registos da acção realiza-
dante de um submarino convencional, ideal para simular o ataque com tor- da, demonstrando a real incomodidade
perante a hipótese de poder conseguir pedos. que a acção originou na força america-
aproximar-me até à posição de ataque na, provavelmente por demonstrar a fra-
de um “alvo super valioso”. gilidade e a pouca eficácia da força de
protecção de um porta-aviões nuclear
A decisão estava tomada e era irrever- tão valioso, permitindo ter sido alvo de
sível. um ataque (simulado) de um submari-
no convencional dotado de torpedos de
Convirá aqui recordar que, para atin- carreira curta.”
gir a posição de ataque, o Barracuda
tinha que se aproximar idealmente a Carlos Manuel Brites Nunes
cerca de 2.000/3.000 metros do “alvo” CMG
para conseguir um ataque com sucesso,
atendendo ao alcance e velocidade dos ∙ Comandante do submarino Albacora
torpedos embarcados (cerca de 6.000 – 03OUT1980/25MAR1981
metros/25 nós).
∙ Comandante do submarino Barracuda
Com a análise profunda das condições – 25MAR1981/19MAR1984 e em acumulação
batitermográficas na zona e face à apro-
ximação dos helicópteros e dos escol- ∙ Comandante do submarino Albacora
tas, manobrei a uma cota previamente – 01MAR1984/19MAR1984
calculada para tirar o melhor partido
das zonas de sombra e abaixo da pro- N.R.
fundidade da camada, oferecendo a si- O autor não adota o novo acordo ortográfico.
lhueta mínima às transmissões sonar, a
REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2013 21