Page 17 - Revista da Armada
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o seu trânsito na barra de Lisboa e atacar um do período de tempo, tem que determinar a plataforma oferece. Para contrariar esta amea-
navio que se encontre atracado num cais no distância, velocidade e rumo da referida mota, ça, um possível oponente necessita de uma for-
seu porto. Devido à particularidade da explo- para saber se está em segurança utilizando ça naval especializada na luta anti-submarina
são de um torpedo, os seus efeitos são muito unicamente os seus ouvidos. Os muito sensí- de elevadas dimensões e com cobertura aérea
mais destruidores que outras armas utilizadas veis sensores acústicos dos submarinos têm a permanente. Contudo, mais importante do que
na guerra naval, garantindo normalmente a capacidade de detetar ruídos a grande distân- os números dos constituintes da força é o treino
destruição do alvo. cia, embora sempre dependentes das condi- que ela terá que dispor na luta anti-submarina,
ções de propagação do raio sonoro que varia o que devido às suas características de coorde-
O facto de a Marinha Portuguesa já ter no enormemente com as alterações da densida- nação muito particulares, permite garantir que
seu inventário de armamento os mísseis anti- de de água do mar. Com aquela informação no mundo existem muito poucas nações com
-navio Harpoon, fabricados pela companhia o sistema de combate, através de algoritmos uma capacidade efetiva naquela luta.
americana Boeing, levou a que esses mísseis avançados, calcula rapidamente as incógnitas
viessem a equipar também os submarinos da para a determinação do movimento do alvo O anteriormente referido leva-nos ao caráter
classe Tridente. Contudo, o modelo instalado que são: o rumo, a velocidade e a distância. fundamental do submarino que é a capacida-
sofreu uma atualização dos seus sistemas e o Como todos os equipamentos instalados nos de de dissuasão única e credível que detém.
seu encapsulamento, de forma a ser possível navios produzem vibrações que são transmi- Na realidade não é necessário recuar muito no
o seu lançamento com o submarino em imer- tidas pelo casco para a água, o submarino tempo para se encontrar exemplos do caráter
são. Este modelo, Block II, permite, para além deteta e analisa as linhas de frequência desses de dissuasão do submarino, bastando recordar
de ataques a navios como o anterior, o ataque equipamentos, permitindo a identificação do os factos ocorridos nos anos noventa, durante
a alvos em terra com alcances superiores a alvo mesmo sem haver contacto visual. Claro o desmembramento da antiga república da
100Km, com um erro inferior a 1 metro. está que, se esses navios estiverem parados e Jugoslávia, em que um submarino pouco evo-
não produzirem ruído, não serão detetados. luído tecnologicamente e pouco treinado, por
Por fim as minas Morena, que podem ser se ter perdido o seu contacto durante as suas
“semeadas” de uma forma completamente Assim, a diversidade dos sensores que equi-
discreta, negando ao opositor a pam estes submarinos permitem que Portugal provas de mar, obrigou uma for-
utilização do mar. tenha conhecimento do que se passa nas áre- ça considerável da NATO, que se
as sob sua soberania e de uma forma discreta. encontrava a efetuar o bloqueio
Assim, o armamento que estes Por Portugal fazer parte da organização NATO, naval, a tomar medidas extremas
submarinos poderão utilizar pos- que controla todos os movimentos abaixo da para não possibilitar que as suas
sibilita afirmar que Portugal detém superfície da água, muito à semelhança do que unidades mais importantes como
um elevado poder destrutivo, se acontece com o controlo do tráfego aéreo, e porta-aviões, pudessem ficar den-
houver vontade e necessidade em continuar a operar submarinos é possível man- tro do alcance das armas daquele
o empregar. ter o conhecimento dos movimentos de outros submarino.
submarinos e objetos imersos na imensa área
Em segundo lugar, os subma- sob sua responsabilidade, que de outra forma Finalmente, o submarino tem
rinos da classe Tridente estão não seria realizável. uma capacidade única de trans-
equipados com uma panóplia de portar e projetar forças espe-
sensores que lhes permite a reco- A terceira capacidade que estes submarinos ciais sem serem detetadas, o que
lha de informação em diversos oferecem a Portugal é o seu longo alcance, garante uma modalidade de ação
espectros e de uma forma com- pois possibilita que permaneçam na sua área ímpar para as nossas forças arma-
pletamente discreta, isto é, sem de operação durante longos períodos sem das e consequentemente como
alterar o comportamento daque- serem reabastecidos. A título de exemplo, os instrumento no apoio à política
les que estão a ser monitorizados. submarinos podem largar de Lisboa, chegar ao externa de Portugal.
Aliás, os submarinos são conside- Cabo da Boa Esperança e regressar sem neces-
rados as plataformas ideais para a sitarem de reabastecer de combustível. Para terminar, não se pode
recolha de informação por não condicionarem deixar de salientar que embora o submarino
o modo de operação dos seus alvos. Mas a capacidade mais importante de um seja uma unidade essencialmente militar, ten-
submarino é a sua discrição. Um submarino do em conta a sua capacidade extraordinária
Estão equipados com dois periscópios em ao sair a barra de Lisboa e entrar em imersão de recolha de informação de uma forma dis-
que um deles é optrónico, isto é, as imagens potencialmente passa a estar em qualquer pon- creta e de fornecer uma incerteza insolúvel a
são captadas por um sensor e transmitidas to do país, seja em frente a Caminha, Vila Real um possível opositor, sempre que está no mar
para o sistema de combate através de fibra óti- de St. António, Selvagens ou Flores. Isto é, pro- é empregue tanto em ações de âmbito militar
ca, ao contrário do periscópio penetrante em voca um grau de incerteza que nenhuma outra como não militar. Um exemplo desta forma de
que o homem observa através de lentes a si- atuação foi a interceção e seguimento discreto
tuação exterior. Os periscópios incluem ainda de um pesqueiro suspeito de tráfico de estupe-
sensores de infravermelhos, camara vídeo/fo- facientes, reportando a posição para um navio
tográfica HD e de baixa luminosidade, laser e patrulha que se manteve fora do alcance visual
sensores de guerra eletrónica que lhes permite onde se encontrava uma equipa de forças es-
recolher grande quantidade de dados. peciais a bordo. Quando foi decidido o assalto
ao pesqueiro, o submarino forneceu informa-
O espectro eletromagnético é monitorizado ções sobre a posição e o comportamento do
através de um mastro SIGINT (Signal Inteligen- pessoal no seu exterior para que a operação
ce) que permite recolher dados paramétricos corresse com sucesso. O corolário desta ação
de transmissores radares e de comunicações foi a apreensão de 1.700 Kg de cocaína, sendo
em diversas bandas. mais um exemplo do paradigma de duplo uso
da Marinha.
Contudo, os sensores mais importantes a
bordo de qualquer submarino são os acústi- Sintetizando, a necessidade de Portugal ope-
cos. Este facto deve-se a que o submarino, rar submarinos deve-se fundamentalmente à
quando em imersão profunda, só pode contar sua geografia que é imutável e sobretudo para
com os sonares em modo passivo para de- manter a sua soberania.
terminar a situação de outros navios nas suas
proximidades. Como imagem exemplificati- M. Silva Gouveia
va, imagine-se um banhista numa praia que, CFR
ao dar um mergulho, deteta o ruído de uma
mota de água em movimento e, num reduzi- REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2013 17