Page 16 - Revista da Armada
P. 16

5ª ESQUADRILHA

NA VANGUARDA DA DEFESA NACIONAL

 “Há dois tipos de navios, os submarinos e os      área marítima, verificamos que nos encon-         com uma válvula no seu topo (válvula de ca-
                                                   tramos no centro do espaço euro-atlântico,        beça) que fecha automaticamente sempre que
A ............................... alvos”           aspeto mais particular e único de Portugal na     a água do mar se aproxima, evitando a sua en-
       compra de meios para as forças arma-        União Europeia.                                   trada para o interior do submarino. Este mas-
       das em períodos de paz foram histori-                                                         tro permite a entrada de ar fundamentalmente
       camente sujeitas a grandes vicissitudes      Não haverá muita discordância com a opi-         para alimentar a combustão de motores diesel
e contestações, possivelmente no seguimento        nião de que para vigiar, controlar e se necessá-  que têm acoplado geradores, que por sua vez
da velha questão entre “canhões ou mantei-         rio defender aquela gigantesca área, é neces-     alimentam as baterias, carregando-as eletri-
ga”. Contudo essa contestação foi muito mais       sária uma Marinha oceânica. Por outro lado        camente. Como facilmente se entende, esta
sentida no caso da compra dos atuais submari-      é notório que Portugal nunca terá os meios        é a situação mais perigosa para o submarino,
nos, por se ter associado à grave crise financei-  suficientes para patrulhar aquela imensa área,    pois é a única circunstância que permite a sua
ra e económica que o país atravessa e às sus-      utilizando uma estratégia de presença. Ora é      deteção sem margem para dúvida e a conse-
peitas de corrupção, situação a que a Marinha      partindo destes pressupostos que a estratégia     quente perda da vantagem mais importante
Portuguesa é completamente alheia.                 de dissuasão toma sentido e na qual o subma-      de um submarino, a sua discrição.
                                                   rino é um instrumento vital como mais à frente
 Ao esgrimirem-se argumentos a favor ou con-       se irá mostrar.                                    Os submarinos da classe Tridente estão equi-
tra aquela aquisição, constatam-se                                                                                pados com um sistema de pro-
lacunas na sua fundamentação,                       Qualquer submarino tem a eletricidade                         pulsão independente do ar, que
nomeadamente pelo desconheci-                      como fonte primária de energia. No mundo                       utiliza células de combustível
mento da arma submarina, o que                     existem dois tipos de submarinos no que con-                   alimentadas a hidrogénio e oxigé-
obviamente provoca distorções                      cerne à sua propulsão, os nucleares e os con-                  nio, que se encontram armazena-
nas opiniões que cada um terá                      vencionais ou “diesel-elétricos”.                              dos em tanques especiais. Como
sobre a necessidade de Portugal                                                                                   este sistema produz energia elé-
operar submarinos.                                  Os submarinos nucleares produzem ener-                        trica, permite um maior espaça-
                                                   gia elétrica através de turbinas alimentadas a                 mento entre os períodos necessá-
 Serve este texto para, no ano                     vapor produzido por um reator nuclear. Esta                    rios para fazer snort. Em jeito de
em que se comemora o centená-                      forma de propulsão permite a disponibilidade                   comparação, os submarinos da
rio da operação de submarinos                      imediata de uma quantidade de energia colos-                   classe Albacora teriam que fazer
em Portugal, expor as capacida-                    sal durante bastantes anos sem que seja neces-                 snort para carregar as suas bate-
des dos novos submarinos e da                      sário reabastecer de combustível.                              rias de 15 em 15 horas, enquanto
sua necessidade, permitindo que                                                                                   os submarinos da classe Tridente
os leitores formulem uma opi-                       Já no caso dos submarinos convencionais,                      poderão estar 15 dias sem o fazer,
nião sustentada.                                   como é o caso dos submarinos portugueses,                      utilizando a sua bateria de eleva-
                                                   a energia elétrica é armazenada em baterias                    da capacidade e o sistema de cé-
 É facilmente percetível que a                     similares às utilizadas nas nossas viaturas, em-               lulas de combustível.
posição geográfica de Portugal                     bora com dimensões bem diferentes. Assim
no canto sudoeste da Europa                        sendo, como nas baterias de qualquer telefone      Embora os submarinos da classe Tridente te-
mostra que se encontra distante dos centros        celular, e dependente do uso que lhe é dado,      nham dimensões semelhantes aos submarinos
de decisão políticos, económicos e industriais     periodicamente há a necessidade de carregar       da classe Albacora, deslocam praticamente o
deste continente. Mostra-nos igualmente que        as baterias dos submarinos convencionais.         dobro da sua tonelagem e a sua guarnição foi
possui uma única fronteira terrestre com um                                                          reduzida para quase metade, devido princi-
país amigo, com que partilha as mesmas alian-       Normalmente, a operação de carregamen-           palmente à elevada automatização instalada
ças, e finalmente, por se encontrar no extremo     to das baterias é realizada com o submarino       e à aplicação do regime de bordadas (dois
sudoeste da Europa, encontra-se numa zona          a uma profundidade a que os submarinistas         turnos) com que a guarnição sempre navega.
de clivagem económica, política e cultural         chamam de cota periscópica, que permite içar
evidente.                                          os mastros, incluindo o mastro snort, fora de      Mas quais as capacidades que estes subma-
                                                   água, ficando em contacto com a atmosfera.        rinos dão a Portugal?
 Portugal detém hoje sob sua jurisdição uma        O mastro snort não é mais que um tubo oco
área marítima muito extensa, que resulta                                                              Em primeiro lugar eles estão equipados com
da sua Zona Económica Exclusiva e da área                                                            armas de elevada letalidade que incluem os
atribuída para a salvaguarda da vida humana                                                          torpedos “Black Shark”, os mísseis Sub-Harpo-
no mar em acordos internacionais. Todavia,                                                           on e as minas Morena.
com a esperada aprovação da proposta de
extensão da plataforma continental apresen-                                                           Os torpedos “Black Shark”, fabricados pela
tada às Nações Unidas em 2009, Portugal,                                                             companhia italiana Whitehead são torpedos
pela primeira vez, terá um território contínuo                                                       pesados, filo guiados e que permitem o ataque
entre o continente e as ilhas com uma área                                                           tanto a navios de superfície como a outros sub-
equivalente a 80% do tamanho da Europa.                                                              marinos a distâncias superiores a 40 Km. Por
Nesse imenso mar, para além das riquezas já                                                          serem filo guiados, isto é, estão ligados ao sis-
conhecidas e por descobrir, encontram-se as                                                          tema de combate por um cabo de fibra ótica,
principais linhas de comunicação marítimas                                                           podem também ser utilizados como sensores
que são vitais para o comércio de Portugal e                                                         avançados do submarino durante o seu longo
da Europa. Aliás, se se fizer uma mudança de                                                         trajeto. A troca permanente de informações
foco da geografia continental europeia, que                                                          permite que se alterem designações dos alvos
posiciona Portugal numa zona periférica, para                                                        e a confirmação do alvo que se quer atingir.
a totalidade do território, incluindo a imensa                                                       Como exemplo, estes torpedos poderiam ser
16 ABRIL 2013 • REVISTA DA ARMADA                                                                    lançados próximo do Cabo Espichel, efetuar
   11   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21