Page 17 - Revista da Armada
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Eis aqui, quase cume da cabeça ções que nos enformam, importa real- nacionais e vigiando a fronteira oci-
da Europa toda, o Reino Lusitano, çar que o navio-escola Sagres constitui dental da Europa.
onde a terra se acaba e o Mar começa igualmente um dos derradeiros elos
e onde Febo repousa no Oceano. nas últimas décadas não quebrados en- O navio-escola Sagres é ainda o único
este quis o Céu justo que floreça tre Portugal e a sua vocação marítima, navio da Marinha que cumpre estrita-
nas armas contra o torpe Mauritano, apenas possível graças à visão estraté- mente com o estipulado na portaria de
deitando-se de si fora; e lá na ardente 1863 que, recordamos, mandava colo-
África estar quieto o não consente. Fotos CFR António Gonçalves
car a divisa A PATRIA HONRAE
Esta é a ditosa pátria minha amada, QUE A PATRIA VOS CONTEM-
à qual se o Céu me dá que eu sem perigo PLA no tombadilho. Face à ine-
torne, com empresa já acabada, xistência de castelo de popa,
acabe-se esta luz ali comigo. que é uma característica de al-
Esta foi Lusitânia, derivada guns veleiros, nos restantes na-
de Luso ou Lisa, que de Baco antigo vios aquela inscrição encontra-
filhos foram, parece, ou companheiros, -se aplicada na superstrutura da
e nela antão os íncolas primeiros. ponte, cuja visibilidade é fran-
camente menor, nomeadamente
Muito embora a evolução dos para os elementos que integram
acontecimentos tenha posto ter- as respetivas guarnições.
mo à monarquia em Portugal,
apraz-nos registar o facto de a re- Em virtude de, no átrio da Es-
pública ter mantido as divisas an- cola Naval, os cadetes se de-
teriormente atribuídas à Marinha pararem, diariamente, com a
Real pelos reis D. Luís e D. Car- célebre divisa – TALANT DE
los I, às quais acrescentou ainda BIEN FAIRE – que os exorta a
uma terceira, que desde então um esforço pessoal no sentido
figura nos estandartes nacionais de buscarem a perfeição através
das Forças Armadas. Talvez devi- do estudo, da entrega e da sua
do ao pendor eminentemente pa- ação, entendemos que aquele
triótico das três divisas em uso na lema deveria estar igualmente
Marinha, estas também resistiram patente, em local bem visível, a
à alteração de regime resultante bordo do NRP Sagres, na medi-
da Revolução de Abril em 1974. da em que o embarque naque-
Sem disso darmos conta, quan- le navio constitui um elemento
do percorrermos, por ordem cro- fundamental para a formação
nológica, as divisas em uso na dos futuros oficiais da Marinha.
Marinha, caminhamos do parti- Cumprir-se-ia, assim, com o de-
cular para o geral. A mais antiga As divisas da Marinha no NRP Sagres. liberado pelo Conselho do Al-
mirantado em 1894.
– A PATRIA HONRAE QUE A PA-
TRIA VOS CONTEMPLA – que no António Manuel Gonçalves
passado dia 20 de março cumpriu CFR
150 anos, é, sobretudo, a divisa
dos navios da Marinha. A segun- Membro do CINAV
da – TALANT DE BIEN FAIRE – en-
trou em vigor em 1894 e celebra Texto adaptado da conferência proferida a
120 anos a 5 de julho do próximo bordo do NRP Sagres a 22 de maio, por oca-
ano. É, formalmente, a divisa de sião das comemorações do Dia da Marinha.
toda a Marinha, que pelo seu sig- Agradecimento:
nificado foi em boa hora adotada
pela Escola Naval. E, por fim, a Sendo este o derradeiro núme-
mais recente – ESTA É A DITOSA ro da revista dirigido pelo senhor
PÁTRIA MINHA AMADA – que a Contra-almirante Luís Augusto Ro-
30 de junho 2011 cumpriu o seu que Martins, aproveitamos o ense-
centenário, tendo sido escolhida jo para publicamente agradecer as
pela Assembleia Nacional Consti- reiteradas palavras de incentivo à
tuinte para conferir cunho patrió- nossa colaboração com a Revista da
tico aos estandartes nacionais das Armada, que desde 2005 se traduziu
Forças Armadas. em mais de uma centena de artigos, VALORES QUE NOS DISTINGUEM
A concluir, relembramos que, em cerca de 250 páginas. As divi-
além de outros relevantes sím- O busto e a divisa do infante no átrio da Escola Naval. sas abordadas neste artigo traduzem
fielmente o espírito com que, duran-
bolos e tradições, o NRP Sagres é, gica daqueles que, neste período, con- te quinze anos, dirigiu a Revista da
presentemente, o único navio onde se duziram os destinos da Marinha. Numa Armada.
encontram patentes as três divisas: a época em que tanto se fala da necessi- Notas:
primeira, nas rodas do leme; a segun- dade e da importância de Portugal “re- 1 Contra-almirante Manuel Pereira Crespo,
da, a estibordo a ré da figura de proa; e gressar ao mar”, convém recordar que Subsídios para uma Estratégia Naval, Separa-
a terceira, no respetivo Estandarte Na- a Marinha sempre aí esteve, resiliente, ta dos Anais do Clube Militar Naval, Lisboa,
cional. Além de repositório dos mais de corpo e alma, salvaguardando os 1954, p. 118.
relevantes princípios, valores e tradi- interesses e os recursos estratégicos 2 São nossos todos os sublinhados.
REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2013 17