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REVISTA DA ARMADA | 501

Migrantes a caminho de Lampedusa (Fonte: Mondo24.it)

forneceriam as armas, nas quais estariam incluídos alguns mísseis      O conflito na Líbia, em 2011, assim como as quedas dos regimes
terra-ar, comprados legitimamente pelo Estado guineense.               da Tunísia e do Egito, fez aumentar substancialmente o tráfico de
                                                                       migrantes para Lampedusa – Itália. A Espanha, por outro lado,
  Esta região não se debate apenas com o tráfico de cocaína, mas       graças ao rigor das suas ações de vigilância, tem conseguido mini-
também, a uma escala inferior, com o de drogas produzidas local-       mizar o tráfico de migrantes para o seu país.
mente em laboratórios, como a metanfetamina. Em 2011 e 2012
foram descobertos dois locais de produção na Nigéria. Esta droga         Em 2013, atravessaram o Mediterrâneo, com destino a Espa-
destina-se essencialmente ao mercado asiático e à África do Sul,       nha (zona do Estreito de Gibraltar), Itália (Lampedusa), Malta e
sendo transportada em mão para países como o Japão, a Repúbli-         Grécia, cerca de 39 420 migrantes, provenientes sobretudo do
ca da Coreia, a Malásia e a Tailândia, entre outros.                   continente africano. Entre 1998 e 2013, chegaram ilegalmente
                                                                       à Europa por mar cerca de 632 118 migrantes, ou seja, perto de
  Os milhões gerados pelo tráfico de droga na região do Golfo da       40 000 por ano.
Guiné e em alguns dos países vizinhos, poderão também estar a
contribuir para armar grupos rebeldes extremistas no Sahel e no          A Parte 2 deste artigo irá abordar outros tipos de crimes or-
Magreb Islâmico.                                                       ganizados nesta região do globo, como o tráfico de armas e a
                                                                       pirataria marítima.
  Outro dos problemas desta região é o tráfico de migrantes com
destino à Europa, contudo este êxodo tem vindo a reduzir-se nos                                                                                  Portela Guedes
últimos anos. Mesmo assim, o número de pessoas que migram ile-                                                                                                  CFR
galmente desta região do Golfo ainda é da ordem dos milhares, e
fazem-no, na sua grande maioria por avião, quer utilizando vistos         Bibliografia
verdadeiros – limitando-se estes migrantes apenas a não regressar         - Criminalidade Organizada Transnacional na África Ocidental: Avaliação da ameaça.
após a expiração da validade dos mesmos – quer com recurso a              Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) [2013].
vistos falsos. Outros, porém, fazem os trajetos por terra, auxiliados     - Global Report on Trafficking in Persons 2014. United Nations Office on Drugs and
normalmente por grupos nómadas, como os tuaregues, no Níger e             Crime – Vienna.
no Mali, os toubou, no Chade e na Líbia, ou os zaghawa, no Chade          - PIRES, Raúl M. Braga – Maghreb/Machrek: Olhares Luso-Marroquinos sobre a Pri-
e no Sudão, que recebem dinheiro em troca dos seus serviços.              mavera Árabe. 1.ª Ed. Lisboa; Diário de Bordo, Lda. 2013. ISBN 978-989-8554-21-5.
                                                                          - Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Report 2014. United Kingdom:
  Nem todos os migrantes são obrigatoriamente gente pobre.                ICC International Maritime Bureau [2015].
Muitos deles até têm alguma formação escolar e optam por par-             - International Maritime Bureau. Disponível em: <http://www.icc-ccs.org>. Acesso
tir na esperança de uma vida melhor. Contudo, largas centenas,            em: 10FEV2015.
senão mesmo milhares, perdem a vida todos os anos durante as
suas viagens.                                                             Notas
                                                                          1 De acordo com a International Hydrographic Organization (IHO).
  Em 2009 e 2010, o fluxo predominante de migrantes proveio               2 Inclui, além destes países, o Gana, o Togo, o Benim, a Nigéria, os Camarões, a Gui-
da África Oriental, sobretudo do Egito, atendendo à relativa faci-        né Equatorial e S. Tomé e Príncipe.
lidade – fiscalização menos efetiva – em atravessar o Mediterrâ-          3 Inclui, para além destes países e os considerados pela IHO, a Gâmbia, a Guiné-
neo com destino à Grécia ou em seguir por terra para a Turquia.           -Bissau, a Serra Leoa, a Libéria, a República do Congo e a República Democrática
                                                                          do Congo.

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