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REVISTA DA ARMADA | 501
revolução, sem na realidade saberem em que cir-
cunstâncias o iriam fazer.
A dissimulação da operação consistia em fazer
crer a terceiros que as forças nacionais envolvi-
das eram meros mercenários, contratados pela
oposição guineense para fazer um golpe de Esta-
do. Na realidade, as forças nacionais iam atacar
objetivos específicos e de topo do PAIGC, usando
o golpe de Estado como diversão, podendo bene-
ficiar política e militarmente caso este resultasse.
A questão do objetivo principal desta operação
é ainda assunto em aberta discussão. O General
Spínola, que era o responsável máximo pela situ-
ação militar da Guiné, só concebia que o objetivo
principal fosse o golpe de estado. Todos os outros
objetivos teriam carácter secundário. Alpoím Cal-
vão sempre afirmou que a sua motivação inicial e
principal era libertar os prisioneiros portugueses,
principalmente o furriel piloto-aviador Lobato,
então cativo há sete anos, planeando-se depois
uma grande operação com diversos objetivos de
oportunidade e grande interesse nacional. Este
oficial testemunhou que, durante a conversa que
teve com Marcelo Caetano, então presidente do
Conselho de Ministros, imediatamente antes da
operação, lhe perguntou se caso apenas se con-
seguisse a libertação dos prisioneiros se já teria
valido a pena realizar a operação? o que lhe terá
sido anuído que sim. Esta divergência de opinião Projeção de força da ilha de Soga para Conacri.
quanto ao real objetivo primário da operação
“Mar Verde” levou alguns analistas a considerá-la um grande go dos Bijagós, pelo 2TEN FZE (fuzileiro especial) Rebordão de
sucesso, enquanto outros manifestaram uma opinião totalmen- Brito e pelo 2SAR Comando Marcelino da Mata, a que se junta-
te contrária. ram mais alguns instrutores especiais, nomeadamente o 2TEN
FZE Lopes de Abreu, o Cabo FZE Lopes Rossa, o Marinheiro FZE
FORÇAS E MEIOS Luís Tristão, o Marinheiro FZE Augusto da Silva, o Marinheiro
C (especializado em comunicações) Moita, o Alferes Ferreira e
Para a execução da operação foram utilizadas quatro lanchas o Furriel Teixeira. Foi desta ilha que foi lançada a operação em
de fiscalização grandes e duas lanchas de desembarque gran- novembro de 1970.
des. Todos estes meios navais transportavam botes de borracha
com motor, para desembarque do pessoal em terra. A AÇÃO TÁTICA
A força de combate foi constituída por 72 militares do Des-
tacamento de Fuzileiros Especiais nº 21 (Marinha Portuguesa), Atendendo à grande necessidade de obtenção de informa-
150 militares da 1ª Companhia de Comandos Africanos (Exérci- ções atualizadas sobre alguns dos espaços críticos de ação, foi
to Português), cerca de 150 a 200 elementos da Frente de Liber- realizada uma missão de reconhecimento do porto de Conacri,
tação Nacional Guineense (FLNG) (elementos de oposição ao em 17 de setembro de 1970. Esta missão contou com a partici-
regime da Guiné-Conacri), elementos guia da Direção-Geral de pação do próprio comandante da operação, tendo sido levada
Segurança (ex-PIDE), e alguns militares com valências especiais a cabo por uma lancha de fiscalização grande descaracterizada.
de combate, face à operação a realizar, das forças especiais dos No detalhe do plano de ação para o ataque anfíbio, foram ini-
três ramos das Forças Armadas (Fuzileiros, Comandos, Rangers cialmente identificados 52 potenciais alvos que, depois de prio-
e Paraquedistas). Os elementos revolucionários foram isolados rizados e enquadrados com a dimensão das forças atacantes,
e treinados durante sete meses na ilha de Soga, no arquipéla- foram reduzidos para 25 objetivos táticos principais.
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