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REVISTA DA ARMADA | 501
Plano geral do ataque a Conacri.
A força naval largou da ilha de Soga ao final do dia 20 de no- O domínio do espaço marítimo implicava destruir ou tornar
vembro (6ª feira), tendo sido apoiada, durante a navegação, por inoperativos os navios de guerra do PAIGC e da República da
uma aeronave de patrulha marítima Lockheed P2V-5 da Força Guiné, que se encontravam no porto de Conacri. Desta forma,
Aérea, que foi reportando o panorama marítimo, por forma os navios nacionais poderiam operar com relativa liberdade no
a garantir que os navios manobravam com antecipação e não espaço adjacente à cidade. O 2TEN FZE Rebordão de Brito lide-
eram avistados por embarcações ou navios indesejados. Nes- rou a equipa “V” de 14 militares que, transportados em 3 botes,
ta época, a União Soviética mantinha uma frota de navios de largaram da LFG Orion em direção ao molhe “La Prudence” onde
“pesca” espiões ao largo da costa africana pelo que, a bem do aguardaram a ordem de ataque. No molhe, o 2º Tenente FZE
segredo e surpresa da operação, era necessário evitar o contac- Rebordão de Brito observou, com binóculos, o cais bananeiro.
to com estes navios. Esta aeronave já tinha realizado, nos dias O perfeito alinhamento proa-popa de duas vedetas torpedeiras
anteriores, diversas missões de reconhecimento de potenciais deram-lhe a sensação de estar a ver uma fragata (soviética).
alvos do PAIGC a bombardear no território da Guiné indepen- Esta nova realidade tornava a sua missão suicida face à des-
dente, caso o golpe de Estado planeado fosse efetivamente vantagem numérica e à capacidade combatente das guarnições
concretizado. soviéticas. Ainda assim, não hesitou e à ordem do comandante
da operação incentivou a sua equipa a provocar o máximo de
Os navios chegaram a uma posição de dispersão da força na- danos possíveis no grande navio que se lhes opunha. Largados
val próximo de Conacri no dia 21 de novembro (sábado) já de- do molhe, foi com agrado que percebeu ter sofrido uma ilusão
pois do pôr-do-sol. de ótica. Em vez de uma fragata estavam oito navios mais pe-
quenos atracados ao cais. Em ação continuada, com recurso a
O plano de ataque tinha como principais linhas de ação, vi- armamento ligeiro, granadas e minas lapa, aniquilaram as sen-
sando a sustentação no tempo, a necessidade de garantir: o do- tinelas e afundaram ou destruíram 3 vedetas lança mísseis do
mínio dos espaços marítimo, terrestre e aéreo. Por outro lado, tipo Komar da Guiné-Conacri e 4 vedetas torpedeiras P-6 e uma
era necessário rentabilizar, ao máximo, o fator surpresa. Para lancha de desembarque do PAIGC. As vedetas torpedeiras do
isso, os navios foram preposicionados e as forças foram desem- tipo P-6 (designação NATO para os navios soviéticos do projeto
barcadas por forma a chegarem a terra ou aos seus objetivos 183 Bolshevik) tinham 25 metros de comprimento, 6.2 metros
praticamente em simultâneo. de boca, 67 toneladas de deslocamento e podiam atingir uma
velocidade de 44 nós. As vedetas do tipo Komar eram uma evo-
O DOMÍNIO DO MAR lução das P-6, em que os dois tubos lança torpedos tinham sido
substituídos por 2 lançadores de mísseis.
No plano da operação “Mar Verde” a força nacional foi divi-
dida em várias equipas, que foram nomeadas com uma letra do Bessa Pacheco
alfabeto, e distribuídas pelos meios navais utilizados de acordo CFR
com as ações táticas a realizar. A cada equipa foram atribuídos
objetivos específicos a conquistar.
16 NOVEMBRO 2015