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REVISTA DA ARMADA | 521

         INSTITUTO DE SOCORROS A NÁUFRAGOS


         HISTÓRIA DO SALVAMENTO


         MARÍTIMO EM PORTUGAL





            mbora anteriormente já tivessem havido diversas iniciativas para
         Edar resposta às necessidades de socorro àqueles que no mar nave-
         gam, um acontecimento, de má memória, em 27 de fevereiro de
         1892, fez concretizar aquilo que há muito se reconhecia como uma
         lacuna no nosso país, a criação de um serviço de salvamento marítimo
         que acolhesse a todos os que no mar necessitavam de socorro. Nesse                                      Foto Joshua Benoliel / Arq. Municipal de Lisboa
         dia, o mar escreveu uma das páginas mais negras da pesca em Portu-
         gal, quando um violentíssimo temporal assolou a costa norte do País,
         apanhando no mar, desprevenida, grande parte da frota de pesca,
         num total de 900 pescadores, tendo morrido afogados 105 deles.
           Perante tal tragédia, a Rainha D. Amélia não ficou insensível e man-
         dou criar o Real Instituto de Socorros a Náufragos, concretizado no
         dia 21 de abril. Foi seu primeiro presidente a Rainha D. Maria Amélia
         Luísa Helena d’Orleães e Bragança e o secretário-inspetor (cargo equi-  Rainha D. Amélia presidindo à sessão do Real Instituto de Socorros a Náufragos,
                                                               na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1910.
         valente, nos dias de hoje, ao cargo de Diretor) o comandante Hypácio
         Frederico de Brion, que dirigia operacionalmente o Instituto.
           Em 125 anos o ISN cresceu, adaptando-se em cada momento às   panhando a evolução do tempo e os hábitos das pessoas. É nessa
         necessidades do país e respondendo com a prontidão que lhe era   perspetiva que, a partir dos começos do século XX, a vigilância das
         exigida, cumprindo o objetivo contínuo de SALVAR MAIS E MELHOR.  praias e proteção dos banhistas passa a estar entre as suas principais
           No campo do salvamento marítimo, tem sido contínua a aquisição   preocupações.
         de novos meios, tendo hoje o ISN ao seu serviço cerca de 180 embar-  Em 1956, o ISN ministra o primeiro curso de nadadores-salvadores
         cações, botes e motas de água. Com vista a ir ao encontro das neces-  a 90 alunos. Porém, atendendo à crescente afluência de banhistas às
         sidades do país a nível do salvamento marítimo, está neste momento   praias e com vista a dar satisfação em termos de vigilância e salva-
         em curso a aquisição de dois novos salva-vidas da classe “Vigilante II”,   mento, a realização destes cursos não parou de aumentar, tendo em
         que serão construídos no Arsenal do Alfeite.         1992 atingido o número de 970 nadadores-salvadores nos primeiros
           Também o dispositivo de Estações Salva-vidas foi revisto em 2016.   nove meses, contra 680 em todo o ano anterior. Em 2000, o ISN for-
         Foram criadas novas Estações em zonas em que foi identificada essa   mou um total de 1453 nadadores-salvadores.
         necessidade, fundidas outras, reduzindo custos e ganhando eficácia   Sempre atentos e vigilantes para garantir a segurança dos banhistas,
         e eficiência e, finalmente, fechadas Estações Salva-vidas onde já não   arriscando não raras as vezes a sua própria vida para resgatar a vida
         se justificava a sua existência. Existe hoje, pois, um dispositivo mais   de outros seres humanos, os em tempo chamados de “banheiros”,
         moderno que responde às necessidades do país, e cuja implemen-  tornaram-se uma figura de referência para muitas gerações de por-
         tação já está em marcha, composto por 27 Estações Salva-vidas, das   tugueses que, além de beneficiarem da sua proteção, quantas vezes
         quais já existem 24 em funcionamento e outras 3 que serão criadas   deram no mar as primeiras braçadas sob a sua ajuda e orientação.
         para responder ao incremento da navegação de recreio e marítimo-  Durante a época balnear, estima-se que anualmente frequentem as
         -turística.                                          nossas praias 63 milhões de visitantes portugueses e ainda 12 milhões
           A presença do Instituto de Socorros a Náufragos junto das comu-  de turistas, o que totaliza 75 milhões de visitas. Para estes números
         nidades piscatórias constituiu desde sempre uma preocupação das   impressionantes, o ISN desenvolveu uma estratégia assente em par-
         autoridades locais e do próprio ISN. Não obstante, com o decorrer   cerias institucionais com a Vodafone, a SIVA, o Lidl e a Nestlé.
         do tempo, o ISN foi tornando a sua missão mais abrangente, acom-  Estas parcerias têm-se revelado fundamentais para o sucesso da assis-
                                                              tência balnear em Portugal, medido pelo número de mortes nas nossas
         Foto de Alberto Carlos Lima / Arq. Municipal de Lisboa  comparados com o número 75 milhões de visitas, colocam Portugal na
                                                              praias que, infelizmente, ainda vão acontecendo, designadamente, uma
                                                              média anual, nos últimos 10 anos, de 3 mortes em praias vigiadas e 9
                                                              mortes em praias não vigiadas. Estes números de mortalidade, quando

                                                              vanguarda da assistência balnear em termos mundiais.
                                                               A missão do Instituto de Socorros a Náufragos é porventura uma das
                                                              mais nobres que existem em Portugal e em relação à qual os portugue-
                                                              ses, em geral, registam a maior gratidão. Para o cumprimento da sua
                                                              missão o ISN conta, para além do pessoal militar e civil da sede, com

                                                              hercúleo. Quando todos saem do mar para o porto de abrigo, são estes
                                                              tripulantes que saem para o mar para salvar vidas humanas.
                                                                                                              
           “Banheiros” em 1910.                               os tripulantes das Estações Salva-vidas que desenvolvem um trabalho
                                                                        Colaboração do INSTITUTO DE SOCORROS A NÁUFRAGOS

          16  AGOSTO 2017
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