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REVISTA DA ARMADA | 528



          OS V                                                                                           OR
                                          IKIN≈S EM P


          A PROPÓSITO DE UMA EXPOSIÇÃO NO MUSEU DE MARINHA



                                                              (eventualmente recorrendo a versões mais ligeiras, trazidas a rebo-
          OS VIKINGS
                                                              que de navios maiores durante a viagem por mar). A proa e a popa
            indos da península da Escandinávia e de alguns pontos da actual   (muito levantadas) praƟ camente simétricas permiƟ am-lhes inverter
         VDinamarca, onde se organizavam em povoações independen-  o rumo, sem necessidade de guinar, em zonas confi nadas (o leme,
          tes umas das outras, embora parƟ lhando a língua e a religião, os   consƟ tuído por uma espécie de remo era facilmente amovível). Os
          vikings (ou normandos, i.e. “homens do Norte”) começaram a asso-  navios de guerra, muito afi lados e com proa em forma de cabeça de
          lar as costas do Norte da Europa a parƟ r do século VIII. Os longos e   dragão, eram designados por drakkars, enquanto os de comércio,
          frios invernos, o solo pobre e alguns problemas de sobrepopulação   mais bojudos, Ɵ nham o nome de Knorr (o que não impedia o duplo
          tê-los-ão levado a ganhar a vida no saque de aldeias e mosteiros   uso de alguns deles, já que, naqueles tempos, a guerra e o comércio
          nas prósperas terras mais a Sul. Inicialmente conduzidas por chefes   não eram forçosamente incompaơ veis). Conhecemo-los das repre-
          tribais, estas incursões, mercê das riquezas e do presơ gio obƟ dos   sentações em pinturas e baixos-relevos medievais (cujo rigor é habi-
          pelos seus parƟ cipantes, foram, pouco a pouco, passando para a   tualmente muito reduzido), mas, sobretudo, dos seus monumentos
          tutela de príncipes ou mesmo de reis.               funerários, pois Ɵ nham o hábito de sepultar os chefes, com as res-
           A origem do termo viking é algo controversa, uma vez que tem   pecƟ vas armas, dentro dos “seus navios” (uƟ lizamos as aspas pelo
          semelhança com várias palavras da anƟ ga língua nórdica. Supõe-se   facto de muitos dos navios – profusamente decorados – deixados
          que, em geral, fosse uƟ lizado para designar uma expedição guer-  nas sepulturas serem meramente cerimoniais).
          reira, podendo consƟ tuir, na boca dos atacantes, uma exclamação   O panteão nórdico era composto de deuses ferozes, encabeçados
          de incitamento ao saque.                            por Odin, deus da Guerra, e pelo seu fi lho Thor, deus do Trovão. Aos
                                                              bravos tombados em combate era promeƟ da uma eternidade de
                                                              gloriosas batalhas no paraíso míƟ co do Valahala. No entanto, ape-
                                                              sar do seu carácter implacável, os vikings eram extremamente hos-
                                                              pitaleiros em relação aos forasteiros (não obstante alguns hábitos
                                                              sociais pouco higiénicos que decerto terão chocado os visitantes).
                                                              CrisƟ anizados a parƟ r do século X, viram as suas terras, por essa
                                                              altura, submeƟ das à autoridade reforçada e centralizadora dos reis
                                                              da Noruega, da Suécia e da Dinamarca, que encontraram no crisƟ a-
                                                              nismo um importante factor de legiƟ mação do poder real.

                                                              OS VIKINGS NA PENÍNSULA IBÉRICA
           Ataque dos Vikings (pergaminho de 919). Notar que não usam os capacetes
           corneados que a tradição românƟ ca lhes atribui.    Terá sido em 844 que os vikings chegaram, pela primeira vez, às cos-
                                                              tas ibéricas, então dominadas pelos sarracenos (por eles conhecidos
                                                              como “homens negros”). Nesta expedição, registaram-se ataques a
           Mas a pilhagem não foi a sua única acƟ vidade. Migrações de comu-  SanƟ ago de Compostela, a Lisboa e a Sevilha, onde os assaltantes,
          nidades inteiras, buscando uma vida melhor em terras mais férteis   entregues à pilhagem, foram surpreendidos por reforços enviados
          e de clima mais ameno, mostraram a sua faceta de exploradores e   de Córdova por Abderraman II. Num primeiro combate, os vikings
          colonizadores. Foi este espírito aventureiro que os levou, entre os   perderam cerca de 500 homens e quatro navios. Perseguidos pelos
          séculos IX e X, a contornar a Europa pelo Sul e a entrar pelo estreito   vencedores viriam a perder mais 30 navios, além de terem sofrido
          de Gibraltar, ao mesmo tempo que subiam os maiores rios euro-  elevado número de prisioneiros (posteriormente executados).
          peus, ligando pelo interior do conƟ nente o BálƟ co ao Mar Negro,   A segunda expedição, ocorrida entre os anos 859 e 862, viu novos
          de onde saíram para o Mediterrâneo e chegaram à corte bizanƟ na,   raides às costas da Galiza, de Portugal (ainda não existente como
          fechando, assim, uma verdadeira circum-navegação da Europa. Do
          mesmo modo, aventuraram-se pelo AtlânƟ co uƟ lizando instrumen-               Viagens dos Vikings (793-1000 aC)
          tos de navegação rudimentares, tendo chegado à Islândia e, daí, à
          Gronelândia e à Terra Nova (Canadá), sendo, hoje em dia, reconhe-
          cidos como os primeiros europeus a chegar à América.
           Colonizaram a Rússia e chegaram a dominar boa parte da Grã-Bre-
          tanha. Também se estabeleceram no Norte de França, onde, por
          cedência do rei francês, fundaram o ducado da Normandia. Desta
          úlƟ ma colónia parƟ ram à conquista da Inglaterra (1066) e da Sicília/
          Nápoles (1139), de cujas coroas tomaram posse, dando ali início a
          dinasƟ as normandas.
           Os seus robustos e ágeis navios de fundo achatado, impulsionados
          à vela e a remos, podiam explorar as costas mais recortadas, chegar
          a zonas de fundos baixos e varar nas praias, podendo também subir
          os rios e até serem carregados por terra nos troços não navegáveis


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