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OS V OR
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A PROPÓSITO DE UMA EXPOSIÇÃO NO MUSEU DE MARINHA
(eventualmente recorrendo a versões mais ligeiras, trazidas a rebo-
OS VIKINGS
que de navios maiores durante a viagem por mar). A proa e a popa
indos da península da Escandinávia e de alguns pontos da actual (muito levantadas) praƟ camente simétricas permiƟ am-lhes inverter
VDinamarca, onde se organizavam em povoações independen- o rumo, sem necessidade de guinar, em zonas confi nadas (o leme,
tes umas das outras, embora parƟ lhando a língua e a religião, os consƟ tuído por uma espécie de remo era facilmente amovível). Os
vikings (ou normandos, i.e. “homens do Norte”) começaram a asso- navios de guerra, muito afi lados e com proa em forma de cabeça de
lar as costas do Norte da Europa a parƟ r do século VIII. Os longos e dragão, eram designados por drakkars, enquanto os de comércio,
frios invernos, o solo pobre e alguns problemas de sobrepopulação mais bojudos, Ɵ nham o nome de Knorr (o que não impedia o duplo
tê-los-ão levado a ganhar a vida no saque de aldeias e mosteiros uso de alguns deles, já que, naqueles tempos, a guerra e o comércio
nas prósperas terras mais a Sul. Inicialmente conduzidas por chefes não eram forçosamente incompaơ veis). Conhecemo-los das repre-
tribais, estas incursões, mercê das riquezas e do presơ gio obƟ dos sentações em pinturas e baixos-relevos medievais (cujo rigor é habi-
pelos seus parƟ cipantes, foram, pouco a pouco, passando para a tualmente muito reduzido), mas, sobretudo, dos seus monumentos
tutela de príncipes ou mesmo de reis. funerários, pois Ɵ nham o hábito de sepultar os chefes, com as res-
A origem do termo viking é algo controversa, uma vez que tem pecƟ vas armas, dentro dos “seus navios” (uƟ lizamos as aspas pelo
semelhança com várias palavras da anƟ ga língua nórdica. Supõe-se facto de muitos dos navios – profusamente decorados – deixados
que, em geral, fosse uƟ lizado para designar uma expedição guer- nas sepulturas serem meramente cerimoniais).
reira, podendo consƟ tuir, na boca dos atacantes, uma exclamação O panteão nórdico era composto de deuses ferozes, encabeçados
de incitamento ao saque. por Odin, deus da Guerra, e pelo seu fi lho Thor, deus do Trovão. Aos
bravos tombados em combate era promeƟ da uma eternidade de
gloriosas batalhas no paraíso míƟ co do Valahala. No entanto, ape-
sar do seu carácter implacável, os vikings eram extremamente hos-
pitaleiros em relação aos forasteiros (não obstante alguns hábitos
sociais pouco higiénicos que decerto terão chocado os visitantes).
CrisƟ anizados a parƟ r do século X, viram as suas terras, por essa
altura, submeƟ das à autoridade reforçada e centralizadora dos reis
da Noruega, da Suécia e da Dinamarca, que encontraram no crisƟ a-
nismo um importante factor de legiƟ mação do poder real.
OS VIKINGS NA PENÍNSULA IBÉRICA
Ataque dos Vikings (pergaminho de 919). Notar que não usam os capacetes
corneados que a tradição românƟ ca lhes atribui. Terá sido em 844 que os vikings chegaram, pela primeira vez, às cos-
tas ibéricas, então dominadas pelos sarracenos (por eles conhecidos
como “homens negros”). Nesta expedição, registaram-se ataques a
Mas a pilhagem não foi a sua única acƟ vidade. Migrações de comu- SanƟ ago de Compostela, a Lisboa e a Sevilha, onde os assaltantes,
nidades inteiras, buscando uma vida melhor em terras mais férteis entregues à pilhagem, foram surpreendidos por reforços enviados
e de clima mais ameno, mostraram a sua faceta de exploradores e de Córdova por Abderraman II. Num primeiro combate, os vikings
colonizadores. Foi este espírito aventureiro que os levou, entre os perderam cerca de 500 homens e quatro navios. Perseguidos pelos
séculos IX e X, a contornar a Europa pelo Sul e a entrar pelo estreito vencedores viriam a perder mais 30 navios, além de terem sofrido
de Gibraltar, ao mesmo tempo que subiam os maiores rios euro- elevado número de prisioneiros (posteriormente executados).
peus, ligando pelo interior do conƟ nente o BálƟ co ao Mar Negro, A segunda expedição, ocorrida entre os anos 859 e 862, viu novos
de onde saíram para o Mediterrâneo e chegaram à corte bizanƟ na, raides às costas da Galiza, de Portugal (ainda não existente como
fechando, assim, uma verdadeira circum-navegação da Europa. Do
mesmo modo, aventuraram-se pelo AtlânƟ co uƟ lizando instrumen- Viagens dos Vikings (793-1000 aC)
tos de navegação rudimentares, tendo chegado à Islândia e, daí, à
Gronelândia e à Terra Nova (Canadá), sendo, hoje em dia, reconhe-
cidos como os primeiros europeus a chegar à América.
Colonizaram a Rússia e chegaram a dominar boa parte da Grã-Bre-
tanha. Também se estabeleceram no Norte de França, onde, por
cedência do rei francês, fundaram o ducado da Normandia. Desta
úlƟ ma colónia parƟ ram à conquista da Inglaterra (1066) e da Sicília/
Nápoles (1139), de cujas coroas tomaram posse, dando ali início a
dinasƟ as normandas.
Os seus robustos e ágeis navios de fundo achatado, impulsionados
à vela e a remos, podiam explorar as costas mais recortadas, chegar
a zonas de fundos baixos e varar nas praias, podendo também subir
os rios e até serem carregados por terra nos troços não navegáveis
18 ABRIL 2018