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REVISTA DA ARMADA | 543

















         Etapas da tomada de decisão.

         na situação e que se promova a escuta aƟ va.  IncenƟ va-se  a   ber orientação de outros para decidir, depende das suas sugestões
         parƟ cipação e os contributos de todos são bem-vindos. É por   e opiniões, apresenta um esƟ lo de decisão dependente. Podemos
         isso que aspetos como saltar passos do processo de decisão,   ainda ter indivíduos que fogem da decisão, tendo esƟ los de deci-
         não comunicar com quem nos rodeia, ser complacente com os   são evitaƟ vos.
         camaradas ou não estar disposto a desafi ar outros elementos   O ambiente vivido num navio é altamente dinâmico e estes
         da equipa podem ter efeitos negaƟ vos sobre a decisão. Há que   esƟ los de tomada de decisão podem todos surgir. Por exemplo, a
         treiná-la através dos instrumentos disponíveis, normalmente   aprendizagem e experiência do comandante, interligando o pre-
         jogos táƟ cos de decisão (que podem ser feitos em simulador).   sente com situações passadas e relembrando como decidiu então,
         Neste processo de aprendizagem, não nos podemos esquecer   leva-o a um esƟ lo intuiƟ vo de decisão. Já se pensarmos nos técni-
         do que se pode aprender e treinar com a parƟ lha de experiên-  cos de manutenção de um destacamento de helicópteros, todos
         cias e de lições aprendidas, num momento de story-telling entre   os passos de verifi cação da aeronave baseiam-se em normaƟ vo
         camaradas. Esta narraƟ va de eventos passados permite trans-  específi co e inequívoco e na verifi cação de checklists. A decisão
         miƟ r regras e criar ligações interpessoais fundamentais para   sobre a aeronave voar ou não é racional e bem fundamentada.
         a tomada de decisão. Afi nal, e se pensarmos bem... Ninguém   Mas se o navio for colocado numa situação extrema de ameaça,
         decide verdadeiramente sozinho!                      com condições de elevada pressão, podem surgir esƟ los de deci-
                                                              são espontâneos nas ações do centro de operações de uma fra-
         UM RUMO A ESCOLHER, DIFERENTES                       gata, por exemplo.
         FORMAS DE DECIDIR                                     Em suma, estar-se num navio é estar num ambiente de elevado
                                                              dinamismo, implicando que a solução que pode parecer correta
           Olhando para as pessoas à nossa volta, se lhes apresentarmos   ao chefe da equipa pode não ser sempre a única, possível ou evi-
         um problema e fi zermos um brainstorming para encontrar a solu-  dente a todos os outros elementos. Como disse o General Douglas
         ção, iremos obter diferentes respostas. Mais, se lhes perguntarmos   MacArthur, “Nunca dê uma ordem que não pode ser obedecida”.
         como chegaram a essa solução, todas irão apresentar formas dife-  Decidir não pode ser a qualquer custo! Ao mesmo tempo, a deci-
         rentes. Algumas pessoas vão dizer que a solução foi a primeira de   são deve ser comunicada de forma clara para ser compreendida
         que se lembraram e que a parƟ lharam sem pensar muito. Outras   por quem executa. O General Colin Powell disse que os “grandes
         vão dizer-nos que pensaram em todos os regulamentos relaciona-  líderes são quase sempre grandes simplifi cadores, que podem
         dos com o problema e que foi assim que decidiram. Outras dirão   resolver por meio de argumento, debate e dúvidas para oferecer
         que decidiram dessa forma porque já Ɵ nham passado por pro-  uma solução que todos podem entender”. Decidir sem comunica-
         blemas parecidos no passado. E outras ainda que decidiram por   ção nem liderança tem resultados negaƟ vos e, por isso, o Bridge
         causa do seu sexto senƟ do… Cada pessoa tem uma forma própria   Resource Management e a pirâmide de competências não técni-
         de decidir. Mais, ela pode ainda decidir de forma disƟ nta conforme   cas apresentada no arƟ go sobre a consciência situacional têm na
         a situação que enfrenta. Estas diferentes formas de decidir desig-  comunicação e na liderança os dois patamares superiores de todo
         nam-se por esƟ los de tomada de decisão e refl etem como cada   o processo do funcionamento da equipa. São competências trans-
         indivíduo processa a informação recebida da realidade à sua volta   versais a todos os elementos, que necessitam de ser desenvolvi-
         e que conduz à decisão sobre ela.                    das ao nível individual e da equipa, para a obtenção dos melhores
           Se podemos aprender esƟ los de decidir? Sim, podemos! Con-  resultados a nível do desempenho, tanto em condição de treino
         forme referido anteriormente, a tomada de decisão pode trei-  como em situação real.
         nar-se com jogos táƟ cos de decisão em simulador ou com treino
         baseado em eventos, como acontece com as unidades navais. E o                      Sandra Campaniço Cavaleiro
         que se treina, juntamente com as caracterísƟ cas individuais, ori-                           1TEN TSN-QUI
         gina cinco esƟ los de tomada de decisão possíveis: racional, intui-
         Ɵ vo, dependente, evitaƟ vo e espontâneo. E o que implica cada um
         deles? Um indivíduo racional na sua decisão procura uma sequên-  No próximo arƟ go…
         cia lógica para os factos, despende tempo nesse processo e avalia
         todas as opções de resposta detalhadamente. Já um indivíduo que   Nenhuma equipa pode funcionar sem fl uxo de informação
         decide intuiƟ vamente baseia-se nos seus senƟ mentos, emoções e   entre os seus elementos. Compreender a importância da qua-
         pressenƟ mentos para decidir. Quando se decide de forma rápida   lidade, quanƟ dade e forma de transmiƟ r informação é uma
         e imediata sobre um problema, sem uma refl exão  prolongada,   das competências mais importantes, a nível individual e da
         temos um indivíduo que decide de forma espontânea. No entanto,   equipa. Sem comunicação, nenhuma equipa pode funcionar e
         nem todas as pessoas podem conseguir ter a autonomia necessá-  aƟ ngir os seus objecƟ vos. Este será o tema do próximo arƟ go.
         ria para decidir. Por exemplo, se um indivíduo espera sempre rece-


                                                                                                   AGOSTO 2019  15
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