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REVISTA DA ARMADA | 543


          GUERRA NAVAL: ÁGUA, FOGO E LOGOS


          2ª Parte




          O FOGO QUE ANIQUILA
            em sermos exausƟ vos, passemos em
         Srevista algumas batalhas em que nos
          parece ser possível intuir o poder da ima-
          gem do fogo naval. Em 1805, uma esquadra
          inglesa, sob o comando do almirante Hora-
          Ɵ o Nelson, obteve uma vitória arrasadora
          sobre a esquadra franco-espanhola sob o
          comando do almirante Pierre Villeneuve, ao
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          largo do Cabo Trafalgar . O registo de Pierre
          Serveaux, ofi cial do navio francês Fougueux,
          atesta a violência do combate:
           “Passado pouco tempo apareceram dois
          vasos de guerra ingleses e começaram a
          atacar-nos; um pela alheta de esƟ bordo, o
          outro pela popa. Debaixo do fogo, aguen-
          támo-nos durante mais de uma hora, mas
          eles quase nos esmagaram com a sua ter-
          rível enxurrada de Ɵ ros de canhão e uma
          saraivada de balas que semearam a morte
          entre os nossos homens. O nosso mastro   sucedida do Império do Japão na escalada   desenrolava e as espoletas de ação retar-
          da mezena foi aƟ ngido e caiu pela borda   para ocupar um lugar como potência naval   dada permiƟ am que as munições russas
          fora, enquanto as nossas vergônteas foram   de primeira grandeza . Nesta batalha pode-  penetrassem profundamente nos navios
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          derrubadas dos mastros e se espalharam   mos observar algumas inovações: os navios   japoneses antes de explodir, causando
          em destroços pelos bordos do navio. Em   são de aço e têm propulsão autónoma; as   danos terríveis. Mas, as munições de alto
          seguida começou também a arder o tom-  comunicações uƟ lizam o espectro eletro-  explosivo dos japoneses, embora talvez não
          badilho. Fizemos o melhor que podíamos,   magnéƟ co; a arƟ lharia consegue ter um   tão mortais, eram mais desmoralizantes
          apesar da saraivada de Ɵ ros, para apagar o   alcance efeƟ vo substancialmente maior e   porque ao explodirem com o impacto, des-
          fogo e usámos machados para cortar o aglo-  mais preciso.            pedaçavam as superestruturas, provocando
          merado de destroços dos mastros, vergas   O navio capital passava agora a ser o cou-  enormes incêndios devido à  Ɵ nta que se
          e cordames que  Ɵ nham caído. Encontra-  raçado, com as suas peças de grande cali-  infl amava facilmente, o que obrigava os arƟ -
          vam-se ao longo dos bordos do navio junto   bre. No entanto, no respeitante à táƟ ca, não   lheiros russos a abandonar os seus postos.
          às fi adas de canhões e estavam a pôr em   existe grande inovação: embora o alcance   Enquanto deambulavam cegos e sufocados
          perigo o navio e a expô-lo ao risco da des-  arƟ lheiro tenha aumentado signifi caƟ va-  dezenas de marinheiros eram dizimados
          truição mais eminente pelo fogo.” 2  mente, mantém-se a tradicional coluna em   por esƟ lhaços mortais” .
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           Cem anos exatos depois de Trafalgar, a   rumo paralelo.               Trinta e sete anos após Tsushima, dá-se no
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          batalha de Tsushima foi o confl ito decisivo   A propósito desta batalha diz-nos Lisle   Oceano Pacífi co  uma das mais importantes
          que pôs termo à guerra Russo-Japonesa .   Rose:                      batalhas navais da Segunda Guerra Mundial,
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          A vitória da esquadra comandada pelo   “O desempenho da arƟ lharia russa melho-  a avaliar pelas consequências táƟ cas e estra-
          almirante Togo foi mais uma etapa bem   rou sensivelmente enquanto a batalha se   tégicas que daí advieram. Esta batalha, que
                                                                               fi cou conhecida como “Batalha de Midway” ,
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                                                                               pequeno atol de Midway entre 4 e 7 de junho
                                                                               de 1942, consƟ tuiria a primeira vitória táƟ ca
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                                                                               de charneira na viragem da guerra a favor
                                                                               dos Aliados na guerra do Pacífi co.  Gordon
                                                                               Prange descreve o ataque ao porta-aviões
                                                                               Kaga da seguinte forma:
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                                                                               erraram o alvo. Então Gallaher, em voo
                                                                               picado, a 2.500 pés deixou cair a sua bomba
                                                                               na popa a esƟ bordo, no meio dos aviões
                                                                               que se preparavam para descolar. Instan-
                                                                               taneamente o convés de voo tornou-se um
                                                                               holocausto. Quando os aviões se incendia-


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