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REVISTA DA ARMADA | 548

              O PODER NAVAL JAPONÊS


              ASCENSÃO E QUEDA



              DA CONCEÇÃO TEÓRICA À
              CONCRETIZAÇÃO PRÁTICA
                 e entre os poderes navais em ascensão
              Dno início do século XX, o Japonês cons-
              Ɵ tuiu um caso singular uma vez que evo-
              luiu diretamente de uma Marinha de galés
              para uma Marinha de navios com propul-
              são mecânica, sem passar pela chamada
              “Era da Vela”. Enquanto que no  fi nal  do
              século XVI a esquadra de Hideyoshi era for-
              mada essencialmente por galés, as esqua-
              dras de Ito na Batalha de Yalu, em 1894,
              e a de Togo, na Batalha de Tsushima, em
              1905, eram compostas por navios a vapor
              de avançada tecnologia para a época. Entre
              esses dois períodos, os japoneses praƟ ca-
              ram uma políƟ ca de isolamento, não se
              preocupando com a criação de uma Mari-
              nha nacional. De facto, foi o ressurgimento
              do imperialismo ocidental que levou o
              Japão a reconsiderar a forma de olhar o                                                              DR
              mar e a repensar a políƟ ca de defesa da   Guerra Russo - Japonesa (1904-1905). Ilustração da destruição de um navio russo ao largo de Port Arthur.
              sua fronteira maríƟ ma.
               Foi com notável astúcia e engenho que os   nha Imperial Japonesa (MIJ) e consƟ tuiu o   veu bases e estaleiros navais e aumentou
              novos líderes navais do Japão não só assi-  grande impulso para a expansão do poder   os seus efeƟ vos de dezoito mil para trinta e
              milaram as lições de três séculos de guerra   naval japonês que seria testado no confl ito   sete mil militares.
              maríƟ ma no Ocidente, como também   com a Rússia czarista, uma das grandes   A guerra russo-japonesa decorreu entre
              superaram muitos pensadores ocidentais   potências europeias.         1904 e 1905, na sequência da recusa da
              no desenvolvimento de armamento e con-                                Rússia em reƟ rar as suas forças militares
              ceitos estratégicos e táƟ cos,  mostrando-  A CAMINHO DO APOGEU       da Manchúria; iria culminar com a batalha
              -se peritos na uƟ lização da concentração   O grande desenvolvimento da MIJ deu-  decisiva de Tsushima, na qual a esquadra
              de meios, por forma a atacar frações da   -se após a primeira guerra sino-japonesa   japonesa, numericamente inferior mas mais
              esquadra inimiga. Por exemplo, na guerra   (1894-1895), na qual se disputou o con-  bem treinada, levou a melhor sobre a esqua-
              sino-japonesa, os japoneses aplicaram   trolo da Coreia. No fi nal da guerra, com a   dra russa. Com o tratado de Ports mouth,
              o máximo poder disponível para atacar   assinatura do Tratado de Shimonoseki, a   mediado pelo Presidente Theodore Roose-
              uma das esquadras regionais chinesas,   China viu-se obrigada a pagar uma pesada   velt, assinado em setembro de 1905, a Rús-
              derrotando-a antes que outras esquadras   indemnização ao Japão, que a iria uƟ lizar,   sia reconheceu os direitos do Japão sobre a
              viessem em seu auxílio. Na guerra russo-  em grande parte, para a expansão da Mari-  Coreia e sobre a península de Liaotung, bem
              -japonesa neutralizaram, sucessivamente,   nha. Entre 1896 e 1903 comprou navios de   como sobre os recursos minerais na Man-
              os três segmentos da esquadra russa do   guerra à Grã-Bretanha, criou e desenvol-  chúria e na metade sul da ilha de Sacalina.
              Extremo Oriente – em Port Arthur, em
              Inchon e em Vladivostok. Em seguida, uƟ li-  Couraçado “Hatsuse”, um dos dez navios da classe Shikishima construídos no Reino Unido. Entrou ao
              zando a mesma estratégia de concentração   serviço em janeiro de 1901. ParƟ cipou nos combates contra Port Arthur, tendo sido afundado por duas
              e manobra, derrotaram a esquadra russa   minas em maio de 1904.
              do BálƟ co no estreito de Tsushima.
               De facto, os japoneses perceberam desde
              logo a vantagem táƟ ca da formação em
              coluna o que, aliado à velocidade e mano-
              bra, permiƟ a um amplo ângulo de Ɵ ro para
              a arƟ lharia. À semelhança do princípio
              triunfante demonstrado por Nelson em
              Trafalgar, a operação em divisões indepen-
              dentes dava grande fl exibilidade e permiƟ a
              que parte da esquadra atuasse, mais rapi-
              damente, onde era mais necessária.
               A vitória sobre a China mostrou o acerto
              do programa de modernização da Mari-                                                                 DR


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