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REVISTA DA ARMADA | 550
In Primeiro roteiro da costa da India desde Goa ate Dio: narrando a viagem que fez o Vice-Rei D. Garcia de Noronha em socorro d’esta ulƟ ma cidade 1538-1539.
Perguntas e Respostas a Modo de Diálogo”, e ainda um outro pe- quinta em Sintra, herdada por morte de seu pai, em SET1528, e a o
queno tratado, sob o ơ tulo “Da Geografi a por Modo de Diálogo”. fi m de dois anos volta à Índia, agora com 45 anos de idade, onde
Durante os dois anos seguintes, D. João de Castro viria a perma- assume a governação da Índia, sob nomeação de D. João III, em
necer em Portugal, ocupando-se sobretudo da sua quinta locali- subsƟ tuição de MarƟ m Afonso. Acompanharam-no dois dos seus
zada em Sintra, então designada de Fonte d’ El-Rei e posterior- fi lhos, D. Álvaro e D. Fernando, e mal acabado de chegar deixa
mente conhecida por Quinta da Penha Verde, onde conƟ nuaria testamento escrito, a comprovar a sua constante aƟ tude de des-
os seus estudos e receberia alguns amigos mais próximos, como prendimento relaƟ vamente aos bens materiais, revelado nas mais
o Infante D. Luís, o Vedor da Fazenda, D. António de Ataíde, o diversas acções e comportamentos ao longo da sua vida.
Conde da Castanheira e o negociante italiano Lucas Giraldi. Verifi ca localmente a situação parƟ cularmente diİ cil do ter-
Em 1524 desposaria a sua prima Dona Leonor CouƟ nho, fi lha ritório, de que já desconfi ava, prevalecendo, agora, a faceta de
de Leonel CouƟ nho, fi dalgo da Casa de Marialva e morto em guerreiro em detrimento do Ɵ tular políƟ co, e desdobra-se em
combate, em Calecute, no ano de 1510. operações e iniciaƟ vas tendentes a evitar perdas para o Impé-
rio. Uma, pessoal, não pôde, todavia, contrariar, a da morte em
D. JOÃO DE CASTRO NO EPI combate do fi lho mais novo, D. Fernando, então com apenas 19
anos, em AGO1546, aquando do segundo cerco de Diu.
A notabilidade de D. João de Castro vai para além dos seus estu- D. João de Castro empenhou-se na reconstrução da fortaleza
dos e obras, disƟ nguindo-se também pela sua acção no Oriente. desta reconquistada praça, angariando apoios com os seus do-
Parte, pela primeira vez, para a Índia, em 1538, integrado na tes de hábil negociador, diplomata e políƟ co. Ficou então célebre
Armada do seu cunhado, o Vice-Rei D. Garcia de Noronha, ao o penhor das suas barbas, em prol da reabilitação da fortaleza
comando da Grifo, uma das onze naus que a compunham. de Diu, sensibilizando Goa, que lhe acudiu com o emprésƟ mo
Aproveitaria a viagem para escrever o primeiro de quatro interes- dispensando o penhor e, assim, o recompensou pela sua reco-
santes roteiros, apenas três chegados aos nossos dias. Uma obra nhecida humildade, nobreza, lealdade e humanismo ao serviço
inicial, o Roteiro de Lisboa a Goa, seguida do Roteiro de Goa a Diu da sua defesa, como expresso na recepção que lhe dedicaram no
ou Roteiro da Costa da Índia, com dedicatória ao Infante D. Luís. O regresso triunfal à capital do Estado, em ABR1547.
terceiro trabalho, sob o ơ tulo de Roteiro da Viagem que fi zeram os Prosseguiremos no próximo número da Revista, com o regres-
Portugueses ao Mar Roxo, que consƟ tui um exemplo de observação so de D. João de Castro a Goa e o seu papel enquanto adminis-
cienơ fi ca de inegável valor para a época, está datado de 1541, ano trador da “coisa pública”.
em que D. João de Castro acompanhou o Governador D. Estêvão da
Gama numa expedição de Goa ao Suez, no Mar Vermelho, onde tra- Antó nio Rebelo Duarte
tou de explicar o fenómeno da cor roxa das águas. VALM REF
Regressado a Portugal em 1543, refugiou-se na sua predilecta N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co
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