Page 18 - Revista da Armada
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In Roteiro em que se contem a viagem que fi zeram os portugueses no anno de 1541 parƟ ndo da nobre cidade de Goa atee Soez, que he no fi m e stremidade do Mar Roxo...
É hoje consensual que o país foi favorecido, nesta epopeia, pe- Foi esse seu perfi l de ilustre português, e o valor, lealdade e
los condicionalismos internos e exteriores, nomeadamente no mérito dos serviços que prestou à Pátria, que o fez entrar na sim-
Índico e sul da Ásia, com os chineses em perda, depois de muitos bologia do InsƟ tuto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE) ao ser
séculos de primazia naval e mercanƟ l, constantes conturbações adoptado como Patrono, encontrando-se o seu túmulo na Capela
internas e entre potentados e com os quais foi possível negociar (Corpus ChrisƟ ou dos Castros) anexa aos Claustros do InsƟ tuto
alianças. Tudo isto e o grande mérito dos experimentados nave- e insƟ tuída, em 1648, por vontade de seu avô, D. Francisco de
gadores, militares, emissários e guerreiros portugueses, chega- Castro, Bispo Inquisidor Geral.
dos ao Índico a parƟ r de 1498, com Vasco da Gama, fez o resto, É forçoso recordar um pouco a vida e obra de D. João de Cas-
que foi muiơ ssimo. tro, disƟ nguindo o essencial da sua herança cultural e legado
políƟ co-estratégico.
Nascido em Lisboa (27FEV1500), no seio de família da mais
D. JOÃO DE CASTRO, FIGURA CIMEIRA elevada aristocracia nacional do século XVI, encontramo-lo,
DA NOSSA HISTÓRIA
muito novo, a servir como moço fi dalgo de D. Manuel. Educa-
Falamos de uma fi gura absolutamen- do na Corte, onde se respirava o ambiente das Descobertas na
te notável sob diversos pontos de vista, África, no Oriente e no Brasil, aproveitou esse período para de-
que conseguiu, num momento muito es- senvolver a sua formação nas Letras e Ciências.
pecífi co da expansão portuguesa, com o À revelia da vontade paterna, parte, em 1518, para Tânger,
triunfo da tomada de Goa, exponenciar onde se disƟ ngue como guerreiro e é armado cavaleiro. Então
a visualidade simbólica do representan- com 18 anos, vêmo-lo a iniciar-se nos combates, ali permane-
te do monarca português no Império e, cendo, durante alguns anos, sob as ordens do Capitão da For-
por essa via, realizar uma maior insƟ tu- taleza, D. Duarte de Meneses. De volta ao Reino, foi, pelos seus
cionalização e consolidação do próprio présƟ mos, recompensado por D. João III com uma Comenda –
cargo de Vice-Rei, que desempenhou de S. Paulo de Salvaterra da Ordem de Cristo – de pequeno ren-
desde 1545 até à sua enfermidade e morte em 1548, quando já dimento, além de uma tença anual de 30$000 reais, em 1532,
recebera carta régia a nomeá-lo para um segundo mandato. única mercê que aceitou da Coroa, bem revelador da probidade
Somos absolutamente justos quando elegemos D. João de Cas- de alguém que não afi nava pelo diapasão geral da vida cortesã.
tro como um vulto do seu tempo e o caracterizamos como uma O seu gosto pela carreira das armas não apagou o fascínio pe-
personagem de imenso presơ gio social e políƟ co, inscrevendo no los estudos empíricos, num desdobramento de interesses que
seu curriculum diversas acƟ vidades e funções, nomeadamente nos o havia de acompanhar ao longo da vida.
domínios militar, cienơ fi co, da diplomacia e políƟ ca. Assim aconte- Em relação à sua produção cienơ fi ca, datam de 1536 as pri-
ceu também no exercício das suas funções de governação do EPI. meiras obras teóricas, nomeadamente o “Tratado da Esfera, por
18 ABRIL 2020